Alemanha homenageia Brecht 50 anos após sua morte
Há semanas, jornais e revistas semanais têm dedicado grande espaço à obra e à imagem do poeta e dramaturgo que teve de optar pelo exílio na Alemanha nazista e que anos mais tarde seria expulso dos EUA pelo macarthismo.
A mídia germânica também deu grande repercussão à estréia de uma versão da sua "Die Dreigroschenoper" ("Ópera dos Três Vinténs"), com Klaus Maria Brandauer na direção e o cantor Campino, ídolo do punk alemão, como protagonista.
As comemorações oficiais acontecem amanhã, três dias antes do aniversário da morte do autor - em 14 de agosto de 1956 - e um dia antes do Festival Bertolt Brecht promovida pela companhia Berliner Ensemble, fundada por ele e Helene Weigel.
O local escolhido para a produção de Brandauer é o Admiralspalast, um velho teatro que abriu suas portas em 1873, em Friedrichstrasse, que teve Hitler entre seus visitantes e virou uma casa de shows na Alemanha comunista.
Ao longo de sua existência, o local recebeu desde estrelas da opereta a membros da classe política, e foi palco para a fusão do Partido Social-Democrata com o Comunista, em 1946.
Após várias tentativas de reabertura, o Admiralspalast foi adquirido por um empresário que investiu 14,5 milhões de euros em sua recuperação.
Mesmo com as obras ainda em andamento, Brandauer e Campino participaram nesta semana de uma singular entrevista coletiva, enquanto operários colocavam vidraças e se penduravam em cabos.
A imprensa germânica compareceu em peso, dividida entre os que previam um atraso, os que consideravam mais um episódio do "glamour" berlinense e os que se perguntavam se era uma manobra para aumentar a expectativa sobre o espetáculo.
As autoridades berlinenses deixaram no ar se haverá uma pré-estréia ao afirmarem que a permissão não será dada antes da ultima inspeção, que acontecerá hoje.
A decisão aparentemente não afetará o negócio dos novos donos do Admiralspalast, que já têm à disposição um variado repertório de peças de cabaré, voltadas supostamente para o grande público, a serem apresentadas depois de "A Ópera".
A homenagem real a Brecht acontecerá na sua Berliner Ensemble, cujo festival apresentará produções internacionais. As celebrações também acontecerão em Augsburgo, sua cidade natal, e serão tema de atrações na televisão alemã.
No entanto, e em meio às comemorações, uma pesquisa da revista "Bücher" revelou que 42% dos alemães admitem nunca ter lido um livro do autor. Outros 55% afirmam que o único contato com o dramaturgo remonta ao período escolar e apenas 2% disseram ter lido alguma de suas obras entre este ano e o último.
Entre as 20 peças mais representadas na Alemanha, Suíça e Áustria, segundo estatísticas da Associação de Teatro, não há uma sequer de Brecht. Enquanto "Fausto" de Goethe já teve 437 produções, "Mãe Coragem e seus filhos" foi montada 187 vezes, seguida por "A Ópera", com 142 versões.
A estatística contrasta com a dimensão dada pela mídia ao 50º aniversário da morte de Brecht e à abertura do Admiralspalast.
Fica a pergunta se se trata apenas de lembrar um autor por conta do calendário ou se há um autêntico interesse em recuperar a imagem de um escritor que incomodou tanto o nazismo como o macarthismo.
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