Líbano e Articulações chavistas por Isaac Bigio
Qava, o povo que reclama o reconhecimento do local onde Jesus fez o seu primeiro milagre (convertendo água em vinho), sofreu a pior matança que o Líbano recebeu nesta guerra. Os bombardeios de Israel contra o Líbano no domingo (30/07) produziram aproximadamente 60 mortes civis (37 crianças). O bombardeio ocorreu ao completar-se 10 anos do incidente em que aviões israelenses mataram mais de 100 civis que buscavam abrigo numa sede da ONU.
O bombardeio ocorreu 18 dias após o início dos ataques de Israel ao Líbano e visam castigar o Hizbolah. Entretanto, em meio a todo esse colapso, poucos membros do Hizbolah foram mortos, porém, as mortes no Líbano já superam 800 (quase todos civis) e em Israel estão em torno de 50 (a maioria é militar).
Olmert iniciou uma ofensiva terrestre como quem quer lograr um milagre: erradicar a Hizbolah do sul de Líbano, no entanto, tal ofensiva apenas aumenta a autoridade daquele grupo no Líbano e no mundo árabe. O Hizbolah é que está aproveitando-se dos massacres contra a população e deseja transformar o sangue derramado, cor de vinho, em água, para sua limonada.
Chávez realiza duas campanhas eleitorais neste ano. Uma para se reeleger presidente venezuelano e outra para introduzir-se ao Conselho de Segurança da ONU, de onde deseja pisar no calo do texano Bush. Para tanto, ele manteve contato com 53 votantes africanos presentes num encontro que participou em Gâmbia. Deseja receber também, dezenas de votos árabes e muçulmanos quando das visitas que fará ao Irã e Qatar.
Chávez quer se aliar aos países que Bush etiqueta como “párias”. Depois de ter se encontrado com Fidel e Evo em evento do Mercosul, viajou a Bielorússia (que tem o governo europeu o mais “resistido” pelo Ocidente), à Teerã , ao Vietnam e gostaria de ir também à Coréia Norte. Ele esteve na Rússia onde deseja receber estímulos para a nacionalização do petróleo e pretende ainda, prestar apoiar a Síria, o Irã e o Hamas.
Entretanto, Bush olha faz com que o mundo inteiro participe do liberalismo político e econômico, Chávez quer ser o campeão dos 'anti-neoliberais' que defendem a intervenção do Estado na economia e ao mesmo tempo, um mundo 'multi-polar', embora várias das suas forças aliadas tenham um mau registro com relação aos direitos humanos.
Vietnamização
Uma potência militar forte pode vencer um Estado débil em uma guerra convencional de movimentos. Porém, quando os invadidos buscam estruturar uma guerrilha enraizada na população civil e passam a uma prolongada resistência, a hermética do conflito se altera. Então, o cerne dos vencedores não pode ser a força bruta, senão uma série de medidas políticas, incluindo, algumas que busquem atrair e apaziguar os conflitantes.
Israel e EUA têm sabido vencer várias guerras no Oriente Médio. Mas, os EUA no Iraque em 2003, bem como Israel no Líbano em 1982-2000 têm se atacado devido ao fato de terem empurrado a vastos setores populares aos braços de uma guerrilha.
O atual bombardeio indiscriminado hebreu sobre o Líbano não poderá erradicar o Hizbollah. Mas fará com que, a maioria dos libaneses mortos sejam civis e que toda esta nação rechace o ataque, longe de debilitar ou isolar o Hizbollah, na verdade, está é concedendo-lhe mais apoio e legitimidade interna. Se Israel voltar a ocupar o Líbano, poderíamos voltar a ter um novo Vietnam.
Bombas em Bombaim
O macro-atentado de 11 de julho de 2006 em Bombaim (o maior centro urbano da Índia) se assemelha aos de 11 de setembro nos EUA, ao de 11 março em Madrid e ao de 07 de janeiro em Londres, onde ocorreram ataques sincronizados, surpresos e indiscriminados contra passageiros em estações.
Os principias grupos armados separatistas da Cachemira, assim como antes fizeram o ETA basco e o IRA irlandês, têm condenado a carnificina. No caso de Bombaim, se o autor se tratar de algum grupo ligado ao Al Qaeda, certamente houve uma modificação em sua estratégia. Até o momento Bin Laden tem patrocinado ataques a civis das potencias cristãs que têm ocupado o Iraque. Sabidamente, a Índia é de crença hindu e não apoiou a Guerra do Iraque.
Apesar de ter um presidente muçulmano, os pan-islâmicos o rejeitam, devido ao fato de o mesmo impulsionar a participação do Paquistão na sangrenta ocupação de Cachemira (província muçulmana vizinha ao Paquistão) e por que em seu governo atuam xenófobos que têm massacrado muçulmanos.
O presidente venezuelano esteve o 14 e 15 de Maio em Londres. Pese a que esta não foi uma visita oficial e que ele não se reuniu com nenhuma autoridade do governo, sua visita foi a que mais cobertura recebeu por parte da mídia britânica com relação a qualquer outro mandatário latino-americano.
Basicamente ele veio propor 4 questões: Uma, a tratar de influir na crise do laborismo; Dois, querer impedir um ataque contra Irã; Três, a procurar promover um Tratado de Comércio (TCP) entre os Povos com Londres; Quatro, a criar uma corrente em prol de um "socialismo do Século XXI”.
Chávez demonstrou que ele vem adquirindo um importante papel político internacional. Se antes Blair tratou de captá-lo a ele e a outros líderes do mundo para seu projeto de "Terceira Via" na qual se combinavam aspectos da via econômica thatcheriana com elementos sociais, agora ele tratou de captar a asa esquerda do laborismo para que aceite sua visão de um socialismo do Século XXI.
