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Comunidades no Orkut revelam preconceito contra domésticas
SÃO PAULO - Há mais de 600 comunidades dedicadas a empregadas no site, e a grande maioria aborda a profissão de forma negativa. Nas comunidades, internautas descrevem, em tom de piada, situações em que empregadas domésticas são vítimas de violência, preconceito, assédio sexual, entre outros abusos.
Em um tópico de discussões "Maldades com a Empregada", um internauta descreve que, quando era adolescente, fechou a janela enquanto a empregada a limpava, do outro lado. "Resultado: ela caiu do primeiro andar, mas só quebrou o braço", escreveu o internauta.
Preconceito O moderador de uma comunidade pede que os participantes descrevam suas empregadas com três palavras. Em meio a algumas referências elogiosas, a maioria é ofensiva. "Velha, burra e lerda", diz uma. "Paraíba, burra e trouxa", diz outra.
"Aqueles cabelos, ninguém me tira da cabeça, foram feitos para a gente poder puxar de raiva", escreveu a integrante de uma comunidade.
"Minha empregada cheira a Cândida" é o nome de outra comunidade em que os participantes fazem piada do que dizem ser o cheiro de água sanitária de suas empregadas.
Sempre culpada "A culpa é sempre da empregada" é o nome de outra comunidade. Convidando o internauta a participar, o moderador diz que "se você sempre pôs a culpa na empregada, dizendo que ela é quem quebra, esconde as coisas, rouba dinheiro da sua mãe e pai. Essa é sua comunidade!"
Em outra, que fala de sexo com empregadas, um internauta adolescente pede dicas sobre como conseguir ter relações sexuais com sua empregada.
Um integrante mais velho diz: "Bicho, tu tem que começar com calma. Começa tirando umas brincadeiras com ela, pega na mão dela, tira umas liberdades. Depois de um tempo, tu começa falando umas safadezas com ela. Fica só jogando verde pra ver se ela engole a tua, tanto no bom como no mal sentido. Caso tu faça isso tudinho e ela não libere a micharia para você, dá uma tapa nessa nojenta que ela tá querendo".
Em outra comunidade, intitulada, "Vinganças contra empregadas", uma internauta, adolescente, conta o que teria feito com a filha de sua empregada que usava seus brinquedos.
"Ai um dia eu fikei com raiva e chamei ela pra brincar de rezar com cola na mão!!! Hauahuaahu!! passei super bonder pra ela aprender a não mexer nas minhas coisas!!!! Ela teve que ir para o hospital... E eu fikei de castigo no quarto!!".
"Então, no outro dia, eu chamei ela pra brinkar perto da escada da minha casa e joguei a menina da escada!!! hauahuahau!! Eram pratikamente um andar e meio de escada!! Pena que a merda da garota era tão ruim e nem quebrou nada! Mas tb a minha empregada parou de levar a menina!", escreveu a adolescente.
"É revoltante que esse tipo de visão possa se disseminar tão facilmente pela internet. Um adolescente que vê uma comunidade dessas, acha que é normal pensar assim e tratar o trabalhador doméstico com preconceito", disse Creuza Maria de Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Trabalhadoras Domésticas.
"Vou verificar o conteúdo dessas comunidades e decidir que medida tomar em nome da categoria", acrescentou.
Atentado à dignidade Segundo o Promotor de Justiça, Christiano Jorge Santos, autor do livro Crimes de Preconceito e Discriminação, a lei 7716, que prevê punição para crimes de racismo, não abrange o preconceito contra profissões.
"Por mais que exista um conteúdo racista embutido, a lei não prevê punição para o preconceito contra o trabalho doméstico", explicou.
O promotor acrescentou, no entanto, que o desrespeito à categoria, manifestado no site, pode representar um atentado à dignidade humana e ser passível de ação na Justiça contra os integrantes das comunidades, ainda que adolescentes, e o próprio Google, que é dono do site Orkut.
Até a publicação desta reportagem, o Google não tinha retornado o pedido de entrevista feito pela BBC Brasil.
"Secretárias do lar" Não há apenas comunidades em que internautas trocam opiniões negativas sobre o tema. A comunidade "Eu Amo Minha Empregada" tem mais de 11 mil membros. "Se existe alguém em nossas vidas que merece todo o respeito são as empregadas domésticas. Fazem um serviço de uma rotina infernal, sempre com um bom humor danado. Eu tenho muito respeito por esta criatura que convive conosco diariamente, e que no silêncio de seu trabalho faz a felicidade da família. Vamos nesta comunidade falar das nossas ´secretárias do lar´", diz o moderador da comunidade.
Há comunidades que não fazem piada, mas são um fórum para patroas falarem de problemas com suas empregadas. "Patroas X Diaristas", com 101 membros, é uma dessas.
Comentando a criação da comunidade, uma participante diz: "Você respondeu exatamente o que todas nós, que procuramos cumprir nossa parte no contrato e nas obrigações pertinentes a relação Patroa x Diaristas, gostaríamos de responder. A Justiça, principalmente a trabalhista, não é cega (imparcial). Ela é paternalista. Mesmo com tudo certinho, vivemos com o fantasma da dissimulação e más intenções sempre nos assombrando, sem saber a quem recorrer para nos amparar. Mas, somos brasileiros! Não desistimos!"
