Vice da Bolívia chega ao Brasil ´para negociar gás´
Foi o que afirmaram os assessores do governo do presidente boliviano Evo Morales à BBC Brasil. García Linera tem encontro marcado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e das Minas e Energia, Silas Rondeau, e com o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
A viagem ocorre quase quatro meses depois do decreto que nacionalizou os hidrocarbonetos na Bolívia.
Nacionalização atrasada Segundo parlamentares do partido opositor boliviano Podemos, a nacionalização ainda não saiu do papel e contribuiu para afastar a Bolívia do Brasil, que é seu principal parceiro econômico.
Na semana passada, ao falar no Congresso Nacional, o ministro de Hidrocarbonetos, Andres Soliz Rada, acusou a Petrobras de ser a "responsável" pelo atraso na nacionalização boliviana, já que a empresa brasileira não aceitaria discutir o ajuste no preço e mudanças na fórmula de cálculo do produto vendido ao país.
Após quatro reuniões entre Brasil e Bolívia que terminaram em impasse, técnicos dos dois países voltam a se encontrar no dia 14 de setembro.
Sem os recursos que esperava conseguir com o aumento do gás, o governo Morales não consegue colocar a estatal YPFB (que foi criada com a nacionalização) em funcionamento pleno, como gestora das empresas nacionalizadas, como admitiu um diplomata boliviano ligado a Morales.
"Ainda estamos dentro do prazo de 180 dias para concretizar a nacionalização", afirmaram assessores do Ministério de Hidrocarbonetos. O prazo limite é novembro deste ano.
Problemas internos A viagem do vice-presidente a Brasília ocorre "num momento difícil" das relações entre os dois países e "politicamente delicado" para o próprio García Linera, afirmaram diplomatas brasileiros à BBC.
Intelectual de esquerda que aderiu ao MAS (Movimento ao Socialismo), partido de Morales, e que, publicamente, apóia todas as iniciativas do presidente, García Linera é definido por analistas bolivianos como "mais conciliador" que seu chefe. Por vezes, os dois divergem sobre as políticas do país.
"Ele não é pró-Brasil, mas não é contra o Brasil - como Soliz Rada - e também não é duro como Morales", afirmou um negociador brasileiro.
"O Brasil deveria aproveitar a evidente fragilidade da Bolívia e sua nacionalização que está travada para impor seus próprios desejos e exigências, pedindo maior cuidado com a Petrobras", afirmou o negociador.
A Petrobras é o maior investidor na Bolívia, onde possui, entre outros negócios, duas refinarias - a São Alberto e a São Antonio.
Era esperada para o próximo mês uma visita oficial de Morales a Brasília, a convite do presidente Lula. Mas até agora nenhum dos dois governos confirmou a visita.
"Essa visita poderia acabar atrapalhando a agenda de campanha do presidente Lula", afirmou um interlocutor do governo Lula. "Talvez não seja o momento de colocar a discussão do gás na campanha eleitoral brasileira."
Comentários