Países em desenvolvimento devem atuar contra doenças cardíacas
Dietas inadequadas, sedentarismo e tabagismo fazem com que ataques cardíacos e derrames sejam cada vez mais freqüentes nos países mais pobres, afirmaram especialistas no Congresso Mundial de Cardiologia.
"(Essas doenças) causam agora quatro vezes mais mortes entre as mães na maioria dos países em desenvolvimento do que o parto e a Aids juntos", disse o professor Stephen Leeder, da Universidade de Sydney.
"Em todo o mundo, a Aids provoca 3 milhões de mortes por ano —as doenças cardiovasculares causam 17,5 milhões."
Em alguns países em desenvolvimento, o risco de morrer do coração é atualmente muito maior do que em países ricos.
No Brasil, 28 por cento da população morre de ataque cardíaco ou derrame antes dos 65 anos —cerca do triplo da média na América do Norte e na maior parte da Europa.
O avanço econômico da Ásia e da América Latina está criando sociedades em que há simultaneamente desnutrição e obesidade, o que acarreta problemas de saúde em ambos os lados.
Na China, a Organização Mundial da Saúde estima que os prejuízos provocados por doenças cardiovasculares e outras enfermidades crônicas somarão 558 bilhões de dólares entre 2005 e 2015. Na Índia, o prejuízo será de 236 bilhões de dólares; na Rússia, de 303 bilhões de dólares.
Valentin Fuster, presidente da Federação Mundial do Coração, disse que a Organização das Nações Unidas (ONU) deveria assumir a liderança, incluindo o combate às doenças cardíacas, das chamadas Metas de Desenvolvimento do Milênio.
Ele defende que o mundo precisa continuar se preocupando com doenças infecciosas como a Aids e a malária, mas é preciso rever a abordagem geral do atendimento médico.
Muitas medidas para melhorar a saúde cardiovascular da população são simples e baratas, segundo os especialistas.
Programas educacionais sobre tabagismo e alimentação podem ser muito eficazes, enquanto um medicamento básico como a aspirina —que sabidamente pode salvar vidas— custa pouco. Mesmo assim, muita gente nos países pobres não tem acesso nem a esses remédios básicos.
Salim Yusuf, da Universidade McMaster do Canadá, disse que doenças cardiovasculares, que eram virtualmente desconhecidas há cem anos, são inteiramente provocadas pelo homem.
Uma pesquisa recente mostra que mais de 90 por cento dos casos são evitáveis e alguns fatores-padrão são responsáveis pelos ataques cardíacos em todo o mundo: colesterol, hipertensão, tabagismo, má alimentação, obesidade e sedentarismo.
"Temos tratamentos para esses fatores de risco e deveríamos tratá-los", disse Yusuf.
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