Safra de dados desfavoráveis a Lula deve persistir
Na variação em 12 meses (segundo trimestre de 2006 comparado a igual período de 2005), a expectativa é a de um crescimento oscilando entre 1,4% e 2,8%. No primeiro trimestre, a variação foi de 3,4%.
Os números do PIB irão se juntar a outros dados desfavoráveis (veja quadro ao lado), como os do mercado de trabalho divulgados pelo IBGE na semana passada, que mostraram aumento do desemprego e queda da renda em julho. No entanto, para a maioria dos analistas ouvidos pela Folha, esses indicadores não representam piora no estado geral da economia.
"Não vejo um cenário tão complicado. O que existem são amarras estruturais", afirmou o diretor para mercados emergentes do Goldman Sachs, Paulo Leme. "Por mais oxigênio que tenha sido dado pelo setor externo e pelas condições internas do primeiro semestre, o Brasil está próximo do seu crescimento potencial. O país teria dificuldades de sustentar qualquer expansão acima de 4% ou 4,5% ao ano."
A desaceleração da atividade econômica do segundo trimestre, segundo analistas, é uma imagem que fica no retrovisor. Olhando para a frente, o quadro já começou a virar. "O que puxou a desaceleração do PIB no segundo trimestre foi a queda da produção industrial, que já mostrou recuperação em julho", diz Braulio Borges, economista da LCA Consultores.
Para Fábio Silveira, economista da RC Consultores, o PIB do segundo trimestre ainda reflete o movimento de alta de juros, que ficou para trás, e o câmbio valorizado.
Embora a taxa básica de juros caia desde setembro passado, os economistas dizem que seu efeito sobre o nível de atividade demora ao menos seis meses. Assim, segundo ele, o crescimento do PIB no segundo trimestre deste ano vai refletir a taxa média de juros praticada no terceiro trimestre de 2005, de 19,75% ao ano.
Para o economista Armando Castellar, a tendência do Copom (Comitê de Política Monetária) para os próximos meses é a de cortes parcimoniosos na taxa de juros. "O Banco Central já fez uma redução grande nos últimos meses, há um aumento de demanda encomendado que ainda não apareceu nos indicadores", ponderou ele. "O governo liberou água. Agora vai esperar e analisar o nível do rio antes de abrir novamente as comportas."
Mercado de trabalho
Para a maioria dos economistas, o aumento da taxa de desemprego de junho para julho --foi de 10,4% para 10,7%-- e a queda de 0,7% no rendimento real no período ainda não indicam uma deterioração do mercado de trabalho.
"Matematicamente, alterações na taxa de desemprego são resultado do movimento relativo da população economicamente ativa e da população ocupada", diz o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. Em julho, a PEA cresceu 3,6% em relação a igual período de 2005, e o número de ocupados, apenas 2,1%. Foi o que pressionou a taxa de desemprego do IBGE.
Na análise do banco, a expansão inusitada da PEA (População Economicamente Ativa) em julho pode ter sido provocada pela redução do chamado "desalento" --pessoas que haviam desistido de buscar emprego e voltaram ao mercado.
O economista e professor da Universidade de Campinas Claudio Dedecca tem uma avaliação distinta. Para ele, o achatamento da renda e a diminuição do emprego em julho indicam que "a economia brasileira está amarelando". "Com aumento do salário mínimo, corte nos juros e elevação dos investimentos públicos e privados, era de se esperar um desempenho melhor", disse ele. "Acredito em esgotamento da capacidade de endividamento do brasileiro", afirmou. "Se for assim, 2007 poderá ser um ano preocupante."
Sinais de alerta
Ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, Luiz Carlos Mendonça de Barros também vê sinais de alerta. Um dos motivos de preocupação, disse, é o fato de as importações estarem ganhando espaço por conta do dólar barato.
Ele observa que, se por um lado a compra de produtos estrangeiros fica mais atraente, por outro é difícil para os empresários brasileiros competirem com produtores asiáticos, em especial os da China, onde a taxa de câmbio é administrada.
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