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Cidades/Geral
Quinta - 17 de Agosto de 2006 às 19:05

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A sala de espera de uma UTI há sempre uma família angustiada que se sente impotente para ajudar seu familiar. A internação hospitalar, com visitas limitadas, gera no paciente um sentimento de abandono, além de ser um lugar geralmente frio. Sem contar a possibilidade de propagação de infecção hospitalar. “Por todas essas desvantagens da internação hospitalar, estamos tentando quebrar o paradigma de que a morte é feia e vem acompanhada de muito sofrimento. A morte pode ser bonita, pode chegar tranqüilamente, em paz”, afirma Ildete Alves de Oliveira, psicóloga da equipe Home Care da Unimed Cuiabá e uma das autoras do Programa de Incentivo Familiar ao Óbito Domiciliar, criado em maio de 2005.

O programa está dando resultados. Em janeiro do ano passado, foram registrados sete óbitos, sendo somente um no domicílio, enquanto que em setembro do mesmo ano de seis óbitos, quatro foram no domicílio. Segundo Ildete, muitos familiares e cuidadores nunca presenciaram a morte e geralmente a temem. “ Mas quando os sintomas estão bem controlados e o vínculo com a equipe se torna uma relação de confiança, as famílias passam a vislumbrar essa possibilidade”, afirma.

A finalidade do Programa de Incentivo Familiar ao Óbito Domiciliar é atender e assistir de forma integrada aos familiares e pacientes, que apresentam patologias crônicas, consideradas fora de possibilidade terapêutica pelos médicos assistentes. “Contribuímos para a desospitalização e oferecemos um atendimento mais humanizado a essa clientela”, afirma Ildete. Ela explica que os cuidados paliativos não prolongam a vida, nem tampouco aceleram a morte. “A medicina paliativa objetiva o controle da dor e, conseqüentemente a melhoria das condições de vida dos pacientes com doenças progressivas e irreversíveis”, diz. Ildete explica que o foco de atenção do Programa de Incentivo Familiar ao Óbito Domiciliar se volta a tríade paciente, família e cuidador, sempre tentando resgatar a dignidade humana e amenizar o sofrimento. As condutas médicas, trabalho da enfermagem, medicamentos e exames somam-se ao trabalho do psicólogo, que favorece a manifestação dos medos e fantasias do paciente, estimula sua participação no tratamento. “O paciente expõe sentimentos como, angústia, desesperança, mudanças estruturais na sua relação com a vida e também sobre a expectativa de morte”, diz. Segundo Pioter Antonito Gomes Ferreira, enfermeiro, sempre a equipe do Home Care assiste a evolução do óbito. Ele explica que o técnico de enfermagem que acompanha o paciente na residência está capacitado à promover cuidados paliativos com postura ética, tendo como objetivo realizar procedimentos específicos pós óbito tais como: higienização, retirada de cateteres e tamponamento, como também a realização da postura física do corpo. A família também é orientada com relação aos procedimentos burocráticos para providenciar velório e sepultamento. Essa orientação é muito importante nessa hora”, afirma lembrando que a assistência aos familiares continua. A psicóloga Ildete visita as famílias após o falecimento dando suporte psicológico na elaboração do luto. Na opinião da psicóloga, trabalhar o evento Morte está longe de ser uma tarefa simples. “Exige dos profissionais compromisso, disponibilidade e responsabilidade. Por outro lado, a experiência é enriquecedora, ensinando-nos novos valores a cada dia e a cada caso”, conclui. Familiares descrevem a morte em casa Óbito domiciliar assistido tranqüiliza família “Me sinto muito mais confortado sabendo que haviam pessoas da família com o meu pai no momento de sua morte”, afirma o psicólogo Célio Helí Batista, filho de seu Antonio Batista, 77 anos, falecido em casa, há 15 dias. “Apesar da morte ser um momento solitário, acredito que deve ser uma coisa muito boa, uma passagem para algo bem mais elevado”, ressalta. Ele descreve os últimos momentos de vida do pai. “Ele apertou os olhos e parou de respirar. Parece que alguém chegou no ombro dele e disse ‘é agora, chegou a hora’. Foi muito tranqüilo”. A viúva dona Joana D’Arc Brito Batista, 70 anos, assim descreve a morte do marido. “Parecia que ele dormiu e partiu. Em silêncio, tranqüilamente”. “Vemos nascer, temos que ver morrer”, ensina. “Não há dúvidas que morrer em casa é muito melhor”, ressalta. Dona Joana tem aversão a hospital depois que acompanhou seu Antonio, hospitalizado por sete meses. Ele já havia permanecido um mês na UTI, um mês no quarto e 10 dias em casa, depois de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Há um ano estava internado no domicílio, assistido pela equipe do Home Care. “Aqui em casa ele tinha o carinho dos dois filhos e dos cinco netos”, afirma ressaltando que prometeu ao marido não deixá-lo voltar para o hospital. “Eu dizia a ele: vamos cuidar de você aqui em casa até sarar”, lembra. Para Araci Borges Rondon, empresária lojista, o óbito em casa é muito mais humanizado e a qualidade dos últimos dias de vida da sua tia, Dona Gentila Serra, falecida aos 85 anos, em março, não seria a mesma sem a assistência da equipe do Home Care. “Foi essencial para ela e para nós”, afirma. Antes de ser acompanhada pela equipe do Home Care, Araci temia o momento da morte da tia. “Tinha medo que ela morresse sozinha comigo. No fundo, ninguém está preparado para isso, mas a equipe do Home Care nos deu segurança”, afirma. Araci nunca tinha visto ninguém morrer antes e por isso ficava pensando como seria. “Será que ela vai agonizar, sofrer? Mas a morte dela foi mais tranqüila do que esperávamos. Eu estava segurando a mão dela, meus irmãos chegaram antes e toda a família estava a sua volta, rezando. A equipe do Home Care também estava conosco: técnico de enfermagem, nutricionista, psicóloga, enfermeiro. Ela foi partindo aos poucos, em paz”, descreve Araci. De acordo com a sobrinha, a presença da equipe do Home Care no momento do óbito não deixou dúvidas em relação a melhor conduta. “Se estivéssemos sozinhos poderíamos pensar em levá-la para a UTI. Em casa ela não sofreu e não foram os médicos que nos disseram, nós vimos. Essa é a grande diferença para um óbito na frieza de uma UTI, onde o paciente morre sozinho, sem a presença da família”, ressalta. A sobrinha conta que Gentila era solteira e sempre morou com a irmã. “Então, era uma segunda mãe”. Há 10 anos dona Gentila, que era diabética, perdera a visão depois de ser submetida a cirurgia de catarata. “Ela não aceitou a cegueira e foi ficando deprimida. Dizia que enxergava, mas sabíamos que não era verdade”. Por seis anos dona Gentila foi assistida por uma cuidadora de confiança, que entrou de férias no carnaval, justamente quando piorou o seu estado clínico. Foi então que a família procurou o serviço de internação domiciliar da Unimed Cuiabá. “Da primeira vez que vimos o Home Care, assustou um pouco. Todo o esquema hospitalar, equipamentos, balão de oxigênio... mas depois temos certeza que o melhor está sendo feito para a pessoa que temos tanto carinho”. Araci acredita que a morte em casa proporciona mais dignidade ao paciente. “Espero não precisar do Home Care tão cedo, mas se precisar, sei que posso contar com a equipe da Unimed Cuiabá. Criamos vínculos afetivos com toda a equipe porque esses profissionais fizeram parte de um momento difícil das nossas vidas”, conclui.





Fonte: Pau e Prosa

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