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Internacional
Sexta - 11 de Agosto de 2006 às 12:26

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Fidel Castro, que completa 80 anos no domingo, viveu as últimas quatro décadas às turras com o governo norte-americano, separado por apenas 145 quilômetros do estreito da Flórida. O líder cubano, em um ato inédito, transferiu temporariamente o poder para seu irmão mais novo no dia 31 de julho, quando se submeteu a uma cirurgia intestinal.

Fidel Castro vive uma nova fase de apoio internacional, que lhe permitiu resgatar a ilha do "período especial", ocorrido após o colapso da União Soviética, e prepará-la para que o regime socialista sobreviva após sua morte.

"Estou realmente contente por fazer 80 anos. Nunca esperei, inclusive por ter um vizinho ¿ a maior potência do mundo ¿ tentando me matar todos os dias", disse ele em 21 de julho durante a cúpula do Mercosul na Argentina.

Nesta idade, Fidel se dedica a tentar contornar alguns dos flagrantes fracassos da Revolução ¿ problemas de habitação, transporte, energia e corrupção -, mas sem dar voz aos críticos. O petróleo barato e as doações do governo venezuelano de Hugo Chávez e o crédito financeiro da China permitem que Cuba não naufrague de vez.

No dia 26 de julho, poucos dias antes de ser submetido à cirurgia, o líder cubano declarou na cidade de Bayamo, a 730 quilômetros ao leste de Havana, que os "Estados Unidos não deveriam se preocupar porque ele não pretendia governar até os 100 anos".

Fidel é tratado como um ditador totalitário por seus adversários, mas é admirado em muitos países do Terceiro Mundo por se contrapor aos Estados Unidos e por fornecer saúde e educação grátis e de qualidade à população.

Seu regime fez amigos enviando 20 mil médicos cubanos para atenderem pobres no exterior, especialmente na Venezuela, mas também em lugares tão distantes como Paquistão, Indonésia e Timor Leste. Cerca de 260 mil pacientes da América Latina e do Caribe foram submetidos a cirurgias oftalmológicas em Cuba desde 2005, graças a um programa conjunto com a Venezuela.

Fidel foi recebido como um ídolo pop neste mês na Argentina. Jovens contrários à globalização capitalista o vêem como herói, ao lado de outro ícone da Revolução Cubana, o revolucionário argentino Ernesto Che Guevara.

"Fidel e o Che são símbolos dos ideais socialistas, da igualdade e da solidariedade, perdidos no mundo capitalista de hoje", disse José Fierro, professor em Latronquiere, ao sul da França.

"Os jovens querem acreditar que isso é possível", acrescentou ele neste mês, em visita às cabanas da Sierra Maestra (sudeste de Cuba), onde os revolucionários se esconderam até derrubar a ditadura pró-americana de Fulgencio Batista, no primeiro dia de 1959.

Mas alguns cubanos acham que Fidel submeteu o país, de 11 milhões de habitantes, à pobreza coletivizada num Estado policial.

Os cubanos fazem filas todos os dias em frente a embaixadas estrangeiras para pedir vistos, mas depois precisam solicitar autorização do governo para viajar. As famílias perdem todos os seus bens se partem definitivamente.

O influente dissidente Oswaldo Payá diz que os baixos salários obrigam muitos cubanos a recorrerem a atividades ilegais e a viverem sob o temor da vigilância policial, enquanto a elite do Partido Comunista vive como uma casta privilegiada. "Os cubanos não querem mais viver assim", disse ele.

SOBREVIVENTE

Fidel, que diz ter sobrevivido a 600 tentativas de assassinato da CIA e de exilados cubanos nos EUA, é o terceiro chefe de Estado há mais tempo no cargo em todo o mundo. Está atrás apenas de dois monarcas, Elizabeth 2a., da Grã-Bretanha, e Bhumibol Adulyadej, da Tailândia. O barbudo presidente completa 80 anos em 13 de agosto.

Seu ritmo diminuiu nos últimos anos, e ele parece frágil desde que fraturou um joelho e um braço numa queda transmitida ao vivo pela TV em outubro de 2004, após um discurso.

Mas ele mantém a disposição para discursos de três a quatro horas, sempre em pé, para denunciar seus inimigos e tratar de minúcias da administração cubana ¿ muitas vezes apoiado em páginas e páginas de estatísticas sobre qualquer aspecto da vida nacional.

Desde que sofreu um desmaio durante um discurso, em 2001, há dúvidas sobre sua saúde, que acirram as especulações sobre as turbulências que Cuba pode viver após sua morte.

O sucessor designado é seu irmão mais novo, Raúl, que tem 75 anos e nem de longe é tão carismático quanto Fidel. Pode ser Raúl, porém, o cimento que manterá a revolução unida no futuro.

Raramente as relações de Cuba com a América Latina foram tão estreitas, apesar de os esforços dos EUA para isolar Havana, que remontam à Guerra Fria, quando toda a região, exceto o México, rompeu relações diplomáticas e seguiu o embargo comercial norte-americano.

"Cuba se sente muito mais forte. Sobrevivemos à grande crise do começo da década de 1990", disse neste mês Ricardo Alarcón, presidente da Assembléia Nacional. "Pode-se dizer o que quiser sobre Cuba, menos que está isolada."

Mas gente da velha-guarda, como Mario Bruqueta, companheiro de Fidel na guerrilha da Sierra Maestra, teme pelo futuro sem seu líder "insubstituível". "O povo cubano é mais fidelista que comunista", disse.





Fonte: EFE

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