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Agronegócios
Sexta - 04 de Agosto de 2006 às 07:46

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A melhoria constante da produtividade é fundamental para ter lucro na pecuária. Cuidar bem da sanidade do rebanho é uma das decisões mais importantes. Afinal, custa pouco - estudos do CEPEA/Esalq indicam que os produtos veterinários representam menos de 4% das despesas totais com o gado - e faz uma grande diferença. “Gado doente perde peso, pode até morrer e exige mais investimentos do pecuarista”, explica o médico veterinário Edson Bordin, gerente de serviços técnicos da Merial Saúde Animal. (fonte: Cruzeiro do Sul Online) Embora cresça a conscientização dos pecuaristas quanto à importância da sanidade animal, a preocupação hoje ainda é maior em relação às doenças mais conhecidas, como febre aftosa, raiva dos herbívoros, brucelose, carrapatos e vermes redondos (as “lombrigas”).

“Existe, porém, uma gama de outros inimigos da saúde animal, como outros gêneros de parasitos que acometem os bovinos. É o caso da Fasciola hepática, parasitose que acomete o fígado e as vias biliares de muitas espécies animais, em especial os bovinos, ocasionando graves prejuízos econômicos à pecuária mundial”, ressalta Bordin. “A Fasciola hepática, além de ser a principal causa de condenação de fígados no abate, causa os prejuízos já conhecidos das parasitoses: redução de peso, redução da produção leiteira, queda na fertilidade, atraso no crescimento e aumento do custo terapêutico no tratamento de freqüentes infecções bacterianas secundárias, e em alguns casos, até mesmo a morte do animal”. Além disso, a fasciolose também é considerada uma importante zoonose. Ou seja, é uma questão de saúde pública, já que acomete o homem, hospedeiro acidental do parasito, que não raro demonstra grave quadro clínico quando parasitado. Edson Bordin explica que o ciclo evolutivo da Fasciola hepática requer dois hospedeiros: um vertebrado e outro invertebrado, geralmente os moluscos aquáticos do gênero Lymnaea (caramujos) que servem como hospedeiro intermediário.

O hospedeiro vertebrado é infectado ao ingerir pastagem contaminada com metacercárias incistadas na pastagem e que através do intestino chegam ao fígado por onde migram como fasciolas juvenis até atingirem a vesícula biliar onde se instalam e se tornam adultos. Os ovos não embrionados são liberados pelas fasciolas adultas e eliminados junto com as fezes. Esses ovos se desenvolvem na água com a formação de miracídios que, uma vez nos moluscos, se desenvolvem e dão origem às cercarias, que são liberadas na água onde migram para objetos sólidos (exemplo: folhas de capins), e se transformam em metacercárias. Estas infectarão um novo hospedeiro, completando seu ciclo. “Em sua fase aguda, a fasciolose é causada pela súbita invasão do fígado por grande número de parasitos imaturos, ocasionando destruição do órgão pela migração, insuficiência hepática e hemorragia na cavidade peritonial, levando à hepatite aguda hemorrágica. O fígado incha e torna-se hiperêmico (avermelhado), com pequenas hemorragias na superfície externa. No caso de os animais resistirem à fase inicial, o parasito alcançará o ducto biliar, atingindo o estágio adulto, manifestando gradativamente os sinais clínicos da fasciolose crônica à medida que aumentam de tamanho e maturidade”, informa o gerente de serviços técnicos da Merial.

A doença tem distribuição mundial, principalmente em regiões onde as condições climáticas são adequadas para os moluscos que servem como hospedeiro para o parasito. No Brasil, a fasciolose já foi detectada em diferentes regiões, com destaque para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina, a partir de estudos baseados em dados de frigoríficos, dados epidemiológicos das propriedades de origem dos animais e avaliação das condições de manutenção do agente. Em São Paulo, por exemplo, estudos realizados pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) apontaram a ocorrência da fasciolose em uma propriedade na região de Presidente Prudente. Dados do SIF indicaram mais de 4 mil condenações de fígado em 120 mil animais abatidos.. Desse total, 88 condenações decorreram do parasitismo por Fasciola hepática, correspondente a 2,12% do total de lesões hepáticas catalogadas no período.

De acordo com o professor da UNOESTE Haroldo Alberti, no Estado de São Paulo, a doença tem grande ocorrência nos Vales do Ribeira e do Paraíba, pelas condições climáticas e facilidade da proliferação do caramujo. Ainda em São Paulo, o professor alerta para o registro de incidência da doença em capivaras, animal considerado selvagem e protegido pelo IBAMA, mas que pode contribuir na proliferação da fasciola para os bovinos. Em Santa Catarina, estudo realizado pelo Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em cinco municípios do extremo sul do estado, examinou bovinos de raça, sexo e idade diferentes, coletadas em 61 propriedades. Nada menos do que 63,9% dos animais estavam infectados pela Fasciola hepática.

Segundo Antonio Pereira de Souza, Prof. de Doenças Parasitárias da Udesc, o rebanho bovino catarinense está em torno de 3.2 milhões de cabeças, das quais cerca de 700 mil estão nas regiões do Vale do Itajaí e Litoral Catarinense, onde se encontra o maior percentual de bovinos parasitados (em torno de 30%). “As principais razões que explicam esse fato são: o clima, a topografia do terreno, terrenos alagadiços e a existência de canais para irrigação de arroz que facilitam a disseminação da Lymnaea. Nas demais regiões do Estado esse índice não ultrapassa a 0,5%”, explica o professor. No Paraná, durante atividade de inspeção de carnes desenvolvida em um abatedouro no município de Bocaiúva do Sul (PR), detectaram-se diversos fígados de bovinos parasitados por Fasciola hepática. Assim, especialistas Universidade Federal do Paraná (UFPR) realizaram um estudo para detectar o tamanho do problema na região. De 42 propriedades distribuídas nos municípios de Bocaiúva do Sul e Tunas do Paraná, identificou-se a infecção por F. hepatica em 10% das propriedades. Do total das propriedades, 17,7 % dos rebanhos ovinos e 8 % dos rebanhos bovinos estavam infectados. Assim, o estudo comprovou a existência da Fasciola hepática na região e do hospedeiro intermediário Lymnaea columella que está amplamente distribuído na área, constituindo risco como zoonose.

A veterinária Dagmar Diniz Cabral, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), fez uma análise da região mineira e afirma que na região de Uberlândia e Araguari, duas localidades onde há frigoríficos exportadores, não há casos. A incidência acontece na região de Ituiutaba e Ibiá. “Em Minas Gerais, porém, outro agravante do problema está no aumento da criação de ovinos, que geralmente são oriundos do Sul, região que sofre com a fasciola, podem levar a parasitose para Minas Gerais. Por isso é importante o combate à doença, que em números, significa cerca de 10% de perda do animal no momento da entrega no frigorífico”. Em linhas gerais, a forma crônica da doença tem sido comumente registrada nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Dessas regiões, vale lembrar que apenas no Sul do País - em especial em Santa Catarina e Rio Grande do Sul - é comum a doença fazer parte dos programas sanitários dos criadores. Nas demais localidades, nem sempre se avaliam as perdas econômicas atuais e futuras decorrentes desse parasitismo, daí a importância dos resultados dos estudos e de sua divulgação para alertar sobre a dimensão do problema.





Fonte: Cruzeiro do Sul Online

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