A visita do presidente venezuelano se deu no momento em que Blair recebe sua pior derrota eleitoral e após ter sido o premier laborista mais popular, agora é o que tem os índices de aprovação mais baixos. Em momentos nos quais grande parte do partido laborista pede sua saída e que o centro liderado por Gordon Brown lhe substitua, Chávez se aglutinou com o setor que se reclama socialista e implicitamente sugeriu a Livingston, prefeito de Londres, que se prepare como possível futuro premier.
Chávez também quis aproveitar a paralisia iraquiana para acrescentar o que setores do laborismo vão se distanciando de qualquer nova aventura militar no Irã. Denunciou que qualquer ataque contra Irã faria que o petróleo se dispare a mais de $US 100 o barril, além do que, se produzirá um escalado militar que poderia implicar uma guerra entre Israel e Irã, a mesma que poderia desencadear um conflito nuclear.
A Londres ele lhe propôs fazer-lhe chegar petróleo e gás baratos a seus setores mais pobres, através de um programa que levaria a um tipo de intercâmbio no qual Venezuela deveria beneficiar-se de algumas exportações baratas inglesas (como trigo, por exemplo). Sua tese de fazer TCPs não se restringem a Cuba e Bolívia, senão também, com grandes capitais.
Por último, ele quer pressionar para que a social democracia de uma reviravolta. Depois de ter aceitado a gradual desarticulação do estado de bem-estar social e as nacionalizações que foram sua obra depois da II pós-guerra mundial, Chávez lhes pede que olhem a Venezuela, com um alto crescimento econômico enquanto se amplia a participação do estado na economia e a distribuição da riqueza. Seu “socialismo” não passa por guerras ou a destruição do Estado, senão pela democratização do mesmo.
Ao acusar a Bush de ser o novo Hitler e o maior genocida da humanidade ele procura aparecer como o líder de um bloco de países que se oponham a suas invasões e dentro dos nacionalistas e socialistas como uma volta ao velho protecionismo que o neo-liberalismo quis enterrar. Os combustíveis baratos que envia desde Argentina até o Haiti e suas alianças com Irã ou com a esquerda da social democracia apontam a criar um contrapeso a Bush e à aliança que este teve com Blair dentro da social democracia, bem como a de ir procurando fazer com que Rússia, China e Índia vão se demarcando e dando passo a um mundo mais multipolar.
Das armas às urnas Tendência leva grupos radicais a trocar as armas pelas urnas eleitorais.
LONDRES - O ETA, uma das grandes insurgências nascidas dentro da União Européia, propõe abandonar as armas e converter-se num movimento legal como o fez o IRA na Irlanda. Com isto, o mundo estaria assistindo à transformação de dois grandes grupos armados. Seguirão estes passos outros movimentos armados do Ocidente, como os grupos radicais da América Latina?
Há dois anos do atentado contra passageiros nos trens de Madri, o grupo separatista basco ETA anunciou cessar fogo definitivo. Estes separatistas se propõem seguir o caminho que seus camaradas do Exército Republicano Irlandês (IRA, em inglês) iniciaram e que os conduziu ao desarmamento. O paradoxo é que um dos fatores que tem galvanizado tal evolução foi o fato de o Atlântico Norte estar sendo golpeado pelos macro-atentados perpetrados por fundamentalistas islâmicos, oriundos do Oriente Médio. Estes, em vez de ter provocado a radicalização dos grupos subversivos da região, geraram o oposto. O assassinato indiscriminado contra civis provenientes de todas as classes, etnias e credos gerou uma repulsa em massa contra o terrorismo. Tanto, que vários dos setores sociais que apoiavam o IRA e o ETA lhes pediram uma mudança.
O 11 de Setembro de 2001 produziu novas reações. Por um lado, conduziu a incursões no Afeganistão e Iraque, as mesmas que substituíram tiranos hostis a Washington. Por outro lado, a rejeição popular aos macro-atentados de Nova York, Washington, Madri e Londres conseguiu ir pressionando o IRA e o ETA. Isto, por sua vez, veio impactando outras guerrilhas que compartilham com eles um discurso socialista: desde os zapatistas mexicanos às Farc e o ELN colombianos.
O ETA e o IRA foram as dois grandes organizações armadas da Europa Ocidental. Ambas sustentam que representavam os direitos de suas respectivas nações (bascos e irlandeses) de deixarem de ser as últimas colônias dos que foram os maiores impérios reais atlânticos (Espanha e Reino Unido). Sua estratégia original consistia em produzir violentamente a saída das tropas espanholas ou britânicas de suas respectivas nações, a fim de ´liberá-las´ e torná-las ´repúblicas socialistas´.
Democracia representativa
Nessa luta conseguiram representar uma minoria importante da população basca ou da norte-irlandesa que os via como seus representantes. Assim se formaram partidos legais, onde os pró-insurgentes chegavam a capturar sempre mais do oitavo dos votos. No entanto, um maior avanço destes movimentos ficava freado pelo fato de que a maioria da população aceita a democracia representativa e uma solução negociada.
O 11 de Setembro teve um impacto muito importante para os irlandeses, porque uma grande parte deles vive ou tem parentes nos EUA. Muitos que financiavam ou apoiavam o IRA sofreram na própria carne o que era um ataque terrorista. Depois do 11-S, o IRA anunciou seu desarmamento. Depois do atentado do 7 de julho de 2005, em Londres, terminou aceitando o desarmar-se por completo.
O atentado do 11 de Março de 2004, em Madri, produziu uma estranha relação: produziu a queda do maior inimigo do ETA, o Partido Popular (PP). José María Aznar, cujo partido encabeçava as enquetes pré-eleitorais, quis tratar de capitalizar eleitoralmente a repulsa ao 11-M jogando-lhe a culpa aos insurgentes bascos deste atentado.
