No Enade, 61% vieram da rede pública
Em meio aos debates sobre a adoção de cotas em universidades federais, os dados traduzem em números um argumento discutido no meio acadêmico. O projeto de cotas será praticamente nulo para alguns cursos em que o percentual de alunos egressos do ensino médio da rede pública já ultrapassa os 50% atualmente.
O perfil dos estudantes que concluíram cursos em 12 áreas avaliadas no ano passado pelo Enade, exame que substituiu o Provão, demonstra isso.
Desde 2002, quando as mesmas áreas foram analisadas, o patamar de egressos da rede pública entre formandos está próximo de 60%.
Ou seja, essas áreas não precisam de cotas porque já atendem ao que está na proposta que tramita no Congresso.
Projeto O projeto --aguardando votação na Câmara-- reserva a metade das vagas de todos os cursos de universidades federais para egressos do ensino médio público. Entre elas, há proporção para pretos e pardos segundo a população do Estado onde a instituição fica.
Uma das explicações para a média das 12 áreas avaliadas no ano passado ultrapassar o índice exigido é o fato de a maior parte delas ser de cursos de licenciatura --história, letras, matemática, pedagogia. Tradicionalmente, atraem estudantes de renda menor.
Quando o foco é a renda, nota-se um pequeno aumento no percentual de formandos que pertencem a famílias com até três salários mínimos mensais. Passou de 24,6% em 2002 para 29% no ano passado.
Tendência de alta A tendência de crescimento é verificada também entre os que se declaram pretos e pardos. Subiu de 28% para 33,6% no mesmo período.
Apesar de não poder comparar diretamente, por se tratar de outras áreas, o perfil dos alunos obtido no Enade 2004 ilustra a diferença no ensino superior. Naquele ano, quando cursos considerados de "elite", como medicina e odontologia, foram avaliados, 34,7% dos estudantes eram egressos da rede pública. Só 20,7% se declararam pretos e pardos e 17,5% tinham renda familiar de até três salários mínimos.
Para o diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior, Dilvo Ristoff, esses resultados mostram que a política educacional precisa combinar aumento de vagas com políticas afirmativas temporárias.
"Se a oportunidade é igual para todos, a entrada de alunos mais pobres e vindos da rede pública no ensino superior vai acontecer naturalmente", diz Ristoff, que coordena no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) a área responsável pelo Enade.
O diretor lembra porém que mesmo o índice de 60% de egressos da rede pública ainda fica aquém dos dados globais do ensino médio, já que 88% das matrículas nessa etapa estão em escolas estaduais, municipais e federais.
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