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Internacional
Quarta - 23 de Agosto de 2006 às 08:33

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Uma iraquiana curda disse durante o julgamento do ex-ditador Saddam Hussein, na quarta-feira, ter sofrido queimaduras terríveis e ter perdido três filhos quando aviões bombardearam o vilarejo dela com armas químicas.

"Perdi a visão. Minhas crianças perderam a visão. Minha casa ficou destruída. Que Deus cegue vocês", disse Adiba Owia Bayez, apontando para o ex-presidente iraquiano e seis co-réus no terceiro dia do julgamento deles.

Descrevendo aquele dia da primavera de 1987, Bayez, de 45 anos, mãe de cinco filhos, afirmou que os aviões jogaram as bombas atrás da casa dela e que notou imediatamente uma diferença em relação aos ataques anteriores.

"Nós sentimos um cheiro estranho. Um cheiro de maçã podre. Minha filha Nargis afirmou sentir dor na barriga e nos olhos. Ela vomitava. Todos os meus filhos vomitavam. Eu também me senti assim e comecei a vomitar", contou.

O depoimento da mulher junta-se ao de outras duas pessoas que já compareceram à Justiça para descrever aquele 16 de abril de 1987, quase um ano antes do lançamento oficial da operação Anfal (Espólios de Guerra) no vale Balisan, ao norte de Sulaimaniya.

Bayez, mulher da primeira pessoa a testemunhar no julgamento, Ali Mustafa Hama, afirmou ter sofrido dois abortos e que um filho dela morreu aos 3 meses de idade depois daquele ataque.

Saddam e Ali Hassan al-Majid, primo do ex-ditador, são acusados de genocídio devido à operação de sete meses. Majid ganhou o apelido de "Ali Químico" depois dos ataques com bombas de gás contra o norte iraquiano.

Os outros réus, que tentam convencer a corte de que os ataques haviam sido uma operação militar legítima contra curdos iraquianos que haviam se aliado ao Irã na guerra entre os dois países, são acusados de crimes de guerra. Todos podem ser condenados à pena de morte.

PELE DESCASCADA

Bayez disse que, finalizado o bombardeio, um helicóptero atacou os moradores do vilarejo que fugiam para as montanhas. Os que escaparam se abrigaram nas cavernas.

"Estávamos feridos, doentes, mas, mesmo assim, nós fugimos. Nesse momento, eu vomitava sangue. Meus filhos estavam cegos. A pele do meu corpo estava em carne viva", contou durante o julgamento, falando em curdo e usando um vestido preto tradicional.

Os soldados de Saddam não demoraram muito para os encontrarem e os enviarem para Arbil, onde foram mantidos sem receber tratamento médico até serem mandados para outro lugar.

"Depois de nove dias, os guardas disseram: ''Todos os feridos devem ir para o pátio do centro de detenção''. Eu gritava por causa da queimadura em minha perna. Eu não conseguia andar. Meu corpo estava em carne viva, o corpo dos meus filhos estava em carne viva", afirmou a mulher.

Depois de fotografar os curdos capturados, os homens foram separados e levados embora. As mulheres e as crianças foram transportadas de volta para a zona rural.

"Saddam Hussein tem sido injusto com o povo curdo. Eu protesto contra todas essas pessoas que estão na jaula", disse, referindo-se ao cercado onde ficam os réus.

Na segunda-feira, o ex-ditador não quis declarar-se inocente ou culpado e acusou a corte de ser um instrumento da ocupação norte-americana. O juiz encarregado do caso, um xiita, registrou uma declaração de inocência em nome do acusado.





Fonte: Reuters

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