Se o ETA tinha se catapultado nos anos 60, com ações audazes contra Francisco Franco, os sucessores do generalíssimo (o PP) potenciaram-se no poder transformando aos radicais bascos no inimigo número um. O ´fator ETA´ inicialmente levantou os pós-franquistas e depois produziu sua queda. A dureza com a que o PP reprimiu e isolou aos separatistas bascos não os destruiu, mas os obrigou a ir renunciando à luta armada.
Domesticação
Encontramo-nos num mundo no qual estamos vendo a domesticação das antigas insurgências armadas de origem socialista que nasceram durante a Guerra Fria, (de fins de 40 a fins dos 80). Depois de seu fim, constata-se o incremento de relativamente novas insurgências fundamentalistas islâmicas.
Estas mudanças obedecem um padrão mais geral. Durante a bipolaridade, as potências socialistas apoiavam movimentos de libertação nacional contra o imperialismo ocidental. No entanto, desde 1989 vemos que os poderosos partidos comunistas que governavam o bloco soviético se desaprumaram, caindo junto com seus sistemas de economias estatizadas e planificadas sob um partido único.
De outro lado, os partidos comunistas que regem a China, o Vietnã e mesmo Cuba procuraram fazer as pazes com o capitalismo, atrair investimentos privados multinacionais e pacificar seus meios geográficos. Em contrapartida, no Oriente Médio o fundamentalismo islâmico, que antes foi armado ou financiado pela CIA para atacar a Moscou, agora se vira contra Ocidente.
Estes movimentos expressam uma rejeição à globalização liberal, mas de uma perspectiva diferente à dos marxistas. Estes querem manter o conservadorismo social e teocrático, bem como criar uma poderosa elite econômica e política muçulmana que faça contrapeso à ocidental.
Históricas transformações
Desde fins dos anos 80, vemos um processo mundial no qual as velhas guerrilhas de raízes marxista vão abandonando o caminho de proclamar ou querer revoluções socialistas para ir propondo processos de paz e desarmamento. Fazem concessões aos sistemas de mercado e democracias representativas.
A Organização para Libertação de Palestina (OLP) aceita reconhecer Israel, em troca de maior autonomia e promessas de independência em certas áreas da Palestina histórica. Nelson Mandela, na África do Sul, renunciou à violência para desarticular instituições do segregacionismo racial sul-africano, se transformando num estadista que expande os interesses e as influências de seu pujante setor empresarial.
Na Irlanda do Norte os republicanos destroem suas armas depois de ter saboreado o poder como ministros regionais ou em várias prefeituras (incluindo a capital, Belfast). Depois que abandonaram sua estratégia de querer jogar militarmente aos britânicos para reunificar à ilha irlandesa, agora crêem que podem lutar pela unidade com a República da Irlanda enquanto mantêm certa presença britânica em sua região.
Insurgentes da América
Na América Latina, as antigas guerrilhas da Nicarágua, El Salvador e Guatemala se converteram em partidos legais. De todas elas, só os sandinistas conseguiram tomar o poder violentamente, ainda que depois não seguiram o caminho de Cuba (desapropriar todas as empresas e criar uma economia planificada, regida por um partido anti-capitalista) e optaram pela manutenção de formas de mercado e democracia representativa (que, depois, a oposição usaria para deslocá-los pacificamente do governo).
Com Bush
O interessante é que a América Central é a região hispânica que mais segue política, econômica e diplomaticamente George W. Bush. Um dos fatores que potencializa os conservadores centro-americanos é o espectro das antigas insurgências que pudessem trazer caos econômico e a cessação do fluxo da ajuda ou as remessas que provêm dos EUA.
Zapatistas
A antiga guerrilha prefere optar por ser uma oposição quase permanente no plano eleitoral, pois crê que voltar ao caminho armado afetaria novos interesses contraídos e poderia isolá-la num contexto internacional adverso. Os zapatistas anunciaram uma "turnê" legal do subcomandante Marcos depois de doze anos do início de sua rebelião. Sua guerrilha os ajudou a conquistar popularidade e hoje concebem que a mudança deve vir mediante uma pressão popular que pode fazer transformações graduais, quem sabe com um governo inicial de López Obrador.
Na América do Sul, os antigos montoneros chegaram ao poder no Uruguai, mas só depois de ter aceitado o sistema político e econômico – a ponto de ser hoje um dos principais apoiadores do governo da Frente Ampla de Tabaré Vásquez. Na Bolívia, Álvaro García Linera se converte no primeiro ex-chefe de uma guerrilha marxista andina a chegar a ser vice-presidente constitucional. Deixou seu objetivo de querer destruir ao Estado boliviano para repensá-lo com uma república socialista e procurar sua reforma.
Focos guerrilheiros
Neste continente ficam só dois importantes focos guerrilheiros: Peru e Colômbia. No Peru, a subversão foi derrotada, mas o Mrta e o pedestrianismo agora propõem ir substituindo a luta armada para ir para uma solução negociada. Víctor Polay, chefe do Mrta, quis ser candidato. Abimael Guzmán, chefe senderista, ainda anima surtos armados na selva central, mas sua meta é procurar um acordo de paz, algo que seguramente poderia conseguir melhor se a centro-esquerda (e em especial Humala) chegar neste 28 de julho à presidência.
