Kalapalos realizam cerimônia indígena do Kuarup no Xingú
O Kuarup é celebrado uma vez ao ano por até nove etnias que fazem parte do Alto Xingu. O ritual serve para homenagear os mortos. Cada membro falecido é representado por um tronco de madeira, denominado Kuarup, que passa por um longo ritual, antes e durante a cerimônia. Este ano foram enfeitados três troncos que representaram os mortos ilustres.
O índio Milton Kalapalo (fucionário da Funai) foi na aldeia para homenagear o irmão que morreu (representado por um dos troncos). “É difícil para o cacique morrer, por isso o Kuarup é uma vez por ano”, disse. Emocionado, Milton contou que, quando os índios entram nas ocas tocando flauta com as mulheres os acompanhando, significa que é “para a tristeza ir embora”.
O antropólogo João Veridiano, da Universidade de São Paulo (USP), assiste à cerimônia desde 2004. Ele não só prestigia como convive com os índios durante temporadas de três meses ao longo do ano, para pesquisar os grupos. Segundo o antropólogo, o Kuarup é uma comemoração da criação do mundo e do homem, e ao mesmo tempo é um ritual de perda de um membro da sociedade indígena. “A cerimônia expressa como eles têm uma visão de mundo distante da nossa. Para eles, o ser humano foi esculpido da madeira”, completou.
Cada ano a celebração é feita em uma aldeia. Além dos 566 índios que fazem parte do grupo Kalapalo, mais de mil índios de outras etnias participaram do ritual. Os preparativos para o Kuarup ocorrem durante todo o ano. É a segunda vez que a secretária de Turismo Yêda Marli participa do Kuarup. "Para mim é uma grande alegria. Mesmo assistindo pela segunda vez, continuo me surpreendendo com toda esta cultura e tradição indígena", destacou.
São várias as etapas da cerimônia. No sábado (19.08), pela manhã, os troncos (Kuarup) receberam a decoração indígena. Foram utilizados fios de lã e barbante coloridos, penas e, para as pinturas, carvão e urucum. Ao entardecer os índios cantaram e bateram os pés no chão em volta dos Kuarup. Depois de danças e cantos, ao anoitecer os outros grupos chegaram até a aldeia para, juntos, chorarem pelos mortos. Este ritual seguiu até a madrugada. No dia seguinte, ocorreram as lutas entre os grupos.
Para o psicólogo Giovane Gomes de Farias Alves, de Brasília (DF), que participa pela primeira vez da cerimônia, conhecer diferentes culturas é sempre um aprendizado. “Achei os índios muito amistosos e receptivos”, afirmou.
E não foram apenas turistas que conheceram pela primeira vez o ritual. O índio Paulinho, da etnia Bororo, da aldeia Meruri (próxima ao município de Barra do Garças), contou que nunca havia assistido à celebração. “Assim que me viram, me convidaram para participar”, disse. Paulinho ficou impressionado com a receptividade dos Kalapalos. “Eles dão liberdade para receber a gente”.
Grupos internacionais de televisão, como a BBC de Londres e a TV Nacional do Chile, acompanharam todo o evento. A primeira veio com um grupo de atletas de várias modalidades que estão percorrendo o mundo para se submeterem a desafios esportivos. Eles acompanharam toda a luta dos índios e competiram com eles também. O programa funciona como um reality show. A TV do Chile estava gravando mais um episódio de um programa seriado. Pesquisadores da USP e do Museu do Índio de Campo Grande, ligados à Universidade Católica Dom Bosco (UCCB), também estavam presentes.
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