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Internacional
Sexta - 01 de Setembro de 2006 às 05:10

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A venda de sete dos principais jornais russos nos últimos 18 meses é parte de uma campanha de "depuração" da imprensa escrita orquestrada pelo Kremlin, denunciou hoje a União de Jornalistas da Rússia (UPR).

"Somos testemunhas de uma campanha de limpeza da imprensa, em preparação para as eleições legislativas de 2007 e presidenciais de 2008", declarou à Efe Igor Yakovenko, secretário-geral da entidade.

O jornal independente "Kommersant", um dos mais influentes da Rússia, foi a última vítima da "divisão de poderes" entre empresários leais ao Kremlin. O objetivo seria garantir o controle da opinião pública.

"O Kremlin não tem medo da imprensa, e sim de perder o poder, já que, se isso acontecesse, um bom número de autoridades acabaria na prisão", acrescentou Yakovenko.

Após a compra da editora do "Kommersant" pelo magnata do aço Alisher Usmanov, por US$ 200 milhões, "não sobrou nada", afirmou.

O "Kommersant", fundado em 1989 quando a "Glasnost" de Mikhail Gorbachov (política de transparência) era um fato irreversível, tem uma tiragem de 122 mil exemplares. Sua renda líquida foi de US$ 13,1 milhões em 2005.

Usmanov assumiu ainda o controle das revistas "Vlast" e "Diengui". Presidente do grupo Metalloinvest, ele tem o perfil procurado pelo Kremlin. Também dirige a Gazprominvestholding, uma filial da gigante do gás russo, Gazprom.

O magnata, cuja fortuna é estimada em US$ 3,2 bilhões, disse que adquiriu o jornal com seu dinheiro e negou que vá "interferir na política da redação".

No entanto, Yakovenko diz que "Usmanov depende do Kremlin", como todos os grandes empresários da Rússia, por isso a compra foi uma decisão "política".

O multimilionário Boris Berezovski, ex-dono do jornal e hoje perseguido pela Justiça russa, pediu que o futuro proprietário "conserve a independência de ''Kommersant'' em relação ao Kremlin".

O "Kommersant" é uma vitrine para a oposição liberal. Seu controle era um alvo do Kremlin há anos.

A "divisão de poderes" começou em meados de 2005, quando o primeiro jornal independente surgido com a "Glasnost", o "Nezavísimaya Gazeta", passou para as mãos de Konstantín Remchukov, assessor do Ministério de Desenvolvimento Econômico e Comércio.

Pouco depois, outro jornal histórico, o "Izvestia", também mudou de dono, quando seu pacote acionário majoritário foi comprado pela Gazprom. A empresa também é proprietária do jornal "Tribuna", da revista "Itogui" e dos canais de televisão NTV e TNT.

Segundo Yakovenko, o "Izvestia" é hoje "o órgão oficial do partido governante, Rússia Unida", como antes da queda da URSS era controlado pelo Estado soviético.

O "Trud" (Trabalho), antigo órgão dos sindicatos soviéticos, também foi comprado por outro grupo financeiro, o PromSviazKapital.

A revista "Ogoniok", fundada em 1899, foi adquirida por US$ 3,5 milhões por uma companhia de São Petersburgo, cidade natal de Putin.

Em junho, durante o congresso da Associação Mundial de Jornais, (WAN), Mikhail Gorbachov anunciou a compra de 10% da revista quinzenal de oposição "Nóvaya Gazeta". Outros 39% são do banqueiro Alexandr Lebedev.

A "Nóvaya Gazeta" publica textos de Ana Politkóvskaya, prêmio Vázquez Montalbán de Jornalismo Internacional em 2005 e a colunista mais crítica à política de Putin na Chechênia.




Fonte: EFE

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