Na Colômbia, o M-19 e setores do EPL foram se integrando à legalidade desde os anos 80. As tentativas para que as Farc pudessem se integrar ao sistema falharam quando nos 80 os quadros do braço legal que animava as Farc (a União Patriótica) foram assassinados e quando o presidente colombiano, Álvaro Uribe, decidiu cancelar a zona de distensão que se lhes tinha permitido ao sul da selva. Uribe, conquanto chegou ao poder prometendo mão de ferro, teve de adaptar-se pragmaticamente a uma conjuntura internacional diferente. Com um subcontinente que gira à centro-esquerda e com uma evolução internacional das guerrilhas marxistas para acordos de paz, ele foi lançando anzóis às Farc e ao ELN para que venham se acoplando ao sistema.
A gradual incorporação das antigas subversões armadas de origem socialista aos sistemas que eles antes catalogavam de "democracias burguesas" é algo que vai gerar diversas oposições. Por uma parte, há setores militantes marxistas baseados nos sindicatos, para quem isto é uma mostra da "descaracterização" da guerrilha pequeno-burguesa. Eles seguem promovendo protestos e greves em massa como se que quisessem chegar a uma "insurreição proletária".
Por outra parte, há setores duros na direita que crêem que não se pode dialogar com o terrorismo e que a repressão a estes movimentos deve seguir e estar unida a uma legislação que permita maiores atrativos ao investimento privado. Dado o giro dos grandes partidos e governos comunistas e social-democratas do mundo para a aceitação da globalização do mercado, a tendência é que as insurgências baseadas em sua influência ideológica e logística vão procurando deixar do caminho das metralhadoras, para abraçar o caminho das urnas.
A presidente do Chile é motivo de inspiração política aos presidenciáveis do Peru.
LIMA - Na segunda-feira 13 de março de 2006 (LatinReporters.com) a socialista Michelle Bachelet, presidente do Chile, iluminou o vizinho Peru, onde haverá eleições (presidencial e legislativa) no dia 09 de abril. O pleito deverá ser próximo grande evento eleitoral na América Latina. Uma outra mulher, Lourdes Floras é a favorita à presidência.
O candidato presidencial de esquerda, o peruano Javier Diez Canseco rebatizou o seu Partido Democrático Décentralisateur. Agora chama-se Partido Socialista, como o de Michelle Bachelet no Chile.
Também candidata, Susana Villaran, fundadora do Partido para a Democracia Social, quer entrar ao palácio presidencial de Lima sob uma bandeira nomeada doravante Concertação... A exemplo da Concertação Democrática, coalizão da qual Michelle Bachelet foi a candidata vitoriosa no Chile.
O eterno candidato presidencial peruano da Internacional Socialista, Alan Garcia, afirma com naturalidade o seu triunfo à correligionária Bachelet.
Em Lima, a sua rival democrata-cristã é Lourdes Floras, favorita das pesquisas e grita também pela vitória: Michelle Bachelet é mulher como ela. O triunfo Michelle combinado aos democratas-cristãos chilenos, poderia abrir psicologicamente o caminho para Lourdes, que poderia se tornar a primeira mulher presidente no seu país.
Em segundo lugar nas intenções de voto dos Peruanos, o nacionalista Ollanta Humala, ex-tenente-coronel apoiado pelo militarista venezuelano Hugo Chavez. Humala julga positivo o triunfo Michelle Bachelet pelo fato de ser competência da esquerda.
Como Humala e Chavez mostram-se, talvez, pelo menos até agora, raízes militaristas e a democracia teriam, doravante, bom convívio na América Latina.
Contudo, o Partido Socialista chileno de Michelle Bachelet foi fundado pelos partidários de um golpe de Estado militar, efetuado em 1932 pelo general socialista Marmaduque Grove...
Palestina: O Hamas chega ao Poder A contragosto de Bush, grupo tido como terrorista é eleito por voto popular para governar a Palestina.
Um milhão de palestinos votaram na quarta-feira, 25/01, no II parlamento de sua história, produzindo um “tsunami” que gerou impactos em todo o Oriente Médio e, inclusive no mundo.
O Hamas, uma das quatro organizações fundamentalistas islâmicas, presente na lista norte-americana dos mais perigosos grupos terroristas do planeta, chegou ao poder na Palestina. Não o fez com as armas, mas através das urnas. Conquistou a maioria absoluta da assembléia legislativa palestina.
Se o Hamas tivesse ultrapassado um quarto dos votos, todo o processo de paz com Israel poderia cair por terra. No entanto, essa vitória absoluta, foi algo tão inesperado e completamente estarrecedor a nível internacional.
O Hamas se gaba de ter organizado dezenas de atentados suicidas. Este método foi inicialmente empregado pelo Hizbola (grupo de xiitas libaneses) contra alvos militares. Mais tarde, o Hamas o aplicou para alvos civis indiscriminados. Depois a Al Qaeda aprofundaria o citado método até fazê-lo em grande escala e em solo das potências ocidentais.
Depois do 11 de Setembro de 2001, a prioridade da única superpotência do globo é a luta contra o “terrorismo islâmico”. Ao polarizar o mundo entre Bin Laden, Bush pôde incrementar sua popularidade interna e o papel dos EUA no mundo. No entanto, essa política começou a mostrar que gera fortes resistências armadas no Iraque e no Afeganistão.
'O Hamas venceu, contudo, usando as eleições, as mesmas que foram o grande presente que as intervenções de Bush ofereceram para o Oriente Médio'
Agora, pela primeira vez desde o 11 de setembro, triunfa um daqueles movimentos “terroristas”, contra os quais tem se dedicado toda a diplomacia norte-americana. O Hamas venceu, contudo, usando as eleições, as mesmas que foram o grande presente que as intervenções de Bush ofereceram para o Oriente Médio.
