Transporte agrícola cresce 40% no Mato Grosso
No caso da soja, por exemplo, o plantio começa a partir do dia 15 de setembro, no Médio Norte mato-grossense. Apesar da proximidade do início da lavoura, as aquisições de fertilizantes estão em ritmo lento.Embora não haja levantamento do percentual de agroquímicos adquiridos pelos agricultores até o momento, o diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja/MT) e coordenador da Comissão de Agricultura do Sindicato Rural de Rondonópolis (210 quilômetros ao Sul de Cuiabá), Ricardo Tomczyk, frisa que a quantidade é inferior a 70%, número que representa o volume de adubo comprado, nesta mesma época, em anos anteriores.
O gerente da transportadora Rodogrande, empresa com sede em Rondonópolis, Luiz Carlos de Souza, destaca que todos esses fatores provocaram acúmulo na quantidade de mercadorias a serem transportadas, o que fez com que as empresas não tivessem condições de suprir a demanda. Para agravar ainda mais a situação, muitas transportadoras deixaram o Estado no último ano em função dos baixos preços do frete. De acordo com o gerente executivo da Associação dos Transportadores de Carga de Mato Grosso (ATC), Miguel Mendes, as empresas migraram para estados onde o frete é mais valorizado e que possuem melhor infra-estrutura de transporte, como é o caso de São Paulo, Paraná e Goiás.Ele lembra ainda que nos três estados o preço do óleo diesel é mais baixo em função da alíquota de 12% no Imposto sobre Comercialização de Mercadorias e Serviços (ICMS). Em Mato Grosso o ICMS incidente sobre o produto é de 17%, ou seja, 41% acima da taxa adotada nas outras praças.
Segundo ele, o diesel consome 60% do faturamento das empresas no Estado, o que quer dizer que a cada R$ 1 mil que entram no caixa das transportadoras, R$ 600 são para cobrir as despesas com o combustível. Mato Grosso possui ainda a desvantagem de contar com um dos custos operacionais mais elevados do país. “As péssimas condições das estradas eleva os gastos com a manutenção do veículo”, observa.O gerente da transportadora Agotran, Moacir Francisco Dal Orsoleta, de Rondonópolis, conta com uma frota de 23 veículos. Contudo, acredita que se dispusesse de 50 caminhões todos estariam rodando, em função do aumento na procura pelos serviços da empresa. Ele lembra que a safra de cana-de-açúcar no interior paulista atraiu muitas empresas que atuavam no segmento de agronegócio em Mato Grosso. Enquanto o frete de uma tonelada de soja de Rondonópolis até o Porto de Santos, em São Paulo, custa cerca de R$ 130, o transporte da mesma quantidade de açúcar do interior paulista até o porto vale R$ 55.
O supervisor operacional da Botuverá Transportes, empresa que opera em Rondonópolis, José Carlos Cavalcante, lembra que o trecho que liga Mato Grosso ao Porto de Santos mede 2,2 mil quilômetros. Já a distância medida a partir das principais cidades produtoras de açúcar no interior de São Paulo é de em média 500 quilômetros. A relação entre as distâncias e os valores pagos pelo frete mostram, segundo ele, que é mais interessante deixar Mato Grosso para escoar açúcar nesta época do ano. Enquanto as distâncias são 4,4 vezes maiores o preço pago pelo frete a partir do Estado é apenas 2,3 vezes superior.Oferta e procura Dal Orsoleta, da Agotran, destaca que a crise por que passa o setor agrícola está fazendo com que o preço do frete em Mato Grosso contrarie a lei de mercado. Quando a frota de veículos não é capaz de atender a demanda por transporte, a tendência é que haja elevação no preço do frete. Porém, como os agricultores estão endividados não há margem para negociação de preços. “Com o baixo preço das commodities [devido à desvalorização do câmbio] os produtores não estão tendo condições de pagar mais para escoar as mercadorias”, explica.
Empresas operam com déficit em MT As transportadoras de carga no Mato Grosso estão trabalhando no vermelho, conforme o gerente executivo da ATC, Miguel Mendes. A defasagem entre o preço do frete e os custos operacionais chega a R$ 0,42 por quilômetro rodado. Segundo ele, as empresas gastam em média R$ 2,02 por quilômetro no transporte de grãos. Já o preço cobrado pelas transportadoras é de R$ 1,60 por quilômetro. Isto significa que ao escoar uma carga de Rondonópolis até o Porto de Santos, por exemplo, o déficit é de R$ 924. O cálculo leva em consideração a distância de 2,2 mil quilômetros entre as localidades.O gerente da transportadora Agotran, Moacir Francisco Dal Orsoleta, lembra ainda que nos últimos três anos o valor do frete no Mato Grosso sofreu desvalorização de em média 14,36%. Ele lembra que levar uma tonelada de grãos até o Porto de Paranaguá, no Paraná, custava R$ 130. Agora, o frete para o mesmo trecho sai por R$ 110, o que significa uma variação negativa de 15,39%. Já a queda no valor do frete até o Porto de Santos foi de 13,34% no período, passando de R$ 150 para R$ 130 por tonelada. Em oposição à baixa no frete, o óleo diesel registrou inflação de 22% este ano em comparação com os valores praticados em 2004.
Naquele ano o litro do combustível era vendido por cerca de R$ 1,70 em Rondonópolis. Atualmente o produto é comercializado a R$ 2,08 na bomba. Em cidades do Norte do Estado como Sorriso e Lucas do Rio Verde ao litro chega a valer até R$ 2,25. Para Dal Orsoleta, os preços praticados no Estado são muito elevados. Ele compara o valor com o cobrado no município de Itumbiara, na divisa entre Goiás e Minas Gerais: “Lá o litro do diesel pode ser adquirido por R$ 1,79”, destaca. O preço é quase 14% inferior ao cobrado em Rondonópolis.
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