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Internacional
Quinta - 31 de Agosto de 2006 às 18:42

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A extensa e quase despovoada fronteira entre Brasil e Venezuela se transformou num grande corredor utilizado pelo narcotráfico para movimentar a heroína, uma droga poderosa que, segundo especialistas, pode provocar uma epidemia de dependência no Brasil.

Além do tráfico de heroína, e cocaína, a fronteira entre Brasil e Venezuela também virou caminho para o contrabando incessante da barata gasolina venezuelana, revendida ilegalmente em território brasileiro com enormes margens de lucro.

Preocupadas, as autoridades de Roraima, onde ficam boa parte dos 2.200 km da fronteira entre Brasil e Venezuela, pediram ao governo federal uma melhora urgente no controle fronteiriço.

A polícia da região enfrenta o crime com poucos recursos, apesar de considerar o combate ao tráfico de drogas vital para conter a violência dos grupos organizados.

O candidato à Presidência Geraldo Alckmin, do PSDB, já afirmou que se ganhar a eleição aumentará a vigilância nas fronteiras para conter o narcotráfico. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu várias vezes ao Estado de São Paulo mobilizar o Exército para combater as ações do crime organizado.

Enquanto isso, dezenas de caminhonetes com tanques duplos, carregadas de combustível venezuelano, continuam percorrendo o trajeto entre a fronteira e a capital de Roraima, Boa Vista, onde seus motoristas revendem a gasolina contrabandeada com lucros de 2.400 por cento.

"Estamos pedindo ao governo federal que dê mais atenção à região da fronteira", disse à Reuters Sergio Pillon, secretário das Relações com Países Fronteiriços do Estado de Roraima.

"A infra-estrutura é precária. Os organismos federais trabalham desconectados", afirmou ele, numa entrevista em Boa Vista.

Alguns carros antigos, adaptados para contrabandear combustível, carregam até 500 litros de gasolina, disse o motorista de uma caminhonete parado na BR-174, que tem um asfalto péssimo e liga o Brasil à Venezuela.

CONFISCOS

A Polícia Federal aumentou nos últimos meses o número de apreensões de cocaína e heroína na região, que é de cerrado e habitada por índios, e onde aviões pequenos escapam do controle dos radares voando baixo.

Iván Herrero, diretor-regional da PF em Roraima, disse que a força não tem um helicóptero para vigiar a área, que chamou de um "corredor de drogas" devido às "condições territoriais para que isso ocorra, com áreas enormes, quase despovoadas".

A droga, de origem colombiana, entra no território brasileiro pela Venezuela e segue com destino aos Estados Unidos ou à Europa, segundo a polícia.

"Já fizemos operações detonando dez pistas clandestinas. Dois meses depois elas estavam operando novamente", revelou Herrero, segundo quem a fronteira entre Brasil e Venezuela é mais difícil de vigiar que outras áreas limítrofes do país, como a fronteira com o Paraguai ou com a Bolívia.

Segundo especialistas, o domínio da cocaína nos anos 1980 e 1990 pode ser substituído pelo da heroína, numa mudança no padrão de consumo dos entorpecentes.

A polícia brasileira também detectou o contrabando com origem na Venezuela do medicamento Cytotec, usado como abortivo.

Herrero reclamou da falta de cooperação por parte das autoridades venezuelanas. "Fizemos várias reuniões, mas é difícil pôr em funcionamento os esquemas de cooperação", disse ele, sem dar mais detalhes.

Lesbia Rodríguez, cônsul da Venezuela em Boa Vista, afirmou no entanto que o Exército de seu país tenta controlar a fronteira com rigidez para evitar o narcotráfico.

PREJUÍZOS

As autoridades de Roraima, como Pillon e o deputado Raúl Lima, presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Turismo Brasil-Venezuela, calculam em dezenas de milhões de reais anuais o prejuízo causado pelo contrabando de gasolina à economia do Estado.

A petroleira estatal venezuelana, a PDVSA, abriu em maio um posto de fronteira, no lado venezuelano, para vender gasolina aos brasileiros por 1 real o litro, um terço do preço nas bombas do lado brasileiro.

Mas, como a gasolina é vendida a apenas 10 centavos de real o litro dentro da Venezuela, a instalação do posto não foi suficiente para desencorajar o contrabando.

"Perdemos o controle sobre o contrabando", disse Lima. Para Herrero, "a diferença nos preços é irresistível".

O empresário do setor madeireiro Otto Matsdorff afirmou que, "como em Roraima não há emprego, sem o contrabando seríamos assaltados todos os dias. É uma saída trabalhista".





Fonte: EFE

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