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Internacional
Quinta - 17 de Agosto de 2006 às 08:49

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O projeto de um "novo Oriente Médio" promovido nos últimos anos pelo Governo de George W. Bush recebeu um duro golpe com o conflito entre Israel e a milícia xiita libanesa Hisbolá, a tal ponto que muitos analistas consideram o plano morto, sem sequer ter nascido.

Na visão do Governo americano o Afeganistão e o Iraque seriam a ponta-de-lança de um novo Oriente Médio, onde floresceriam a democracia e o pluralismo religioso.

A idéia era que esse novo cenário diminuísse a atração pelo terrorismo, mas o tiro parece ter saído pela culatra, pois a região tem presenciado um aumento do fanatismo e da violência sectária.

O Líbano seria a terceira fase do projeto, e, nesta tarefa, Israel havia dito que desarmar o Hisbolá era parte do plano de transformação da região, do qual o Governo do Estado judeu parece querer participar com os EUA.

Tudo indica que o Hisbolá saiu do conflito ainda mais forte entre os xiitas e cada vez mais popular no mundo árabe e muçulmano em geral. Do outro lado da balança, diminui aos olhos da "rua árabe" a legitimidade dos regimes pró-americanos, como o do Egito e o da Jordânia.

O presidente sírio, Bashar al-Assad, falou na terça-feira sobre os planos da Administração americana na região e defendeu que o futuro deve ser aquilo que os árabes querem, e não o que é imposto de fora.

"Seu ''novo Oriente Médio'' tornou-se a grande ilusão. O nosso se baseia nas conquistas da resistência e em derrotar a cultura da capitulação", disse Assad em referência aos regimes árabes pró-americanos - Egito, Jordânia e Arábia Saudita -, dos quais a Síria está cada vez mais distante.

"Os sonhos de Condoleezza Rice evaporaram, disse, em um programa de TV, o ex-ministro libanês Albert Mansour. "O ''novo Oriente Médio'' ficou enterrado para sempre diante da vitória da resistência (libanesa)".

O analista Imad Gad, do prestigioso Centro Al-Ahram de Estudos Estratégicos no Cairo, qualificou os projetos da Administração americana como "uma gravidez falsa".

"Não houve o amanhecer de uma nova era e as expectativas dos americanos de acabar com o inimigo número um de Israel (Hisbolá) simplesmente se desvaneceram", disse.

Segundo Gad, os EUA precisam mudar de tática na região e, em lugar de realizar experimentos arriscados, optar por manter, custe o que custar, os regimes da região, apesar da crescente impopularidade entre seus povos.

Para o analista, o fomento da democracia, em sua opinião, fará com que cheguem ao poder forças hostis aos EUA, em particular os radicais islâmicos.

"Será muito melhor para os EUA preservar os regimes existentes que trocá-los por meio de iniciativas que não trazem nada mais que a anarquia. (Hosni) Mubarak é, para eles, muito melhor que qualquer outro e, por isso mesmo, eles darão as boas-vindas a seu filho Gamal", disse Gad em referência ao que parece ser o sucessor político do presidente egípcio.

O professor de Ciências Políticas Ahmed Thabit, da Universidade do Cairo, concorda que a incapacidade israelense de derrotar o Hisbolá vai forçar os EUA a não dependerem exclusivamente de Israel como força dissuasória na região.

"Se analisarmos os resultados da guerra, Israel perdeu a credibilidade como a única potência a decidir sobre a guerra e a paz na região. Os EUA, por isso, vão depender, além de Israel, de seus aliados árabes para aplicar seus planos", afirmou.

"O esquema do ''novo Oriente Médio'' foi derrotado estrondosamente nos primeiros dias da guerra, e Israel teve que ir diminuindo suas ambiciosas aspirações para a mudança no Líbano para algo mais limitado e realista: obrigar o Hisbolá a se retirar, sem se desarmar, para o norte do rio Litani, evitando assim os ataques de seus mísseis contra o norte israelense", disse Thabit.




Fonte: EFE

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