Governo e oposição se calam ante conversas do PCC
Até então os atores principais ¿ conhecedores, no mínimo, da existência das fitas; vários deles de todo o conteúdo - se agrediam mas, para não piscar primeiro, nem governo nem oposição se referiam às conversas gravadas, muito menos ao seu conteúdo. Publicados os diálogos entre criminosos, não deixou de ser interessante a fuga quase generalizada ante o convite para enfrentamento do fato. Ambos os lados aguardam, mais uma vez, por quem irá piscar primeiro.
Por educativo, ainda mais em tempos eleitorais, Terra Magazine relata a seguir a reação à publicação da conversa grampeada. E revela bastidores das negociações entre os governos federal e de São Paulo desde a primeira reunião no Palácio dos Bandeirantes ainda em 15 de Maio.
O governador Cláudio Lembo, para manter o que se tornou uma tradição nessa crise do PCC iniciada ainda em Maio, foi um que não se esquivou. Indagado, em entrevista coletiva, se acreditava no envolvimento do PT com o crime organizado, respondeu: -Não acredito. Não posso acreditar que o PT está por trás desses ataques. Eu sou alguém que acredita no sistema democrático e os partidos que estão aí na disputa eleitoral são partidos democráticos.
No dia 12 de julho a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo já tinha a transcrição das fitas. No mesmo dia ¿certamente uma coincidência -, teve início a rodada de insinuações de uma suposta ligação entre o PCC e o PT.
O primeiro a disparar foi o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), seguido, no dia 13, pelo candidato ao governo de São Paulo, José Serra, e pelo candidato à presidência da República, Geraldo Alckmin. Ambos do PSDB paulista.
Serra, então questionado sobre as declarações de Bornhausen, disse existirem ¿indícios¿ das hipotéticas ligações entre PT e crime organizado. Alckmin, que em entrevista ao Jornal Nacional nesta semana falou em ações de ¿guerrilha¿, no dia 13 de julho notou existirem "coisas estranhas".Ontem, através da assessoria, Serra afirmou não ter tido conhecimento da conversa entre membros do PCC interceptada pela polícia de São Paulo e que nada teria a dizer sobre o assunto.
À Folha Online teve o que dizer. E disse: -Eu nunca dei a idéia de que o PT estava organizando esses ataques, nem nada parecido.
O candidato Alckmin foi procurado por Terra Magazine, que por 4 vezes falou com sua assessoria em Brasília. O último telefonema às 17 e 45. Até as três horas da madrugada desta quinta-feira, quando o autor destas linhas deitou-se para dormir, ainda não havia resposta.
De parte do governo, e do PT, o cenário não foi diferente. A presidência da República informou que não se pronunciaria sobre o momentoso tema por "não pertencer o assunto à presidência", e sim ao PT. Procurado, também o PT não conseguiu pronunciar-se a respeito.
Na última em uma seqüência de ligações um assessor petista para a campanha presidencial comunicou, às 17 horas: -Vou ver quem vai falar e já te ligo.
Até as três da madrugada desta quinta o assessor não havia telefonado de volta e em seu celular reinava a caixa de recados. Na presidência da República uma alma piedosa explicou:
-Agora que a caixa foi aberta está todo mundo encostado na parede, ninguém fala enquanto o outro não falar.
Saibam ainda, os milhares e milhares de internautas do Terra que acompanham o enredo, que mais de uma dúzia de graduadíssimos atores da política rogaram pelo off - manutenção do sigilo da fonte - ao abordar o tema.
O ministério da Justiça, por meio de sua assessoria, explicou os motivos pelos quais o ministro Marcio Thomaz Bastos nada diria: -O ministério da Justiça não se pronunciará porque os informes de Inteligência são estratégicos.
A propósito. Assim como a Secretaria de Segurança de São Paulo, o setor de Inteligência do governo federal também mantém o documento classificado como "confidencial".
Confidencial se mantém até hoje parte da conversa da tarde do dia 15 de maio no Palácio dos Bandeirantes. Naquela segunda-feira, 48 horas depois do Primeiro Comando da Capital ter começado a atacar São Paulo, reuniram-se o governador Cláudio Lembo, o ministro da justiça, Marcio Thomaz Bastos, o Diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, e o secretário de Segurança do estado, Saulo de Castro.
