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Aranhas com 110 milhões de anos são descobertas no Ceará
O lugar é o mesmo, o ambiente tem lá suas semelhanças, e algumas das habitantes são muito parecidas: pequenas aranhas conhecidas popularmente como caranguejeiras. O detalhe, no entanto, é que há um abismo de 110 milhões separando as aranhas de hoje de duas "tias-avós" da era dos dinossauros, originárias da chapada do Araripe (Ceará).
As duas espécies de aracnídeo acabam de ser descritas por dois pesquisadores brasileiros e um britânico, em artigo na última edição da revista científica "Palaeontology". Para a bióloga Marisa Vianna Mesquita, do Laboratório de Geociências da UnG (Universidade Guarulhos), a pouquíssima mudança sofrida pelos bichos ao longo de tanto tempo não surpreende.
"As aranhas não têm um quadro evolutivo com grandes modificações depois de seu surgimento", afirma ela. Mesquita é uma das autoras do trabalho, ao lado de Fabio da Costa Casado, também da UnG, e de Paul Selden, da Universidade de Manchester. Pouca alteração ao longo das eras geológicas, aliás, é provavelmente bom sinal: significa que o design dos animais funcionava muito bem, obrigado, e continua funcionando.
Espécimes espalhados
As duas novas espécies, Cretadiplura ceara e Dinodiplura ambulacra, pertencem a uma família muito comum ainda hoje, a Dipluridae. Pequeninas, a menor tem cerca de 1,5 cm, enquanto a maior chega a uns 3 cm. Por sorte, os pesquisadores têm à disposição tanto machos quanto fêmeas das duas espécies --vasculhando museus na Alemanha e no Brasil, coleções particulares e a da Universidade Guarulhos, eles conseguiram rastrear os pares.
Como é comum com os fósseis da chapada do Araripe, a preservação dos bichos é de impressionar: até as cerdas duras que recobriam o corpo das aranhas aparecem. Isso, claro, facilitou a sexagem dos espécimes. "Nos machos, os pedipalpos [apêndices articulados que ficam dos lados da boca e ajudam na manipulação de alimento e no sexo] são claramente maiores", afirma Mesquita. "O macho usa os pedipalpos para introduzir na fêmea o órgão que carrega os espermatozóides", completa Fabio Casado.
Segundo o biólogo, é bem provável que os bichos fósseis levassem basicamente a mesma vida que seus "primos" de hoje, como a Ischnothele annulata, uma aranha que passeia pelas lajes de calcário onde estão muitos fósseis do Araripe.
O animal e seus parentes não montam o tipo mais conhecido de teia, em formato radial: produzem uma armadilha em funil. "A aranha fica recolhida no fundo desse túnel, e ele vai sendo recoberto por folhas, gravetos etc. Assim, o animal não consegue perceber onde foi parar e acaba capturado", diz o pesquisador da UnG.
As enormes fiandeiras (as glândulas que produzem a teia) no traseiro dos fósseis, que mais parecem ferrões para o olhar desavisado, é que denunciam o parentesco com as caranguejeiras. O achado recua em 90 milhões de anos o registro da família Dipluridae.
Na verdade, o trabalho é uma história relativamente rara de sucesso para a ciência brasileira e a chapada do Araripe, uma vez que muitos fósseis da região não só são contrabandeados ilegalmente para o exterior (caso dos que estão na Alemanha) como acabam sendo descritos por pesquisadores estrangeiros, sem que nenhuma instituição nacional sequer veja a cara do fóssil.
Mesquita diz reconhecer o problema. "O que nós tentamos fazer para resolver isso é trabalhar em parceria com os pesquisadores estrangeiros, como foi o caso de Selden, que é um dos maiores especialistas do mundo em aracnídeos e nos visitou duas vezes para examinar o fóssil [o macho da espécie menor]", afirma. "Muita coisa infelizmente acaba saindo."
As duas espécies de aracnídeo acabam de ser descritas por dois pesquisadores brasileiros e um britânico, em artigo na última edição da revista científica "Palaeontology". Para a bióloga Marisa Vianna Mesquita, do Laboratório de Geociências da UnG (Universidade Guarulhos), a pouquíssima mudança sofrida pelos bichos ao longo de tanto tempo não surpreende.
"As aranhas não têm um quadro evolutivo com grandes modificações depois de seu surgimento", afirma ela. Mesquita é uma das autoras do trabalho, ao lado de Fabio da Costa Casado, também da UnG, e de Paul Selden, da Universidade de Manchester. Pouca alteração ao longo das eras geológicas, aliás, é provavelmente bom sinal: significa que o design dos animais funcionava muito bem, obrigado, e continua funcionando.
Espécimes espalhados
As duas novas espécies, Cretadiplura ceara e Dinodiplura ambulacra, pertencem a uma família muito comum ainda hoje, a Dipluridae. Pequeninas, a menor tem cerca de 1,5 cm, enquanto a maior chega a uns 3 cm. Por sorte, os pesquisadores têm à disposição tanto machos quanto fêmeas das duas espécies --vasculhando museus na Alemanha e no Brasil, coleções particulares e a da Universidade Guarulhos, eles conseguiram rastrear os pares.
Como é comum com os fósseis da chapada do Araripe, a preservação dos bichos é de impressionar: até as cerdas duras que recobriam o corpo das aranhas aparecem. Isso, claro, facilitou a sexagem dos espécimes. "Nos machos, os pedipalpos [apêndices articulados que ficam dos lados da boca e ajudam na manipulação de alimento e no sexo] são claramente maiores", afirma Mesquita. "O macho usa os pedipalpos para introduzir na fêmea o órgão que carrega os espermatozóides", completa Fabio Casado.
Segundo o biólogo, é bem provável que os bichos fósseis levassem basicamente a mesma vida que seus "primos" de hoje, como a Ischnothele annulata, uma aranha que passeia pelas lajes de calcário onde estão muitos fósseis do Araripe.
O animal e seus parentes não montam o tipo mais conhecido de teia, em formato radial: produzem uma armadilha em funil. "A aranha fica recolhida no fundo desse túnel, e ele vai sendo recoberto por folhas, gravetos etc. Assim, o animal não consegue perceber onde foi parar e acaba capturado", diz o pesquisador da UnG.
As enormes fiandeiras (as glândulas que produzem a teia) no traseiro dos fósseis, que mais parecem ferrões para o olhar desavisado, é que denunciam o parentesco com as caranguejeiras. O achado recua em 90 milhões de anos o registro da família Dipluridae.
Na verdade, o trabalho é uma história relativamente rara de sucesso para a ciência brasileira e a chapada do Araripe, uma vez que muitos fósseis da região não só são contrabandeados ilegalmente para o exterior (caso dos que estão na Alemanha) como acabam sendo descritos por pesquisadores estrangeiros, sem que nenhuma instituição nacional sequer veja a cara do fóssil.
Mesquita diz reconhecer o problema. "O que nós tentamos fazer para resolver isso é trabalhar em parceria com os pesquisadores estrangeiros, como foi o caso de Selden, que é um dos maiores especialistas do mundo em aracnídeos e nos visitou duas vezes para examinar o fóssil [o macho da espécie menor]", afirma. "Muita coisa infelizmente acaba saindo."
Fonte:
24HorasNews
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/283236/visualizar/
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