Reprovação no concurso e no mercado
Aproveito uma frase-conceito do artigo “100% de reprovação”, escrito pelo advogado cuiabano Eduardo Mahon: “Os 100% de reprovação são recebidos como sinal vermelho para as faculdades e cursinhos de formação, mas sinal verde para a compostura do órgão de promoção que é o TJMT. Quanto mais estreito é o acesso, mais limitado o caminho, mais remota a chance, mais empenho cobrado, maiores os méritos do juiz. Este será sempre um merecedor de admiração. Parabéns aos que venceram e aos que vencerão: está mais que provado a maior concorrência é consigo próprio”.
Em 2004 em concurso para promotor de justiça em Mato Grosso, só um candidato residente no estado foi aprovado. Os demais vieram de outros estados. No concurso anterior do mesmo Tribunal de Justiça, 38 dos 50 candidatos aprovados vieram de fora. No concurso do Tribunal Regional do Trabalho, não foi diferente.
A maioria dos cargos de gerência e de técnicos das empresas que trabalham com excelência, são preenchidos por gente recrutada fora. No entanto, no estado há enorme excedente de mão-de-obra. Mas inversa quantidade de recursos humanos. Alguma coisa está errada!
Na lista dos erros estão os alunos muito pouco comprometidos com o curso. Até porque chegam tão mal-alfabetizados que não compreendem a lógica das ciências e nem das técnicas. De outro lado, as escolas dançam conforme da dança dos alunos. Então, temos: um que dorme e o outro que acalenta o seu sono!
Na área do Direito, os exames da OAB reprovam mais de 70% dos graduados. É ainda o jovem, mas experiente, advogado Eduardo Mahon quem define bem essa situação do concurso que reprovou todos os inscritos: “Qualquer dificuldade teórica não se compara com a vivência de um magistrado no interior açodado com petições as mais inovadoras, fundamentadas e ousadas dos advogados bem preparados. E o que dizer dos juízes mais calejados de entrâncias especiais que lidam com causas dificílimas, de incontáveis volumes e múltiplos interesses no tabuleiro jurídico? Uma pequena derrapagem do magistrado em meio a milhares de processos já é o bastante para que um advogado diligente pontue a nulidade havida e garanta a recomposição do direito processual ferido. É pressão demais para os inaptos”.
Outros concursos que tivessem a mesma visibilidade como o de juiz de direito, certamente mostrariam calamidades semelhantes.
Talvez seja o momento de invocar o personagem Otelo de Shakespeare, em “Hamlet”: “há algo podre no reino da Dinamarca”.
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
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