Terra Magazine retoma agora alguns dos momentos daquela conversa por conta das ligações entre o que se acordou ou não naquele dia e os fatos que desde então envolvem o PCC, a oposição e o governo federal.
Thomaz Bastos, então, ofereceu para que ficasse por conta da Polícia Federal a guarda dos chefes do PCC - Marcola, Gegê do Mangue e Julinho Carambola. Foi citado, como exemplo, o caso de Fernadinho Beira Mar.
Como se sabe, quando o Rio de Janeiro já não tinha condições de controlar o traficante, a polícia de São Paulo assumiu o encargo. Tempos depois, o preso foi entregue à PF.
A Polícia Federal, valendo-se de infiltração entre presos, por mais de uma vez fez chegar a Beira Mar, aparelhos telefônicos. Dos contatos do traficante com a Colômbia algumas remessas com toneladas de drogas foram enviadas para o Brasil. As remessas foram apreendidas e aquelas pontas do esquema de tráfico de Beira Mar desconectadas.
Quando a oferta foi feita na reunião do dia 15 o governador Lembo, a princípio, gostou da idéia. O secretário Saulo de Castro, que não estava no começo do encontro, consultado por Lembo ao chegar rechaçou a oferta.
Disse então que havia a necessidade de manter os chefes do crime organizado em São Paulo para que fosse possível "saber o que está se passando". Leia-se, através da monitoração de conversas.
De qualquer forma, semanas depois, junto com outros parlamentares da CPI do Trafico de Armas, o deputado Arnaldo Faria de Sá esteve com Marcola no presídio de Presidente Bernardes (SP). Ao final do encontro, num diálogo a sós, Marcola revelou que não queria ser preso no presídio de Catanduva. Em outro momento disse ainda a outro interlocutor que não queria também ser prisioneiro da Polícia Federal.
Os motivos variam de acordo com a ótica dos atores. Para o deputado Arnaldo o chefão Marcola explicou que no até então futuro presídio de segurança máxima de Catanduva ¿assim como nas celas da PF ¿ correria "riscos de vida".
Disse Marcola ao deputado que, sendo do PCC, se misturado a outras facções seria "morto". Ou por integrantes da Seita Santista ¿ organização nascida na Baixada de Santos -, pelo Comando Democracia e Liberdade - de Sorocaba- ou pelo Comando Brasileiro do Crime Revolucionário - CBCR.
Pela ótica do governo federal, incluindo-se assessores diretos do presidente da República, Saulo de Castro não aceitou a guarda dos chefes do PCC pela PF porque existiria um acordo entre tais personagens e o comando da paulista desde o governo Alckmin.
Para Saulo de Castro os chefões do PCC são uma fonte de informação quando monitorados, donde a necessidade da manutenção destes em São Paulo. Na mesma reunião o secretário recusou também a oferta de uma tropa da Força Nacional.
Em todos os casos lembrou que não poderia "desmoralizar" a polícia paulista e, no caso específico da Força Nacional, foi além. Fez cálculos. Disse que respeitado o limite de turnos de 8 horas, ante o contingente a ser enviado sobrariam "26 homens por turno", o que não bastaria para agir em sequer "uma favela".
Lembrou, então, que no Espírito Santo e Mato Grosso do Sul a ação da Força é localizada "em um presîdio". Desde aquela reunião até hoje tanto o governador Lembo quanto seu secretário repelem a oferta de tropas do Exército para a segurança em São Paulo.
Com divergências, aceitariam o Exército para a guarda de presídios e/ou cerco a determinados pontos da cidade.
O Exército tem, nesta quinta-feira, 6 mil homens prontos para ação. Até que Terra Magazine publicasse o teor das conversas entre os criminosos ligados ao PCC estava acertado para amanhã um encontro reservado, em São Paulo, entre o governador Cláudio Lembo e o presidente Lula.
Exército ou não seria um dos itens do encontro para tratar de segurança pública. Importantíssimo ministro do presidente resume a porção política ¿ existem as veredas técnicas, estratégicas, logísticas, filosóficas etc ¿ do impasse: - O problema é que se o Exército for chamado em São Paulo acabou a eleição para o Alckmin.
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