Após do 11/9, muçulmanos olham para si mesmos
"O islamismo prega a paz", dizem eles a todos que se dispõem a ouvi-los, seja em entrevistas coletivas, em reuniões ecumênicas, ou em frente a uma mesquita com o presidente George Bush. Mas cinco anos depois, o alvo de suas lamentações mudou. Agora, os líderes religiosos na América do Norte começam a alertar os muçulmanos sobre a ameaça que vem de dentro.
Os ataques ao metrô de Londres em 2005 que, segundo investigações, foram cometidos por muçulmanos nascidos na própria cidade, e os persistentes ataques sectários promovidos por muçulmanos a civis iraquianos estão entre os eventos que convenceram muçulmanos dos EUA a mudar o foco.
"Este sentimento de negação, que pareceu surgir como uma febre na comunidade muçulmana depois do 11 de setembro está desaparecendo", disse Muqtedar Khan, um cientista político da Universidade de Delaware, autor do livro American Muslims. "Eles perceberam que existem muçulmanos que praticam o terrorismo e a comunidade começa a se opor a isso".
Líderes muçulmanos apontam dois exemplos cabais desta nova percepção: Um canadense muçulmano trabalhou durante meses com a polícia na investigação de um grupo de homens e jovens islâmicos acusados em junho de planejar ataques terroristas em Ontario. Mubin Shaikh disse que temeu que a violência ferisse muçulmanos canadenses e islâmicos.
Na Inglaterra, tem sido informado que a pista de um muçulmano britânico ajudou os investigadores a desbaratar um suposto plano arquitetado por extremistas criados no país de usar explosivos líquidos para destruir aviões com destino aos EUA.
Esta cooperação não é emocionalmente fácil, uma vez que os governos ocidentais acabaram por criminalizar todo o Islã. Safiyyah Ally, um estudante de Ciências Política na Universidade de Toronto, escreveu recentemente no site www.altmuslim.com que Shaikh, o informante canadense, foi longe demais.
Ela disse que a comunidade islâmica norte-americana "é frágil o bastante como está" sem membros "espionando" uns aos outros. Líderes devem aconselhar muçulmanos contra a violência e informar atividades suspeitas à polícia, mas nada mais, argumentou. "Não podemos ter comunidades em que os indivíduos são paranóicos uns com os outros e acabam virando-se uns contra os outros", escreveu Ally.
Ainda assim, alguns líderes dizem que, mantendo sob vigilância os extremistas, todos os muçulmanos estarão protegidos, bem como seus direitos civis. Salam al-Marayati, diretor-executivo do Conselho Muçulmano de Políticas Públicas, um grupo de advogados localizado em Los Angeles, diz que trabalhar de perto com as autoridades significa que os muçulmanos não são pessoas de fora ou que tenham de ser temidas.
Isto ainda dá aos muçulmanos um canal para transmitir suas preocupações sobre como são tratados pelo Governo. "Não estamos em grupos opostos", disse al-Marayati. "Estamos todos tentando proteger nosso país de outro ataque terrorista".
Em 2004, seu grupo iniciou a Campanha Nacional Anti-Terrorismo, clamando aos muçulmanos a monitorar suas próprias comunidades, falando mais abertamente contra a violência e trabalhando com a polícia. Centenas de mesquitas americanas assinaram a campanha, disse al-Marayati.
O Conselho de Relações Muçulmanos-Americanos, grupo de direitos civis, veiculou uma campanha de TV e uma petição chamada "Não em nome do Islã", em que repudia o terrorismo. Centenas de milhares de pessoas endossaram a petição, de acordo com o porta-voz do grupo Ibrahim Hooper.
Depois dos ataque a Londres, o Conselho Fiqh da América do Norte, que aconselha muçulmanos sobre a lei islâmica, publicou uma fatwa declarando que nada no Islamismo justifica o terrorismo.
O Conselho disse que os muçulmanos são obrigados a colaborar com a polícia para proteger civis de possíveis ataques. "Acredito que todo mundo concorda que o silêncio não é uma opção", disse Hooper. "Você tem a obrigação de protestar na defesa de direitos civis, mas também deve protestar contra qualquer violência extremista feita em nome do Islã".
Mas muitos muçulmanos dizem que estão sendo chamados a cuidar de algo que mesmo o Governo americano luta para definir: o que constitui uma ameaça iminente? Khan disse ter ouvido casos em mesquitas americanas em que um imam expressou visões extremas em sermões e seguidores confrontaram-no sobre isto.
"Mas além disso o que podemos fazer?", disse Khan. "Precisamos contratar detetives particulares para seguir este cara? Se cinco caras chegarem para mim e disserem, 'Muqtedar, vamos nos unir. Vamos explodir isso e aquilo, aí eu chamo a polícia. Mas a comunidade não sabe nada sobre vigilância".
O imam Muhammad Musri, chefe da Sociedade Islâmica da Flórida Central, disse que tentou falar sobre este problema nas oito mesquitas sob sua responsabilidade na área de Orlando.
Ele freqüentemente convida policiais para falar com muçulmanos locais e encoraja membros das mesquitas a vir até ele com suspeitas, mesmo que tenham ouvido algo em tom de brincadeira. Musri diz que também conversa regularmente com agentes locais do FBI e da polícia para estabelecer uma relação caso surja uma ameaça real.
"Aqui na Flórida Central, falando com muitas pessoas, vejo que elas estão muito chateadas pelas ações dos muçulmanos - ou dos ditos muçulmanos - na Europa e no Oriente Médio. Elas dizem: "Nós gostaríamos que eles vissem como estamos nos saindo aqui", disse Musri. "Nós sabemos quem é o inimigo real - alguém que possa vir de fora e tentar se infiltrar aqui. Todos estão vigilantes".
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