Israel e o Ocidente não lhe gostaram muito do resultado, mas o que está por vir é uma alternativa ainda mais indigerível. Se Arafat reconheceu abertamente o direito de Israel em 77% da terra que eles originariamente reclamavam como sendo da Palestina, o Hamas faz questão de pedir a destruição do citado estado e sua substituição por uma república muçulmana. Se Arafat era um maometano secular, o Hamas propõe uma sociedade teocrática, baseada na lei do Alcorão. Se Arafat era considerado um terrorista em pele de cordeiro, o Hamas se orgulha de explodir ônibus com crianças hebréias.
Os EUA e Israel não podem atrever-se a desconhecer as eleições e a lançar uma nova invasão sobre Gaza. Isto minaria toda sua estratégia que procura liberar o Oriente Médio. De outro lado, não podem negociar com um novo governo palestino que não reconheça a Israel.
A fim de dissolver esse impasse Bush e Olmert deixam aberta uma porta para um possível dialogo com o Hamas. Pedem-lhes que renuncie, se quiserem destruir Israel. Porém, o Hamas não mencionou isso em seu programa eleitoral e já faz um ano que mantém uma trégua com Israel. Alegam que não voltarão a lançar bombas humanas, desde que Israel não lhes provoque.
O fato de um dos piores grupos terroristas chegar ao poder mediante eleições patrocinadas por EUA pode ser visto como um maremoto que impactou todos os lados. Eleições em Egito (o maior país Árabe) poderiam dar uma forte representação (e quiçá, uma vitória) à Irmandade Muçulmana (o partido que criou o Hamas), assim como as eleições argelinas chegaram a ser vencidas pelos islamitas. No Iraque e no Líbano, grupos que organizaram atentados no passado compartilham o poder. No Irã, a dureza de Bush produziu um efeito contraposto e o novo presidente deseja agora um projeto nuclear próprio.
Em Israel existem vários setores que vão desde os pacifistas até militares crentes que as intervenções de Sharon não fizeram mais que debilitar aos palestinos moderados e fortalecer os radicais. Em março e abril de 2004, mísseis israelenses tiraram a vida do Xeque Yassin (líder espiritual do Hamas) e depois, de seu sucessor Rantissi. Esses assassinatos, em vez de desmoralizar o Hamas, deram-lhe mais popularidade e o empurrão que precisaram para que conquistassem o coração de muitos setores palestinos, crentes de que nada se conseguiu com dez anos das negociações de Fatah.
Os resultados palestinos se dão a dois meses das eleições gerais israelenses e, justo quando uma enquête do diário Tem Aretz anunciando que as facções do Likud estavam em seu pior momento (baixando a participação de 17 para 14, num congresso de 120 membros) enquanto os laboristas cresciam de 19 para 21 e o centro de Sharon (Kadima) avançava de 40 para 44 membros.
'Diferentemente de Mandela ou Adams, o Hamas não passou por um processo de prévio abrandamento para se chegar ao poder. E chega ao governo mantendo intacto seu arsenal e sua pregação militarista'
Os sionistas duros trataram de tirar vantagem de um possível governo do Hamas para procurar polarizar à opinião pública hebréia a seu favor. No entanto, o Hamas cometeria uma incrível torpeza se retomasse atualmente, atentados contra Israel e, com isso, provocasse novamente a ascensão da direita de Netanyahu. Olmert tirou como lição que já não é possível anexar todos os territórios ocupados na guerra de 1967. Fazê-lo, implicaria em ter que dar cidadania israelense a mais de três milhões de árabes com os quais, a população judia se converteria em apenas 45%, tendendo, futuramente, a ser ultrapassada demograficamente pelos hebreus.
A proposta da ultra-direita sionista (Moledet) de transferir a todos os palestinos é inviável e por isso os facções realistas sabem que devem abandonar as zonas cuja demografia lhes é impossível alterar. Depois da vitória do Hamas, Olmert poderá acelerar a construção do muro com o qual procura anexar o Leste de Jerusalém e o Oeste da Cisjordânia, mas sabe que deverá ir se retirando unilateralmente.
Para o sionismo pacifista o triunfo do Hamas se deve ao fato de que as facções hebréias encostaram aos moderados árabes tradicionais. De forma que seu papel seria o de voltar a construir essa relação.
Paradoxalmente, o triunfo do Hamas pode abrir a médio prazo novas negociações. Por um lado, é de esperar um governo de aliança entre Kadima e os laboristas que vão desgarrando-se de zonas da Faixa Ocidental. Por outro lado, o Hamas se vê obrigado a administrar um Estado e deve procurar evitar que se corte a ajuda internacional (a mesma que ameaça o Hamas nesse sentido) e deve procurar manter seu status quo com Israel.
Alguns setores pacifistas palestinos crêem que talvez o Hamas permitiria para a sobremesa uma melhor negociação. Por um lado, a Palestina dialogaria com mais peso e por outro, o Hamas poderia garantir um acordo final. Diversos políticos ocidentais esperam que o poder apazigúe o Hamas. Mas, diferentemente de Mandela ou Adams, o Hamas não passou por um processo de prévio abrandamento para se chegar ao poder. E chega ao governo mantendo intacto seu arsenal e sua pregação militarista.
A vitória do Hamas é uma derrota muito dura para Bush, pois abre precedente para outros movimentos islâmicos e “terroristas”. Poderia conduzir a um confronto armado entre palestinos e ainda, entre estes e Israel. Enquanto durarem as eleições israelenses é improvável que qualquer candidato significativo hebreu fale em negociar com o Hamas, mas uma vez passadas as eleições, é possível que se crie um clima nesse sentido.
O que podemos estar vendo pode ser uma nova partição. Desta vez não seria feita pelos pombos de ambos bandos (Laboristas e Fatah), mas pelas alas mais duras de ambos os lados. Essa seria mais uma convivência que futuramente poderia culminar numa frágil saída bi-estatal.
