Para amigos de Fidel, regime será mantido até fim de bloqueio
"Enquanto o bloqueio americano durar, não muda o regime cubano. Assume o Raúl ou um daqueles jovens preparados para o poder, mas enquanto durar o bloqueio, que é um estado de guerra latente, não muda", afirmou Frei Betto em entrevista à Reuters.
Para ele, o povo cubano terá de resistir. "Tem que manter o espírito de resistência muito grande para preservar as conquistas."
Frei Betto, autor do livro "Fidel e a Religião", fruto de uma convivência com o líder cubano, disse que já esteve em Cuba 30 vezes. Ele manterá a viagem prevista para a comemoração do aniversário de 80 anos de Fidel no dia 13, mesmo após uma caravana que levaria brasileiros à ilha ter sido adiada para dezembro.
Apesar da proximidade com o líder cubano, Frei Betto garante não dispor de outras informações sobre a saúde de Fidel além das divulgadas pelo regime, mas acredita na recuperação do presidente. "Tem uma saúde de ferro. Deixou de fumar em 1985, cigarro e charuto."
LUTA CONTRA PROVOCAÇÕES
O arquiteto Oscar Niemeyer, eterno defensor do comunismo e do regime de Cuba, nunca visitou a ilha, mas já se encontrou diversas vezes com Fidel, inclusive em seu escritório no Rio de Janeiro. "Considero uma das figuras históricas mais significativas deste início do século", disse em entrevista por email.
Para Niemeyer, Raúl Castro está preparado para seguir a linha política de seu irmão e assim defender Cuba "contra todas as provocações e ameaças que lhe têm sido feitas, sobretudo pelo imperialismo norte-americano", disse o arquiteto de 98 anos.
Niemeyer, que entregou recentemente uma maquete para a nova embaixada brasileira em Havana, confirmou sua devoção a Fidel, a quem chamou de "um exemplo de coragem e idealismo".
Para o cientista político Emir Sader, outro entusiasta da revolução de Fidel, o inimigo de Cuba tem um nome: Estados Unidos.
"O problema do sistema cubano tem a ver diretamente com o bloqueio", disse Sader, coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "Cuba está sendo bloqueada há mais de 40 anos pela maior potência econômica, militar, tecnológica e midiática do mundo, então, deixem Cuba se defender."
Os EUA, que impõem um embargo econômico a Cuba desde 1962 para minar o regime de Fidel, intensificaram a chamada "guerra econômica" em 2005, lançando sanções que chegam até a limitar viagens à ilha para cubano-americanos e a compra de charutos e rum cubanos por norte-americanos.
DEMOCRATIZAÇÃO DA ILHA
Menos engajados com o regime cubano são o senador Eduardo Suplicy (PT) e o deputado Fernando Gabeira (PV), ambos simpatizantes do sistema no passado, mas que hoje aguardam a democratização da ilha.
"Respeito a figura (Fidel) e acho importante que ele possa contribuir na direção de uma maior democratização, para que a liberdade de imprensa e de expressão possa se tornar uma realidade crescente em Cuba", disse o senador, para quem o bloqueio econômico dos EUA também dificulta a situação cubana.
"O Brasil deve estimular (a democratização), não interferir", continuou Suplicy.
Gabeira, ex-guerrilheiro exilado e para quem o Brasil nutre uma visão romântica de Cuba, acredita que o governo de Lula deveria ter um papel maior na democratização da ilha.
"O Brasil se recusou ostensivamente a ajudar em uma abertura de Cuba. O Brasil foi a Cuba (em 2003) e Lula não recebeu os dissidentes. E também não condenou a prisão dos 70 intelectuais, nem o fuzilamento de cubanos", disse Gabeira.
Já Frei Betto considera que o governo brasileiro deve respeitar a autodeterminação de Cuba, ao mesmo tempo em que pode ajudar a derrubar o bloqueio estimulando organismos internacionais como a Organização dos Estados Americanos a incluir Cuba entre seus membros.
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