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Sexta - 04 de Agosto de 2006 às 13:03

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Uma das passagens mais dramáticas da época do regime militar brasileiro, a cruzada da estilista Zuzu Angel em busca do filho Stuart, chega hoje aos cinemas de todo o país. O filme, dirigido por Sérgio Rezende, conta a história de Zuzu desde a chegada ao estrelato no mundo da moda até sua misteriosa morte, cinco anos após ter recebido a notícia da morte do filho, capturado pelos militares. A produção traz um grande elenco, liderado por Patrícia Pillar no papel principal e Daniel de Oliveira como Stuart Angel.

Considerada até hoje um dos grandes nomes da moda brasileira, Zuzu Angel foi exemplo de luta, coragem e inconformismo. Sérgio Rezende sabia que a história renderia um um bom filme e colocou todo seu empenho durante dois anos para que ele se concretizasse. O diretor conta que esta "foi uma decisão tomada de estalo, definitiva, segura, irrevogável", já a partir do primeiro encontro com Joaquim Vaz de Carvalho - que havia sido vizinho da família Stuart -, quando ele o procurou com a proposta de dirigir o trabalho.

Rezende sabia que o desafio seria grande e não tinha qualquer ilusão a respeito, pois já havia adaptado para o cinema as histórias de Tenório Cavalcanti, Lamarca, Conselheiro e Mauá. Ou seja, sabia que lidar com personagens reais impõe certos limites, os limites da verdade do personagem, que é preciso inicialmente descobrir, para depois revelar. São filmes que não se fazem somente com a imaginação, onde o trabalho de pesquisa é a base fundamental do processo criativo.

Em vista dessa preocupação, o que Rezende criou foi um retrato fiel de uma história que ainda hoje, passados cerca de 30 anos, causa muita comoção. O filme retrata bem os anos 60 e 70 e suas características mais marcantes, além de demonstrar uma forte preocupação em ser fiel ao estilo Zuzu Angel. O que demandou uma intensa pesquisa, um verdadeiro desafio enfrentado pela figurinista Kika Lopes. Ela coordenou o trabalho de idealização e confecção dos cerca de 500 looks para o elenco, 54 só para a personagem-título.

O filme começa mostrando um mundo de pernas pro ar nos anos 60 com transformações políticas e econômicas. No Brasil, a carreira da estilista começava a deslanchar, enquanto seu filho Stuart ingressava no movimento estudantil, contrário à ditadura militar então vigente. As diferenças ideológicas entre mãe e filho eram profundas.

Mas um episódio coloca as diferenças de lado e reforça o grande amor que a mãe tinha pelo filho. Stuart acaba sendo preso, torturado e morto. É quando se inicia a via-crúcis de Zuzu Angel em sua busca pela libertação do filho e, uma vez revelada a morte, em busca do corpo. Incansável, a estilista não se conformou e nem se calou. Suas manifestações ecoaram no Brasil, no exterior e em sua moda. A cruzada de Zuzu mostrou o que acontecia nos porões da repressão e, evidentemente, incomodou os militares.

Durante os cincos anos que precederam sua morte, a mineira de Curvelo - nascida Zuleika -imbuída da perseverança e da coragem inesgotáveis de mãe, usou seu prestígio como criadora de moda brasileira vanguardista para expor prisões, torturas e mortes promovidas pela ditadura militar no Brasil. O próprio assassinato de Stuart era um bom exemplo. Zuzu recebeu a notícia pelo correio, graças ao preso político Alex Polari, que descreveu: "Ele foi arrastado por um jipe pelo pátio interno da Base Aérea do Galeão, com a boca no cano de descarga do veículo". Polari relatou ainda que também ouviu Stuart gritar pedindo água e dizendo que ia morrer. Logo depois, viu seu corpo ser retirado da cela ao lado.

Além de fazê-lo por documentos e dossiês, Zuzu usou a criatividade para denunciar o que estava acontecendo. Desenvolveu uma coleção estampada com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e motivos bélicos, além de tarjas pretas. O anjo -ícone de sua marca -ferido e amordaçado tornou-se também o símbolo de Tuti, apelido do filho. Assim, inaugurou, em Nova York, o desfile-protesto e a moda politizada, em uma apresentação realizada no consulado do Brasil nos Estados Unidos. Era sua arma contra o descaso em relação aos apelos feitos às autoridades brasileiras que não resultaram em qualquer esforço para esclarecer a morte.

Zuzu acabou tornando-se figura indigesta para muita gente. Então, passou a ser seguida, a receber ameaças pelo telefone e teve sua loja, no Leblon (área nobre), incendiada. Nenhum desses sinais foi suficiente para calar a mãe. Até que um estranho incidente lhe tirou a vida. Tudo foi feito para que parecesse um acidente corriqueiro. A morte de Zuzu Angel, em 14 de abril de 1976, às três da madrugada, na saída do Túnel Dois Irmãos da Estrada da Gávea, no Rio de Janeiro, só foi reconhecida como assassinato nos anos 90.




Fonte: Gazeta Digital

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