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Internacional
Quarta - 30 de Agosto de 2006 às 08:27

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O Irã corre o risco de sofrer sanções quando a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) decidir, na quinta-feira, se o país ignorou ou não o prazo para suspender um programa de combustível nuclear que, segundo potências ocidentais, pode ser usado para fabricar bombas.

Antes de 31 de agosto, o prazo final dado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o governo iraniano prometeu "nunca" abrir mão do seu projeto nuclear.

O Conselho de Segurança da ONU pediu ao chefe da AIEA, Mohamed ElBaradei, que determine se o Irã atendeu ou não ao prazo fixado na resolução de 31 de julho.

"O teor da decisão é óbvio. Ninguém espera que seja diferente", disse um importante diplomata familiarizado com a agência quando questionado sobre se ElBaradei consideraria que o Irã desobedeceu ao Conselho de Segurança.

Diplomatas disseram que Washington viu no período de 30 dias dado ao Irã uma oportunidade justa para que o país islâmico mudasse de idéia. Caso isso não aconteça, a Rússia e a China poderiam ser convencidas a aceitar a imposição de sanções.

A resposta dada no dia 22 de agosto pelo país islâmico a uma oferta de incentivos elaborada para convencê-lo a abrir mão do programa de enriquecimento de urânio acabou dividindo as seis potências que lidam com o caso iraniano. Em sua resposta, o Irã disse que poderia aceitar a suspensão do programa durante eventuais negociações, mas não como precondição para a realização delas.

Rússia e China defendem a retomada das negociações enquanto dois importantes aliados dos EUA, França e Grã-Bretanha, parecem ter se afastado dos planos norte-americanos de impor sanções no próximo mês.

"A conclusão de ElBaradei sobre o Irã não ter suspendido o enriquecimento de urânio dará uma base para que os EUA, a Grã-Bretanha e a França argumentem em favor das sanções", disse Gary Samore, analista da Fundação MacArthur.

"Mas o Irã decidiu-se claramente por dar continuidade a seu programa, avaliando que o Conselho será incapaz de chegar a um acordo sobre sanções econômicas sérias e de que sanções adotadas fora da ONU (uma possibilidade aventada pelos norte-americanos) não teriam eficácia".

PROTELAÇÃO

A AIEA também avalia a possibilidade de o programa nuclear anunciado oficialmente pelo país islâmico, cuja meta seria a produção apenas de eletricidade, ser uma fachada para esforços de desenvolver bombas atômicas.

A investigação da agência inclui as experiências com plutônio, a participação dos órgãos governamentais no processamento de urânio, os testes com explosivos, um projeto para a montagem de ogivas nucleares e a aquisição, no mercado negro, de peças de centrífuga usadas no enriquecimento.

O relatório de ElBaradei pode afirmar que os iranianos conseguiram paralisar as várias frentes da investigação, afirmou outro diplomata.

Para a AIEA, o Irã não respondeu satisfatoriamente a suas perguntas sobre seu programa nuclear, dizem diplomatas, e, mais recentemente, diminuiu a cooperação com os inspetores da agência para o mínimo previsto pelo Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), patamar esse considerado insatisfatório.

Em agosto, o país islâmico negou um pedido de visto para um especialista da AIEA em centrífugas. Há meses, o Irã não renova os vistos concedidos a inspetores encarregados de monitorar suas instalações nucleares, afirmaram diplomatas que trabalham junto à agência, em Viena.

"ElBaradei deve afirmar, no relatório, que o impacto cumulativo desse comportamento chega perto de impedir a AIEA de realizar até mesmo as inspeções de rotina exigidas pelo TNP", disse Mark Fitzpatrick, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres.

"Quanto menos informação tivermos, quanto mais o Irã restringir o acesso dos inspetores, maior será o grau de incerteza e maior a tendência de os líderes ocidentais trabalharem com os piores cenários", afirmou Fitzpatrick à Reuters.

ElBaradei também dará, ao Conselho de Segurança, informações sobre o programa de enriquecimento de urânio em Natanz. Em abril o Irã, pela primeira vez, purificou urânio até o nível necessário para utilizá-lo em usinas nucleares, um nível considerado baixo. O processo envolveu a utilização de uma cascata e 164 centrífugas interconectadas.

Mas os esforços de enriquecimento tornaram-se mais lentos desde então, provavelmente devido a dificuldades no controle de qualidade, afirmaram diplomatas à Reuters.

"O Irã quase não está purificando urânio neste momento. Eles estão basicamente testando as centrífugas", disse um diplomata. "A diferença entre o que exige o Conselho de Segurança e o que o Irã está fazendo pode ser bastante pequena".

O governo iraniano, que defende a destruição de Israel, diz que sua agenda nuclear é totalmente pacífica e que nunca a utilizará para ameaçar nenhum país.





Fonte: Reuters

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