Operação busca pistas de grilagem em terra indígena
A decisão é avançar floresta amazônica adentro para descobrir novos focos de derrubada de mata e pessoas que, antes de sair dali, poderão dar informações sobre quem tem vendido e comprado pedaços daquele território que, pela Lei, deveria ficar à parte de negociações fundiárias, pois tem como finalidade garantir a existência dos índios no exercício de sua cultura. Alguns nomes de suspeitos começam a se repetir.
A ação reúne a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Polícia Federal (PF) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Seus alvos se estendem à extração ilegal de madeira (ilegalidade freqüentemente conjugada à grilagem) e ao garimpo.
Na última quarta-feira, a operação encontrou seis pessoas instaladas ilegalmente na terra indígena. Elas prestaram esclarecimento à polícia e tiveram que deixar o local, após entregar aos agentes as foices, a motosserra, as espingardas de baixo calibre e o revólver 38 que portavam.
Deixaram para trás barracões improvisados na mata, mantimentos, alguns alqueires de queimadas (pelo padrão regional, um alqueire corresponde a cerca de cinco campos de futebol) e clareiras a caminho do mesmo tratamento. Isso sem falar no próprio esforço, já que os seis afirmaram ainda não ter recebido o pagamento integral pelo serviço.
O delegado que chefia a Operação Kayapó, Antônio Delfino de Castro Neto, explicou que, paralelamente ao trabalho de campo, a PF deve instalar inquérito para começar a tomar depoimentos das pessoas envolvidas. "Isso deve acontecer nos próximos dias", adiantou.
Os invasores ouvidos pela operação relataram que quem encomendou o trabalho negou que o local fosse terra indígena demarcada. Na região, é comum o ciclo de queimar uma área, transformá-la em pastagem e colocar gado nela cerca de um ano depois.
Ontem, policiais e funcionários da Funai e do Ibama sobrevoaram a terra indígena. Segundo o chefe do Núcleo de Apoio da Funai em Tucumã (PA), Odenildo Coelho da Silva, o número de pontos desmatados parece ser o mesmo do fim do ano passado quando o órgão obteve imagens de satélite da área, mas alguns deles mais do que dobraram em extensão. Também por via aérea, puderam ser vistas áreas incendiadas recentemente, ainda com restos de fumaça, a quilômetros de distância de qualquer estrada vicinal.
A previsão é de que a operação, com a qual colaboram diretamente dois Kayapó, dure um mês. Na aldeia Kikretum, uma das que compõem a terra indígena, os guerreiros se pintaram para combate e avisam: se insistirem depois desta investida, os kuben (brancos) intrusos terão problemas.
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