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Segunda - 07 de Agosto de 2006 às 08:43

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É de Santo Amaro da Purificação, e não de Londres ou Nova York, que virão os sons e as palavras mais disputados pelo público que comparecerá à Festa Literária Internacional de Parati. Evento cujo modelo é importado de festivais de literatura estrangeiros, a Flip começa na quarta-feira, às 21h30, com um show da cantora baiana Maria Bethânia -a primeira atração da programação a ter os ingressos esgotados.

A apresentação será na tenda da Matriz, no centro histórico da cidade fluminense. "O fato de o espetáculo ser em um lugar fechado e climatizado limita um pouco, mas não tem importância, porque Parati vale", disse a cantora em entrevista à Folha, por telefone.

O show, assim como a festa propriamente dita, vai homenagear o baiano Jorge Amado (1912-2001). Bethânia, que considera o autor uma das principais influências de sua geração, deve ler alguns trechos das obras que começou a conhecer por meio do pai, que gostava de ler seus textos em voz alta, e da escola, em Santo Amaro da Purificação, cidade onde cresceu, na Bahia. "Depois, já dona de minha vida, fui gostando dele mais e mais..."

Lembranças

Sempre que ouve falar de Jorge Amado, Maria Bethânia, 60, diz que lembra da infância e do pai. "Ele era um leitor compulsivo, um funcionário de correio que tinha uma bela voz e gostava de ler em voz alta. Tanto prosa como poesia. E isso nos cativava, pois éramos crianças e queríamos entender aquelas palavras", conta.

Apesar de "A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água" (1961) e "Navegação de Cabotagem" (1992) serem os livros de Amado preferidos da cantora, não foi destes que ela escolheu trechos para serem lidos no espetáculo de abertura da Flip. As passagens foram selecionadas de "Os Velhos Marinheiros" (1961) e "Bahia de Todos os Santos" (1945) --uma espécie de guia da cidade de Salvador.

Bethânia também deve cantar "É Doce Morrer no Mar", composição de Amado com Dorival Caymmi, e "Coração Ateu", canção de Sueli Costa interpretada pela cantora na novela "Gabriela", exibida pela Rede Globo em 1975.

Além de um apanhado de seu repertório tradicional, a cantora também promete mostrar algumas canções inéditas que estarão no seu próximo CD, no qual está trabalhando atualmente. O álbum, que deve sair em outubro ou novembro, terá duas partes (que depois serão vendidas separadamente).

Parati e Santo Amaro

Morando no Rio há mais de 40 anos, Bethânia conta que desde então freqüenta Parati, que acha parecida, em alguns aspectos, com Santo Amaro da Purificação ("tem essa coisa de ser cidade de mar, de mangue"), e acha muito positivo o fato de a festa ter se tornado uma referência no circuito cultural internacional. "Uma feira literária, nesse lugar mágico, tem um significado imenso. É a única saída que posso entender para o Brasil. Essa idéia de que devemos conversar, ouvir outras pessoas de outras culturas, ler o que estão escrevendo, é algo deslumbrante."

A participação de Bethânia na Flip já era para ter acontecido em anos anteriores. "Sempre quis e nunca deu, agora que conseguimos encaixar na agenda, estou muito feliz", diz a artista, que não conferiu ainda a programação nem os convidados deste ano, mas que quer assistir a algumas mesas.

Amado para estrangeiros

Apesar de reconhecer a grande influência da obra de Jorge Amado no imaginário do brasileiro sobre a Bahia ("todas as expressões mais típicas dos baianos estão ali"), Bethânia conta que se impressiona muito com a maneira como a obra do autor causa impacto nos estrangeiros. "Jorge levou a Bahia para o mundo. Quem é de fora delira com a Bahia profunda que surge de seus livros. E sempre me perguntam sobre as putas e os bêbados, os cheiros e as comidas que estão no universo dos seus romances."

Homenagem

Nas edições anteriores, a Flip celebrou as obras de Vinicius de Moraes, Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Desta vez, para homenagear Amado, além do show de Bethânia, haverá atividades dentro da programação principal e na Flipinha --seção dedicada a jovens e crianças, na Tenda Azul.

Na quinta-feira, dia em que o escritor completaria 94 anos, uma mesa reunirá Myriam Fraga, diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, o poeta e ensaísta Alberto da Costa e Silva e Eduardo de Assis Duarte, autor de "Jorge Amado - Romance em Tempo de Utopia".

Até o fechamento desta edição, ainda havia ingressos para todas as mesas da Flip. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.flip.org.br.





Fonte: Folha Online

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