A prefeitura do Rio de Janeiro deu início nesta terça-feira a um programa de internação involuntária de adultos viciados em crack. Ao menos 30 usuários da droga foram encaminhados para hospitais.
A ação no Rio de Janeiro ocorre 30 dias após o início de medida semelhante na capital paulista. Nesse período, o governo de São Paulo afirmou ter internado 223 pessoas - somente 17 das quais de forma involuntária, com intervenção da família.
As internações cariocas ocorreram por meio de uma operação realizada às margens da avenida Brasil, próximo ao Complexo da Maré, na zona norte da cidade.
A região continuará sendo ocupada por policiais e órgãos municipais por tempo indeterminado, em uma tentativa de impedir que os dependentes voltem a se concentrar no local.
Até o momento, a prefeitura afirmou ter realizado 30 internações involuntárias de adultos usuários de crack.
Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde e Defesa Civil, no entanto, entre as "internações involuntárias" estariam 29 viciados que, após serem encaminhados para uma central de triagem, teriam sido "convencidos" pelas equipes de saúde de que a internação seria necessária.
Em outro caso, uma mulher que estava com a saúde debilitada foi levada de ambulância diretamente da região da Cracolândia para o hospital. Ainda de acordo com a secretaria, não houve nenhum usuário que tenha oferecido resistência ao ser encaminhado para o hospital.
De acordo com a prefeitura, embora não tenham sido internados, outros 69 usuários de crack retirados da região foram levados para um abrigo, onde recebem tratamento ambulatorial.
Esta é a primeira vez que a prefeitura do Rio de Janeiro adota a prática de internação involuntária de adultos dependentes de crack. Desde 2011, no entanto, menores apreendidos em operações contra o crack na cidade já vinham sendo internados compulsoriamente.
Para a operação desta terça-feira foram mobilizadas mais de 300 pessoas, entre elas médicos, psicólogos e assistentes sociais, além de homens da Guarda Municipal, Polícia Militar, Bope (Batalhão de Operações Espaciais), Tropa de Choque e Polícia Civil.
Em uma tentativa de evitar acidentes como o que matou uma criança durante uma operação contra o crack em janeiro, a avenida Brasil foi fechada ao trânsito por 30 minutos para a ação.
São Paulo
Ao contrário do que aconteceu em São Paulo durante a ação contra a Cracolândia, no início deste ano, no primeiro dia de operação no Rio não houve nenhum caso de famílias que pediram a internação de parentes dependentes, segundo a prefeitura.
Tanto no Rio como em São Paulo, a Justiça não precisou até hoje intervir para determinar internações compulsórias de viciados.
Após divulgar nesta terça-feira um balanço sobre o programa de combate ao crack em São Paulo, o governado Geraldo Alckmin ressaltou a participação de familiares em internações involuntárias.
"É um momento novo, de esperança, trabalho conjunto com as famílias para o tratamento da dependência química e o novo plano de vida, o novo trabalho para os pacientes com as famílias", disse Alckmin.
Internação
A eficácia da internação involuntária e compulsória de usuários de drogas divide médicos, além de suscitar críticas de alguns juristas quanto à sua legalidade.
Para a professora Magda Vaissman, psiquiatra e pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, a internação é importante para o tratamento de usuários de crack, mas ela deve ser acompanhada por medidas para a reinserção do dependente na sociedade.
"O paciente às vezes está tão alterado, está tão doente, que o senso crítico, o juízo de realidade dele, está comprometido. Fere a liberdade individual, fere, mas você não pode deixar o paciente se suicidar", disse a psiquiatra, que compara a medida à internação de um paciente que está tendo um surto de esquizofrenia.
Ela aponta, no entanto, que é preciso haver um trabalho de acompanhamento do paciente após a internação. "O problema das internações em adultos é que infelizmente não há remédio para crack. Então, o paciente é sedado, mas se não for feito um trabalho de reabilitação e reinclusão social, o índice de recuperação é muito baixo".
"Você tira o usuário da rua e quando ele retorna, volta a usar. Então você tem que ter programas muito bons extra-hospitalares atrelados à internação", disse.
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