A morte do Zarqawi
Londres - Bagdá e Washington eliminaram ao chefe de Al Qaeda no Iraque. O anúncio se deu com cautela, pois a cada semana a guerra interna produz centenas de mortos e as insurgências não deixaram de crescer. Esta morte coincide com a finalização da formação do “governo de unidade nacional” iraquiana e seria usada para manter a ampla coligação que vai desde os fundamentalistas xiitas do Irã, até ex-guerrilheiros curdos pró-EUA.
Abu Musab Zarqawi comandava uma significativa insurgência anti-ocidental, ainda que ele foi alienando a muitos iraquianos ao atacar mesquitas e civis atiçando uma guerra da minoria sunita contra a maioria xiita, a qual permitiu gerar setores populares interessados em denunciar-lhe.
Zarqawi era o líder binladista mais importante morto desde setembro de 2001. Osama Bin Laden e Mula Omar seguem intocados. As mesmas tropas ocupantes que hoje festejam sua eliminação são aquelas que, quando da invasão ao Iraque permitiram a Al Qaeda, quem não tinha maior peso ali durante a ditadura de Hussein, poder crescer tanto naquele país.
Nasce um novo País: Montenegro
Iugoslávia, União Soviética e Checoslováquia formavam as três federações de repúblicas socialistas da Europa Oriental. De 1991 a 1993, todas suas 23 repúblicas componentes (exceto Montenegro) proclamam suas independências.
Assim, todas elas procuravam romper com o planejamento socialista multi-nacional para abrirem-se ao investimento privado e ao mercado mundial.
A única que faltava fazê-lo era Montenegro, a menos povoada e etnicamente mais similar à sua confederada: Macedônia. Seus 650.000 habitantes compartilham, em sua maioria, a língua e a fé sérvias.
A União Européia (UE) estaria disposta a aceitar a secessão de Montenegro, porém, se no referendo de 21 de maio de 2006, os separatistas obtivessem um mínimo de 55% dos votos.
E por pouco mais de 1.600 votos, os separatistas obtiveram sucesso. Montenegro acredita que, doravante, poderá acercar-se mais à UE. A Sérvia, uma das repúblicas pós-socialistas que menos demonstrou abertura ao Ocidente, sofre sua quinta ruptura, fica sem saída ao mar e agora deve preparar-se, pois, também Cosovo deverá procurar a legalização de sua independência.
9 de abril
Há 3 anos, os Estados Unidos tomou Bagdá golpeando as autocracias nacionalistas do Oriente Médio, que mantinham um forte controle do Estado sobre a economia e a sociedade.
Além de conseguir com que o governo do Iraque fosse deposto, que o da Síria se tornasse moderado, o do Líbano se aposentasse, que a Líbia se desarmasse, também provocou a vitória dos antiimperialistas radicais à presidência do Irã e da Palestina e que as guerrilhas crescessem no Iraque e no Afeganistão.
Com as guerras “antiterroristas”, Bush quis latino-americanizar” o Oriente Médio buscando liberalizá-lo econômica e politicamente. Mas os Estados Unidos, ao ter se preocupado demais com o Oriente Médio, permitiram que a América do Sul fortalecesse os que podem tornar a região num Oriente Médio, com uma versão pan-andina e constitucional do que foi o nacionalismo pan-árabe.
Hoje, pela primeira vez no Peru, um velazquista pode chegar ao poder pelo voto. Além disso, a Bolívia celebra um aniversário da revolução de 1952, tendo um sindicalista índio como presidente e um ex-guerrilheiro como vice-presidente.
ETA: adeus às metralhadoras?
O grupo separatista ETA, da Espanha, inicia um cessar fogo permanente. Assim, segue a rota do IRA, grupo norte-irlandês que primeiro fez uma trégua, logo foi entrando à legalidade e ao governo regional e acabou desarmando-se.
Enquanto os conservadores britânicos foram quem iniciaram a aproximação com o IRA, na Espanha o Partido Popular (PP) segue propondo que o ETA deva ser achatado.
Se o ETA se protelou faz 40 anos, atos audazes contra Franco, o PP pós-franquista se consolidou no poder propondo mão de ferro contra o terrorismo.
Enquanto o rechaço ao ETA foi um dos pilares de Aznar, seu partido perdeu o poder quando Aznar acreditou que poderia conquistar mais redutos eleitorais após o macro-atentado do Al Qaeda em 11 de março de 2004. Aznar jogava a culpa do incidente ao separatismo armado basco. O ETA foi melhor ainda, pois sem disparar um tiro, pôde ajudar a tombar o PP quando demonstrou falsidade.
Depois do 11 de março, o ETA chegou à conclusão que o terror espanta adeptos e que mais poderia ganhar com a intervenção política.
O PP não conseguiu achatar o ETA, mas ao tê-la isolado e desarticulado por demais, está o obrigando a mudar. Se o franquismo abraçou a democracia representativa, o governo de Zapatero almeja convencer o ETA a render suas metralhadoras sob a condição de estabelecer-se no caminho das urnas e da papelada.
Bush na Índia
O presidente da democracia mais poderosa do mundo visita a democracia mais numerosa. A Índia tem recebido líderes da Austrália, Estados Unidos, França, Japão, Reino Unido e Rússia é a maior rival da China na Ásia.
Além de apresentar um grande crescimento econômico, em 20 anos, o país pode superar os chineses em população. Durante a Guerra Fria, Estados Unidos e a Índia se chocavam. Washington apoiava o Paquistão (com quem a Índia guerreou por três vezes) e Nova Delhi se posicionava ao lado de Moscou (incluindo o Afeganistão) e promovia o alinhamento.
Agora, os EUA e a Índia se aproximam para conter a China e o nacionalismo islâmico. A Índia está no meio do arco muçulmano, que vai de Marrocos a Indonésia e conta com a segunda maior população maometana do mundo.
