Muçulmanos dos EUA são vítimas de crescente perseguição
Suas denúncias incluem desde olhares acusadores e observações racistas até inspeções adicionais em aeroportos e prisões arbitrárias.
Segundo uma pesquisa do instituto Gallup, 39% dos americanos admitem ter problemas com os muçulmanos, e 25% não querem um muçulmano como vizinho.
"A maioria dos americanos não conhece os muçulmanos, a não ser os que trabalham em áreas urbanas. O que sabem é através dos meios de comunicação", assegurou Dawud Walid, diretor da filial em Michigan (norte) do Conselho para as Relações Islâmico-Americanas (CAIR, em inglês). Mesmo que no plano político o presidente George W. Bush tenha se mostrado moderado após os ataques de 11 de setembro, que foram praticados por 19 muçulmanos não-americanos, recentemente adotou uma linguagem virulenta com expressões do tipo "fascistas islâmicos" para classificar a milícia xiita libanesa Hezbollah, destacou Walid.
"Quando os líderes religiosos e políticos utilizam uma linguagem radical há efeitos secundários indesejados", considerou. Nos últimos cinco anos, o CAIR assegura ter registrado um número crescente de denúncias de perseguição, violência e discriminação. Em 2004, essas queixas aumentaram 49%, para 1.522, das quais 141 foram de caráter racista. Segundo Walid, esse número aumentará em 2006.
Osama Abulhassan, de 20 anos, é um dos protagonistas dessas denúncias. Em julho, passou uma semana na prisão, acusado de terrorismo depois de ter sido detido em uma pequena cidade de Ohio (norte) onde ele e um amigo compraram telefones celulares. Ambos nasceram nos Estados Unidos e são filhos de pais libaneses.
"Durante uma semana perguntamos o que fazíamos ali e nos demos conta de que isso pode acontecer a qualquer um", ressaltou o jovem, que vestido com uma camiseta e um gorro se assemelha a um estudante qualquer.
Mas seu nome provoca sobressaltos quando o chamam para entrar na quadra em uma partida de basquete e o estudante teve que se acostumar aos olhares desconfiados quando caminha pela rua.
Abulhassan não estava preparado para isso, nem para ser colocado em uma cela e ver sua foto na televisão entre imagens de atentados no Iraque.
"Nada disto deveria ter ocorrido. Foi totalmente infundado", afirmou o jovem em referência às acusações, que finalmente foram retiradas.
"Apesar disso somos orgulhosos de ser americanos e de nossas origens, mas quando acontecem esses tipos de coisas, mudamos nossa forma de ver (...) Perdi a confiança no sistema judicial", admitiu. No Centro Islâmico Americano (Islamic Center of America) de Dearborn, nas cercanias de Detroit, Imam Sayed Hassan al-Qazwini destacou as mensagens eletrônicas carregadas de ódio cuja virulência não pára de surpreendê-lo.
"Espero que você e seu povo sujo morram. Voltem para casa, cabeças com turbantes", pode ser lido em um deles. Mas para Al-Qazwini, essas cartas são menos preocupantes que as medidas das autoridades americanas. "Os Estados Unidos estão se tornando um Estado Polícia, pelo menos para os muçulmanos", assegurou. "Há um ditado que diz: aqueles que sacrificam a liberdade em nome da segurança não merecem nenhuma das duas", acrescentou.
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