Associação entre Aids e tuberculose mata cada vez mais--estudo
Juntas, a Aids e a tuberculose estão causando uma "peste dupla", disse Stephen Lewis, enviado especial da ONU para a Aids na África. "Os governos e a comunidade internacional têm de entender que têm em suas mãos duas catástrofes simultâneas e relacionadas entre si", disse Lewis numa entrevista coletiva por telefone.
"Precisamos enfrentá-las juntas. Precisamos de mais recursos. Precisamos de diagnóstico. Precisamos de remédios melhores."
Lewis e a equipe que escreveu o relatório disseram esperar usar a 16a Conferência Internacional sobre Aids, em Toronto, que começa no domingo, para atrair interesse sobre o problema.
Quando as pessoas se infectam tanto com a tuberculose quanto como a Aids, é "quase sempre uma fórmula irreversível, que provoca a morte", disse Lewis.
"A tuberculose é a causa mais comum de morte para doentes de Aids", acrescentou. "Noventa e nove por cento dessas infecções e mortes acontecem no mundo em desenvolvimento."
A tuberculose é curável, mas precisa de vários meses de tratamento com antibióticos.
O brasileiro Ezio Santos Filho, advogado e ativista na área, apresentou-se como um exemplo vivo. Ele está infectado pelo vírus desde 1985, e pegou tuberculose em 1992. "Quando as pessoas têm Aids, é difícil diagnosticar a tuberculose", disse ele. "Normalmente elas não têm todos os sintomas, as características típicas que as pessoas teriam sem a Aids. Elas tossem menos e têm menos catarro quando têm Aids."
Além disso, segundo o estudo, apenas um terço dos testes para tuberculose têm um resultado positivo preciso em HIV-positivos.
"Daria para fazer com o raio X de tórax, mas esse tipo de tecnologia não é tão disponível no mundo em desenvolvimento", disse Lewis.
Segundo Santos Filho, apesar do bom sistema de saúde na área e de ele ter plano de saúde particular, levou 40 dias para que ele fosse diagnosticado. "É por isso que a tuberculose mata tanta gente com HIV. Porque elas não são diagnosticadas a tempo."
"Conheço todos os médicos que cuidam da tuberculose no país, as pessoas mais importantes, e mesmo assim o diagnóstico demorou", disse ele.
De acordo com o estudo, na Tanzânia, por exemplo, apenas 47 por cento dos casos de tuberculose são detectados. Os pacientes não detectados disseminam a tuberculose.
"Não há coordenação entre programas contra tuberculose e contra o HIV", afirmou Olayide Akanni, da Jornalistas contra a Aids na Nigéria. "Na maioria dos programas, a tuberculose é negligenciada."
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