Embora os comunistas tenham crescido na Índia, o país foi se liberalizando. O comércio entre os indianos e os norte-americanos supera os USS 20 bilhões e os investimentos dos EUA por lá se multiplicaram por mais de 60 vezes em 15 anos.
Mardi Gras: carnaval em Nova Orleans
Nova Orleans tem oito dias de diversão. Os Estados Unidos celebram seu maior carnaval (o festival Mardi Gras) justo onde recentemente houve um dos piores desastres norte-americanos. Somente seis dos mais de 150 milhões de metros cúbicos de escombros deixados pelo furacão Katrina foram removidos até o momento. A mega festa se realiza em zonas pertencentes a um set de Hollywood rodeado de desolação. O festival busca mascarar a miséria causada por negligências.
Há cada vez mais furacões fortes devido ao aquecimento global produzido pelos gases causadores do efeito estufa e que não são controlados (especialmente pelos Estados Unidos). Nova Orleans sofreu sua maior tragédia devido às construções que urbanizaram os pântanos, que sempre defenderam a região de grandes ciclones.
Bush demonstrou ser bom em enviar tropas ao Iraque e ao Afeganistão. Porém, não o suficiente para salvar seus próprios habitantes e menos ainda para fazer uma evacuação organizada das vítimas.
Três pólos
Hoje, há na América Latina três tipos de governos constitucionais. As ditaduras direitistas estão fora da agenda e a "proletária" em Cuba está abrindo-se ao mercado.
Diferentes liberalismos pró-Bush residem no México, América Central e Colômbia. Neste países, são incentivados o investimento privado e são promovidos os Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos.
Chile, Uruguai e Brasil são governados por sociais-democratas que aceitam privatizações e mantêm uma economia monetarista, porém, com políticas sociais e pró-direitos humanos. Esses buscam uma boa relação com os EUA, enquanto apresentam-se mais autônomos diante de Washington e favoráveis à União Européia e a comunidade sul-americana. A Venezuela é o epicentro de um nacionalismo que se choca com Bush, se opõe ao TLC e planeja maior protecionismo social e econômico e “soberania nacional” perante os recursos naturais. Sua influência se faz sentir na Bolívia, Argentina, Panamá e Equador.
Lúcia ‘deslúcida’
Alberto Fujimori e Lucía Pinochet encontram-se detidos no Chile. O primeiro, acreditou que os Estados Unidos permitiria usar seu principal aliado no Cone Sul (Chile) para poder retornar ao seu país. Já a segunda, acreditou que Bush a permitiria ingressar em sua nação, pois ela é filha daquele que foi o ditador sul-americano predileto de Washington.
Lucía foi detida em Miami, quando quis escapar do Chile. Depois de estar presa durante dois dias, foi repatriada. Bush pai apoiou as ditaduras de Pinochet e Fujimori. Por isso, Lucía e Alberto pensavam que o filho os protegeria.
Seu erro foi não entender que os neo-conservadores norte-americanos estão muito à direita, acreditam que com o fim do “perigo soviético” eles precisam parar de apadrinhar ditadores anti-comunistas e que para os seus interesses globais o melhor é manter uma imagem ‘democratizadora’.
A América Latina no Mundial de Futebol
Acabam de ser sorteados os oito grupos do Mundial de futebol. Muitos comentaristas esportivos incidirão sobre quais são os mais quentes, a partir do ponto de vista do futebol. Nesta coluna nos centraremos em analisar os latino-americanos na competição, dentro de um contexto geo-histórico.
Para este mundial se classificaram oito seleções americanas. Quatro são sul-americanas: Equador, Paraguai, Brasil e Argentina. Dos são médio-americanas: México e Costa Rica. Trinidad Tobago é caribenha, ainda que geograficamente é parte da América do Sul. Por último está os EUA, onde um sexto de sua população é hispana.
No entanto, a forma na qual estas esquadras foram juntadas não guarda a mesma proporção que a de outros continentes. Em nenhum grupo há mais que um dos cinco seleções africanas ou das três asiáticas. Considerando ainda que no Grupo H se têm lado a lado os dois únicos membros dos países árabes que disputarão a Copa da Alemanha em 2006: Tunísia e Arábia Saudita.
Por outro lado, há três das oito séries (E, G e H) onde não há um só país de América Latina e do Caribe, enquanto nos dois primeiros grupos há duas seleções desta região. No Grupo A competem Equador e Costa Rica contra as potências centro-européias Alemanha e Polônia. No Grupo B, Paraguai e Trinidad Tobago enfrentam os dois titãs do norte europeu: Inglaterra e Suécia.
O Brasil está no grupo mais fácil. Compete contra Croácia (que tem uma boa esquadra) e contra a Austrália e o Japão, nações vizinhas entre si, mas com pouca experiência e tradição futebolística. No entanto, os cangurús vêm após eliminarem o Uruguai, a única nação que derrotou a Brasil em casa e lhe arrebatou uma Copa do Mundo (em 1950).
A Argentina está no chamado “grupo da morte” lutando contra Sérvia e Montenegro (que, igualmente à Croácia fizeram parte de antiga Iugoslávia) e Holanda. A Costa do Marfim, assim como a Sérvia vem de uma brutal guerra civil.
O México está em um grupo relativamente estável. Ali se dá o primeiro caso na história de um mundial em que Portugal enfrentará uma de suas ex-colônias africanas, a Angola. Este grupo reúne três equipes que podem se entender através do “portunhol”. Irã, o quarto integrante desse Grupo D, tem um alfabeto, religião e história totalmente desconectado do meio latino e católico dos demais rivais.
