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Internacional
Quarta - 23 de Agosto de 2006 às 15:35

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Nos nove dias que se seguiram ao sequestro de dois jornalistas do canal de televisão norte-americano Fox News na Faixa de Gaza, um dos aspectos mais notáveis do caso revelou ser o relativo silêncio a respeito do crime, tanto na região palestina quanto em grande parte dos meios de comunicação.

Apesar de um grupo antes desconhecido, as Brigadas da Jihad Sagrada, ter assumido a responsabilidade pelos sequestros na quarta-feira e ter dado um prazo de 72 horas para que os EUA libertem prisioneiros muçulmanos, o mistério e a polêmica continuam cercando o sequestro.

O grupo não disse o que fará caso os norte-americanos deixem de atender a suas exigências. O norte-americano Steve Centanni, 60, correspondente da Fox, e o cinegrafista freelance Olaf Wiig, 36, nascido na Nova Zelândia, foram capturados por homens armados na cidade de Gaza no dia 14 de agosto. O sequestro já se transformou no mais longo a acontecer na região em mais de um ano.

Casos anteriores do mesmo tipo — houve ao menos sete envolvendo estrangeiros desde agosto de 2005, quando as forças israelenses retiraram-se da Faixa de Gaza após 38 anos de ocupação — terminaram após algumas horas ou, no máximo, alguns dias.

Além do tempo de duração do sequestro, o que chama atenção agora é a relativa falta de informações sobre as Brigadas da Jihad Sagrada — normalmente, grupos militantes conhecidos assumiram a responsabilidade pelos sequestros e fizeram exigências simples, algumas vezes pedindo apenas empregos.

Especialistas estrangeiros da área de segurança dizem estar desnorteados com o caso envolvendo a Fox, caso esse que levou diplomatas dos EUA a aconselharem jornalistas britânicos e norte-americanos a evitarem a Faixa de Gaza devido a uma "ameaça palpável" de que novos sequestros aconteçam.

Enquanto a mulher de Wiig, a ex-apresentadora da BBC World Anita McNaught, viajou para a região a fim pedir pela libertação dos reféns, a Fox quase não tem se manifestado sobre o caso.

Um funcionário do canal em Jerusalém mandou que a reportagem da Reuters entrasse em contato com o departamento de relações públicas da empresa nos EUA. Esse departamento, porém, não retornou os telefonemas.

O surgimento, na quarta-feira, de uma exigência e de um vídeo com os dois reféns pode ampliar a cobertura do caso, mas, até agora, e talvez em parte pela relutância da Fox em se pronunciar, o silêncio tem sido a regra.

CONFUSÃO

Nos EUA, a relativa falta de notícias a respeito do sequestro alimenta um debate sobre se a Fox, acusada por alguns de ser uma emissora de direita, vem sendo boicotada pelo resto dos meios de comunicação, tidos normalmente como mais esquerdistas.

Blogueiros e analistas de meios de comunicação observaram que, quando um jornalista estrangeiro é sequestrado em locais como o Iraque, há uma cobertura quase abusiva a respeito do assunto, como aconteceu, por exemplo, com a repórter Jill Carroll.

Mas, neste caso, a cobertura tem sido pequena.

"A suspeita mais comum entre meus leitores é de que entrou em cena um tipo de preconceito contra o canal Fox News", escreveu Michelle Malkin, uma jornalista freelance que mantém um blog de monitoramento dos meios de comunicação (www.michellemalkin.com).

Em um post colocado no Poynter (www.poynter.org), um fórum sobre mídia, um crítico de TV do jornal San Diego Union-Tribune sugeriu que o aparente desinteresse pelo caso era culpa da Fox.

"Não há uma ausência de boa vontade ou uma falta de companheirismo dos outros meios de comunicação em relação à Fox", escreveu Bob Laurence.

Jornalistas que trabalham no Oriente Médio começaram a se pronunciar no debate, afirmando que, se há uma falta de cobertura, isso se deveu antes ao fato de os correspondentes estarem ocupados demais com a guerra no Líbano.

"Certamente são ofensivas quaisquer sugestões de que os repórteres dariam as costas para um colega em dificuldades só porque trabalham para um determinado meio de comunicação", escreveu Dion Nissenbaum, chefe do escritório da McClatchy Newspapers em Jerusalém no Poynter.





Fonte: Reuters

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