Mães alcoólatras, filhos instáveis
A professora Elisângela Castelo, 31, disse que na escola municipal em que atuou em Cuiabá, os professores praticamente adotaram uma menina de seis anos. Ela chegava na escola com fome e suja. Os professores sempre tinham disponível uma roupa, toalha e sabonete. Se não providenciassem o banho, a criança passava a semana toda suja. Era o irmão de 10 anos que "cuidava" da menina. A mãe é alcoólatra e a criança tinha marcas freqüentes de agressões pelo corpo.
No Brasil, milhares de crianças e adolescentes convivem com algum parente que sofre de alcoolismo. Pesquisadores estimam que eles podem representar até 11,2% da população do país, ou quase 20 milhões de brasileiros.
Estudos recentes mostram que crianças e adolescentes filhos de pais com o vício estão mais sujeitos a desequilíbrios emocionais e psiquiátricos. Normalmente, o primeiro problema identificado é um prejuízo severo na auto-estima, com repercussões negativas sobre o rendimento escolar e as demais áreas do funcionamento mental. Esses adolescentes e crianças tendem a subestimar a própria capacidade e qualidades. De acordo com o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), filhos de mulheres que consomem álcool em excesso durante a gravidez estão sujeitos à síndrome alcoólica fetal, que pode provocar seqüelas físicas e mentais no recém-nascido.
A professora relata que no bairro 1º de Março, onde atuou muitos anos, quatro meninos que passaram a infância e a adolescência de bar em bar, acompanhando a mãe, acabaram ingressando na delinquência. Usam álcool e drogas. Um já foi baleado dentro da escola quando fugia de outros marginais.
Os professores, que atuam na escola, já sabem que os sintomas de alcoolismo na família são facilmente perceptíveis nos alunos. Agressivos, com dificuldade no aprendizado não se socializam. O Instituto Nacional de Saúde fez um estudo envolvendo 350 crianças de sete anos de idade e descobriu que 46% dos que nasceram de mães alcoólatras tinham um índice de Quociente Intelectual (QI) abaixo de 79. Apresentavam grave retardamento mental.
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