Uma novidade que veremos neste mundial é o peso das torcidas latinas. Na Europa há cerca de 5 milhões de latino-americanos. Os equatorianos (que chegam a quase dois milhões nesse continente) deverão prestigiar em massa a sua seleção. Isso, certamente lhes ajudará a afirmar sua identidade tão golpeada no meio de nações com uma língua e cultura tão distintas, cujas condições de trabalho, muitas vezes, são por demais duras.
Estando em Londres vi o poder dessa torcida. Um dia organizamos com outros colegas do Minka News, um jornal para os andinos do exterior, a projeção do partido Equador-Colômbia. Este se deu num cinema de Elephant and Castle, onde estão os “Pós Azuis” e se encontram diversos produtos andinos no seio da capital inglesa. Marchas de equatorianos seguiam com suas caras pintadas e suas bandeiras tricolores, entoando seus cânticos, apesar que só se escutavam a eles mesmos, pois os jogadores, só se via numa tela gigante, já que estavam tocando a pelota a milhares de quilômetros de distância.
Al Qaedas
Bin Laden pode ter sido surpreendido pelos atentados do dia 7 de julho. Dificilmente ele pode ter preparado o atentado de Londres em sua caverna centro-asiática.
Al Qaeda não existe ou é uma forma genérica de se referir a uma miscelânia de grupos independentes. As FARC, Sendero Luminoso, ELN, Hezbola e o Hamas são partidos armados, que operam em um determinado país onde querem tomar o poder e contam com uma direção centralizada. Enquanto isso, a Al Qaeda parece ser uma mistura internacional, que busca vingar o Islã das invasões ocidentais.
Dessa forma, fica mais difícil vigiá-los ou chegar a acordos com uma cúpula. Um desses grupos terroristas, como Al-Takfir wa al-Hijra, quis matar Osama. Há 25 anos, Bush pai ajudou a estruturar a Al Qaeda para combater Moscou. Hoje, as guerras promovidas por Bush filho deram o primeiro passo para o desenvolvimento de novos grupos de terror fundamentalista, os mesmos que se seguiram dispersando enquanto duraram ditas intervenções.
O efeito Bush
A eleição do ‘duro’ Ahmadineyad como presidente iraniano (com 62% dos votos) mostra que as guerras de Bush podem produzir resultados contrários.
O Irã, desde a revolução de 1979, tem como seu principal regime adversário os EUA e no mundo muçulmano, o Israel. Por isso, de 1980 a 1988 o ocidente alentou que Saddam Hussein queria invadir-lhes o território. Ao ocupar o Afeganistão e o Iraque, Bush quis ‘atemorizar’ o Irã (que está ao meio de ambos países), obrigando-o a ir-se distanciando do Hizbola (Líbano), Hamas (Palestina), da Síria e da Venezuela.
O Ocidente – que apóia a ala ‘moderada’ do regime nacionalista, fazendo com que esta ‘apazigúe’ a política exterior e ‘libere’ a economia de Irã – aponta para as ‘reformas’ de Khatami (presidente 1997-2005) frente à ‘intransigência’ do líder supremo revolucionário (Jameini) e desejava que o favorito Rafyansani fosse eleito à presidência.
No entanto, o intervensionismo norte-americano, está gerando um efeito inverso: no Irã venceu amplamente o candidato mais anti-ocidental e no Iraque crescem os protestos e a ‘resistência’.
O Brasil no concerto oriental
Seul, Tóquio e Beijing lideram as três principais economias orientais. O Brasil, que tem a maior população economica dentro das nações sub-desenvolvidas ocidentais, procura melhorar seu comércio e as relações com todas elas.
Enquanto durante a ditadura militar Brasília tendeu a ser um suporte de Washington, agora com Lula, culminou numa evolução na política exterior brasilera para perfilar-se como uma potência com seu próprio pé no mercado e na política mundial.
Lula deseja que o Brasil comande um bloco sul-americano e que incremente seus intercâmbios com a Rússia, China, Índia, UE, mundo muçulmano e extremo oriente.
Enquanto o México vê a China como uma concorrente em manufaturas baratas ante o mercado norte-americano, a América do Sul vê o colosso asiático como um comprador de suas exportações, geralmente matérias primas (soja, cobre etc.), além de um importador de capitais.
Os 400 empresários e técnicos brasileros que acompanharam a Lula em sua visita à China, em abril de 2004, se mostraram entusiasmados com o país que se converteu no quinto investimentor em seu sub-continente.
A China se comprometeu ante ao Brasil, de reformar o Conselho de Segurança, mas veta que seu rival (Japão) possa ter uma vaga fixa. Brasília mantém uma boa relação com Tóquio, seu parceiro no bloco para integrar-se à vaga permanente ao Conselho. O Brasil é a nação sul-americana onde há mais investimentos e pessoas de origem japonesa.
O expansionismo chinês
Moscou e Pequim traçaram caminhos distintos até o capitalismo. No primeiro caso, a União Soviética se desintegrou em 15 repúblicas, o Partido Comunista perdeu o poder e a economia passou por uma hiper-recessão.
No segundo, o Partido Comunista tem mantido seu monopólio do Estado para evitar qualquer secessão e promoveu um espetacular salto econômico.
Pequim não só quer reverter a possibilidade de que o Tibete ou Sinkiang possam ser autônomos, como também incorporar Hong Kong e Macau – e ambiciona fazer o mesmo com Taiwan.
Taiwan está politicamente separado do continente há mais de 55 anos, embora sempre tenha proclamado ser uma parte da China. A independência da ilha do projeto chinês implicaria um duro golpe nas fortes tendências expansionistas de Pequim. Estas vêm se acentuando na medida em que o colosso asiático alcança maiores taxas de crescimento e aumenta seu peso na economia e na política globais.
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