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Sábado - 02 de Setembro de 2006 às 16:00

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Um aspecto para lá de curioso pode ser percebido nas tramas de algumas novelas brasileiras. É cada vez mais corriqueira a presença de atores e atrizes que interpretam personagens travestidos. Exemplos de tipos com roupas do sexo oposto não faltam. É o caso da Sarita, de Floriano Peixoto em Explode Coração, a Dona Roma, de Miguel Magno em A Lua Me Disse, e o trio formado por Henaide, Denaide e Mike, de Evandro Mesquita, Kadu Moliterno e Betty Lago em Bang Bang. Atualmente, mais uma vez, duas produções utilizam o recurso. Em Cobras & Lagartos, Luís Melo vive o extravagante Orã - que nas horas vagas se veste de mulher. Já em Malhação, Bernardo Mendes vive o Bodão, que também dá expediente como Ivana.

Mas "encarnar" esses personagens, contudo, não é tarefa simples. É preciso mais do que dedicação, uma vez que os atores têm de abrir mão da vaidade e se acostumar com cílios postiços, perucas, brincos e salto alto, entre outros detalhes. Que o diga o próprio Bernardo Mendes, que gasta cerca de uma hora para se aprontar e ainda não se adaptou aos sapatos femininos. "Fico com os pés 'moídos'. Mas o legal é que passei a ver o mundo de uma maneira diferente, já que fico bem mais alto com o salto", brinca Bernardo.

Sacrifício, aliás, é uma palavra que faz parte da vida de Luís Melo. Para ostentar o visual do travestido Orã, de Cobras & Lagartos, o ator passa mais de uma hora no camarim para "montar" o personagem. Mesmo assim, ele não se arrepende de viver um pai de família que é apaixonado pela esposa Silvana, de Totia Meireles, mas que costuma se apresentar em "inferninhos" vestido de mulher. "No início tive receio de me travestir, pois isso está muito ligado à homossexualidade. Mas depois percebi que é uma grande brincadeira do autor, uma extravagância", opina. Miguel Magno, por sua vez, também conta que ficou assustado num primeiro momento ao saber que interpretaria a Dona Roma, de A Lua Me Disse. Apesar de ter sido batizado Amoroso Valentim, na trama o personagem era um confesso adepto do "cross-dressing" - modismo em pessoas que se travestem com roupas do sexo oposto por puro prazer. "O difícil mesmo era ficar quase uma hora para tirar a maquiagem", ressalta.

A maquiagem, por sinal, realmente costuma dar muito trabalho. Kadu Moliterno conta que "sofria" para viver a Denaide, de Bang Bang, que, na verdade, era o bandido Jesse James disfarçado. O ator lembra que o pior era ter de pintar a parte de baixo dos olhos e colocar cílios postiços. Além disso, outro problema era na hora de "desmontar" a personagem, já que ele perdia mais de 30 minutos para se ver livre da Denaide. "Só então percebi como as mulheres sofrem para ficar belas", pondera. Já Celso Bernini, que em Os Ricos Também Choram, do SBT, vivia o trambiqueiro Hugo e, por isso, precisava se travestir de Josefine para fugir das pessoas que enganava, também não gostava das sessões de maquiagem. Mesmo assim, ele achava graça ao se olhar no espelho quando estava de peruca, vestidos longos e salto alto. "Certa vez, minha namorada foi acompanhar as gravações e me recusou um beijo, pois estava vestido de mulher", reclama.

Sacrifícios bem maiores passou Floriano Peixoto na estréia na tevê. Em 1995, o ator "encarnou" a Sarita, de Explode Coração, da Globo. Para viver o homossexual da trama de Glória Perez, Floriano precisou raspar todo o corpo, cortar as sobrancelhas e pintar as unhas. A experiência, no entanto, foi marcante para o ator. Isso porque ele nunca havia imaginado que um dia fosse viver um personagem como a Sarita. "Pela minha voz e meu porte físico, não achava que convenceria como um travesti. Mas, apesar de tudo, deu certo e foi um ótimo trabalho", destaca.

Eles por elas

Embora seja mais comum a presença de atores que se vestem de mulher, algumas atrizes também já passaram pela experiência de interpretar personagens que se travestiam de homem. A primeira delas foi Bruna Lombardi, que na minissérie Grande Sertão: Veredas, da Globo, de 1985, viveu a Diadorim, mas que se escondia na figura do peão Reinaldo. Além da atriz, Bianca Rinaldi e Betty Lago também já "encarnaram" personagens masculinos. Em A Pequena Travessa, do SBT, Bianca vivia a pobre Júlia, que, para ajudar a família, fingia ser o "office boy" Júlio. Bianca lembra que a maior dificuldade para interpretar o Júlio era a entonação de voz, já que muitas vezes se esquecia que estava na "pele" do rapaz. "Mas foi um trabalho muito prazeroso. Além disso, até o público não sabia se me chamava de Júlia ou Júlio, quando me encontrava na rua", recorda, entre risos.

Já Betty Lago, que interpretava a Calamity Jane e o forasteiro Mike, de Bang Bang, da Globo, confessa que achava graça das trapalhadas do caubói da fictícia Albuquerque. Para dar vida ao "primo" das irmãs Denaide e Henaide, vividos por Kadu Moliterno e Evandro Mesquita, a atriz conta que sofreu um bocado. O principal problema era conviver harmoniosamente com o bigode postiço que Mike ostentava. Outra dificuldade foi dar contornos convincentes para não fazer feio na hora de viver o personagem. "Os trejeitos masculinos também foram bem difíceis de compor", valoriza.

Instantâneas # No humorístico TV Pirata, da Globo, uma das personagens da atriz Cláudia Raia era a presidiária conhecida como Tonhão, uma lésbica que se vestia com roupas de homem.

# No seriado Sexo Frágil, da Globo, os atores Bruno Garcia, Lázaro Ramos, Wagner Moura e Lúcio Mauro Filho também "encarnavam" papéis femininos. # O ator Sérgio Hondjakoff também teve seus dias de mulher na trama de Malhação, onde interpretava o Cabeção. No final de 2004, o ator se travestiu de Verônica, uma menina que chegava ao Múltipla Escolha para alegrar o tristonho Rafa, de Ícaro Silva. # Em Chocolate Com Pimenta, Kayky Brito interpretou a Bernardete, que, na verdade, era um garoto que se chamava Bernardo. Obrigado pela mãe Jezebel, vivida por Elizabeth Savalla, o personagem se vestia de mulher.




Fonte: TV Press

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