A série de reportagens Poucos Direitos, Muitos Deveres - um projeto da BBC Brasil e do BBC World Service Trust - aborda as condições de trabalho de empregados domésticos brasileiros em cinco países e contou com apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Em um tópico de discussões "Maldades com a Empregada", um internauta descreve que, quando era adolescente, fechou a janela enquanto a empregada a limpava, do outro lado. "Resultado: ela caiu do primeiro andar, mas só quebrou o braço", escreveu o internauta.
Preconceito O moderador de uma comunidade pede que os participantes descrevam suas empregadas com três palavras. Em meio a algumas referências elogiosas, a maioria é ofensiva. "Velha, burra e lerda", diz uma. "Paraíba, burra e trouxa", diz outra.
"Aqueles cabelos, ninguém me tira da cabeça, foram feitos para a gente poder puxar de raiva", escreveu a integrante de uma comunidade.
"Minha empregada cheira a Cândida" é o nome de outra comunidade em que os participantes fazem piada do que dizem ser o cheiro de água sanitária de suas empregadas.
Sempre culpada "A culpa é sempre da empregada" é o nome de outra comunidade. Convidando o internauta a participar, o moderador diz que "se você sempre pôs a culpa na empregada, dizendo que ela é quem quebra, esconde as coisas, rouba dinheiro da sua mãe e pai. Essa é sua comunidade!"
Em outra, que fala de sexo com empregadas, um internauta adolescente pede dicas sobre como conseguir ter relações sexuais com sua empregada.
Um integrante mais velho diz: "Bicho, tu tem que começar com calma. Começa tirando umas brincadeiras com ela, pega na mão dela, tira umas liberdades. Depois de um tempo, tu começa falando umas safadezas com ela. Fica só jogando verde pra ver se ela engole a tua, tanto no bom como no mal sentido. Caso tu faça isso tudinho e ela não libere a micharia para você, dá uma tapa nessa nojenta que ela tá querendo".
Em outra comunidade, intitulada, "Vinganças contra empregadas", uma internauta, adolescente, conta o que teria feito com a filha de sua empregada que usava seus brinquedos.
"Ai um dia eu fikei com raiva e chamei ela pra brincar de rezar com cola na mão!!! Hauahuaahu!! passei super bonder pra ela aprender a não mexer nas minhas coisas!!!! Ela teve que ir para o hospital... E eu fikei de castigo no quarto!!".
"Então, no outro dia, eu chamei ela pra brinkar perto da escada da minha casa e joguei a menina da escada!!! hauahuahau!! Eram pratikamente um andar e meio de escada!! Pena que a merda da garota era tão ruim e nem quebrou nada! Mas tb a minha empregada parou de levar a menina!", escreveu a adolescente.
"É revoltante que esse tipo de visão possa se disseminar tão facilmente pela internet. Um adolescente que vê uma comunidade dessas, acha que é normal pensar assim e tratar o trabalhador doméstico com preconceito", disse Creuza Maria de Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Trabalhadoras Domésticas.
"Vou verificar o conteúdo dessas comunidades e decidir que medida tomar em nome da categoria", acrescentou.
Atentado à dignidade Segundo o Promotor de Justiça, Christiano Jorge Santos, autor do livro Crimes de Preconceito e Discriminação, a lei 7716, que prevê punição para crimes de racismo, não abrange o preconceito contra profissões.
"Por mais que exista um conteúdo racista embutido, a lei não prevê punição para o preconceito contra o trabalho doméstico", explicou.
O promotor acrescentou, no entanto, que o desrespeito à categoria, manifestado no site, pode representar um atentado à dignidade humana e ser passível de ação na Justiça contra os integrantes das comunidades, ainda que adolescentes, e o próprio Google, que é dono do site Orkut.
Até a publicação desta reportagem, o Google não tinha retornado o pedido de entrevista feito pela BBC Brasil.
"Secretárias do lar" Não há apenas comunidades em que internautas trocam opiniões negativas sobre o tema. A comunidade "Eu Amo Minha Empregada" tem mais de 11 mil membros. "Se existe alguém em nossas vidas que merece todo o respeito são as empregadas domésticas. Fazem um serviço de uma rotina infernal, sempre com um bom humor danado. Eu tenho muito respeito por esta criatura que convive conosco diariamente, e que no silêncio de seu trabalho faz a felicidade da família. Vamos nesta comunidade falar das nossas ´secretárias do lar´", diz o moderador da comunidade.
Há comunidades que não fazem piada, mas são um fórum para patroas falarem de problemas com suas empregadas. "Patroas X Diaristas", com 101 membros, é uma dessas.
Comentando a criação da comunidade, uma participante diz: "Você respondeu exatamente o que todas nós, que procuramos cumprir nossa parte no contrato e nas obrigações pertinentes a relação Patroa x Diaristas, gostaríamos de responder. A Justiça, principalmente a trabalhista, não é cega (imparcial). Ela é paternalista. Mesmo com tudo certinho, vivemos com o fantasma da dissimulação e más intenções sempre nos assombrando, sem saber a quem recorrer para nos amparar. Mas, somos brasileiros! Não desistimos!"
A série de reportagens Poucos Direitos, Muitos Deveres - um projeto da BBC Brasil e do BBC World Service Trust - aborda as condições de trabalho de empregados domésticos brasileiros em cinco países e contou com apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Fonte:
BBC Brasil
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/284650/visualizar/
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