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Internacional
Segunda - 28 de Agosto de 2006 às 09:27

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A jovem austríaca que passou mais de oito anos em uma cela subterrânea, até sua fuga na semana passada, afirmou nesta segunda-feira que ela sente não ter perdido nada durante o período em que ficou presa. Natasha Kampusch ainda chamou seu seqüestrador de "parte de sua vida".

Em observações lidas a repórteres por um psicólogo, a menina de 18 anos disse estar consciente da "forte impressão" que seu caso criou, e como está reagindo desde que recuperou sua liberdade na última quarta-feira. Mas ela pediu aos jornalistas "por favor, me deixem sozinha por um tempo".

"Todos querem me fazer perguntas íntimas, mas isso não diz respeito a ninguém", disse Kampusch. "Talvez um dia eu conte a um terapeuta, ou a outra pessoa que eu sinta a necessidade. Ou talvez nunca. A intimidade só pertence a mim."

A polícia afirmou na segunda-feira ter apenas começado a perguntar sobre o seu seqüestro, em março de 98, quando ela tinha 10 anos, por Wolfgang Priklopil, que se matou horas após a fuga da jovem, ao se jogar na frente de um trem.

Ela fugiu quando Piklopil estava ocupado falando no celular, e desde então está em local seguro e confidencial.

O major da polícia Gerhard Lang, do escritório de investigação de crimes federais disse que investigadores continuam a seguir "cada pista" do caso, que até a semana passada era um dos grandes crimes misteriosos não resolvidos da Áustria.

Como a planta da casa em Viena onde Kampusch foi mantida não foi encontrada, investigadores ainda não conseguiram dizer com certeza se há outros quartos secretos, afirmou Lang. Apesar das autoridades terem divulgados fotos e vídeo da pequena cela sem janela no porão onde Kampusch foi mantida, ela se referiu simplesmente como "meu quarto" em sua declaração, lida pelo psicólogo Max Friedrich.

"Era o meu quarto, e não era para o público vê-lo", escreveu Kampusch. "Eu não chorei após a fuga. Não havia razão para lamentar. Ao meu ver, sua morte não teria sido necessária", afirmou a jovem.

"Ele era parte da minha vida. É por isso que eu lamento por ele de certa forma."

A jovem disse ainda que Priklopil às vezes a tratava muito bem, mas outras vezes a tratava muito mal. "Mas ele pegou a pessoa errada para discutir." Investigadores tentam determinar se Priklopil tinha um cúmplice, já que uma testemunha afirmou ter visto dois homens colocando a menina dentro de um carro. Mas Kampusch sugeriu que Priklopil agiu sozinho. A menina disse ainda que eles decoraram o "quarto" juntos. A princípio eu não tenho o sentimento de que perdi alguma cosa", afirmou, em referência à sua adolescência, que ela entende ter sido diferente da adolescência das outras pessoas.

A menina afirmou ainda ter sido poupada de algumas coisas como começar a fumar, a beber, ou de ter "falsos amigos".

Em um dia normal, ela tomava café da manhã com Priklopil, que geralmente não trabalhava, disse a jovem. O resto do dia ela passava fazendo "trabalhos domésticos, lendo, TV, conversando, cozinhando. Assim foi por anos. Tudo ligado ao medo da solidão", afirmou. Kampusch pediu mais respeito por parte da mídia e avisouque tem um advogado.

Friedrich apelou aos jornalistas a mostrar respeito, dizendo que a jovem estava traumatizada, e que a cobertura intensa da mídia estava a vitimizando novamente. Kampusch disse que ela mesmo decide quando irá falar com jornalistas. "Muitas pessoas estão tomando conta de mim", escreveu.





Fonte: Folha Online

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