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Internacional
Segunda - 14 de Agosto de 2006 às 11:35

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Em uma amostra de sua frustração ante o aumento da violência desde o último mês de julho, a Missão de Supervisão da Trégua no Sri Lanka (SLMM) acenou com sua saída do país, acusando o Governo e a guerrilha dos Tigres de Libertação da Pátria Tâmil (LTTE) de quererem apenas uma "fantasia política". A declaração foi feita pelo o chefe do organismo, Ulf Henriksson.

Citado hoje pelo jornal local "Daily Mirror", ele declarou: "Recomendei à Noruega que considere retirar a missão porque não vejo nenhum motivo para que continue em funcionamento, já que não é utilizada por ambas as partes".

"Para que estar aqui, às vezes arriscando nossas vidas, quando as partes não nos querem? Eles só querem uma fantasia política", afirmou Henriksson. Ele completou afirmando que, por este motivo, nenhum dos dois signatários da trégua anunciou a ruptura do acordo antes de as hostilidades mais graves começarem, no mês passado, desde a entrada em vigor do cessar-fogo, em 2002.

Henriksson admitiu que ambas as partes insistiram que querem a ajuda da SLMM, mas ressaltou: "eles nos querem quando podem nos usar, mas não quando dizemos algo contra. Querem o bom sem o ruim, e ficam muito contentes quando criticamos o outro".

Ele fez estes comentários enquanto a violência continua nas ilhas de Kayts e Mullaitivu, ao norte de Jaffna, e o Governo prepara o funeral do presidente adjunto do Secretariado de Paz, Ketesh Loganathan, assassinado no sábado em Colombo por supostos membros da guerrilha, segundo o Governo.

Segundo a guerrilha tâmil, as Forças Aéreas bombardearam nesta manhã a região de Paranthan, distrito de Mullaitivu, no norte da ilha, o que causou a morte de mais de 50 meninas e deixou outras 60 feridas. Elas participavam de um curso de assistência médica primária.

Os motivos mais recentes que irritaram o SMLL foram a morte de mais de 50 meninas num suposto bombardeio das Forças Aéreas e a explosão de uma bomba em Colombo. Os rebeldes da LTTE informaram hoje do bombardeio aéreo, que começou por volta das 7h da manhã (22h30 deste domingo em Brasília), através de seu site, o Tamilnet.

O grupo qualificou o incidente de "um ato horroroso de terrorismo" e convidou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e outras agências internacionais na área a visitarem o local.

O conselheiro de Defesa do presidente cingalês, Palitha Fernando, insistiu que o Exército "nunca ataca civis", disse que não tinha certeza do incidente e acrescentou que o LTTE "tem tendência a inventar e exagerar as coisas".

Em outro incidente violento ocorrido hoje em Colombo, capital e principal cidade do Sri Lanka, quatro militares cingaleses e três civis morreram e várias pessoas ficaram feridas quando uma bomba potente explodiu na zona 3 da cidade.

A bomba, colocada numa motocicleta de três rodas estacionada perto de um restaurante, explodiu a apenas 100 metros da residência oficial do primeiro-ministro do Sri Lanka, Ratnasiri Wickremanayake.

A explosão aconteceu segundos depois da passagem do carro do embaixador do Paquistão no Sri Lanka, Basheer Wali Mohammad. Segundo as autoridades cingalesas, ele o alvo do ataque, mas não foi atingindo, de acordo com o porta-voz do embaixador.

O Paquistão é o principal fornecedor de armas do Sri Lanka e treina muitos soldados do país. O Governo paquistanês divulgou comunicado condenando o atentado ocorrido em Colombo.

Estas novas agressões são sérios contratempos para o já muito debilitado processo de paz na ilha e para a frágil trégua ainda em vigor, pelo menos teoricamente.

As hostilidades entre as autoridades de Colombo e o LTTE começaram em 26 de julho, depois de a guerrilha bloquear uma represa situada em seu território, no nordeste da ilha, mas que também irrigava regiões governamentais.

O Governo respondeu bombardeando as posições do LTTE na área. Em 2 de agosto, o LTTE atacou um povo majoritariamente muçulmano e controlado pelo Governo.

Durante estes últimos combates, em que morreram mais de uma centena de muçulmanos e cerca de 80 mil pessoas deixaram seus lares, 17 voluntários da organização humanitária francesa Ação contra a Fome também foram assassinados.

Apesar de o LTTE ter finalmente aberto a citada represa em 8 de agosto, os confrontos entre ambas as partes ainda não cessaram.

Neste domingo, o LTTE alegou que 40 civis tinham morrido numa ofensiva do Exército, fato negado pelo Governo e considerado uma invenção dos rebeldes.

No domingo, o Governo afirmou que a guerrilha manifestara sua disposição para negociar, mas horas depois o grupo emitiu um comunicado negando que tivesse feito qualquer tipo de oferta.

A óbvia frustração da SLMM perante a situação atual na ilha não é um bom presságio para a continuação da trégua - que nos últimos tempos parece existir apenas na teoria.





Fonte: EFE

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