Ex-amante de chefões do pó faz Colômbia tremer

Imagine se uma famosa apresentadora de TV do Rio de Janeiro tivesse se envolvido com os dois traficantes mais poderosos da cidade e, anos depois, voltasse para revelar as relações entre eles e políticos influentes do País, além de detalhes de crimes de grande repercussão. Uma história parecida está parando a Colômbia, desde que a ex-modelo Virginia Vallejo deu entrevistas na TV acusando um ex-senador de ter sido o autor intelectual da morte de um candidato à Presidência em 1989, crime atribuído ao seu ex-amante Pablo Escobar.

Nos anos 80, Virginia já tinha causado espanto por ter sido amante tanto de Escobar, chefão do Cartel de Medellín, quanto de Gilberto Rodríguez Orejuela, do Cartel de Cáli. Semana passada, no entanto, a ex-musa, 56 anos, voltou a parar o país. Numa entrevista que teve a audiência comparada à da final da Copa da Alemanha, ela confirmou a versão que indica que o ex-senador Alberto Santofimio Botero planejou a morte do ministro Luis Carlos Galán Sarmiento, favorito à disputa presidencial de 1989.

"Esse homem é um assassino, a única coisa que não fez foi apertar o gatilho", disse Virginia sobre Santofimio, que se encontra preso e foi candidato à presidência duas vezes. Segundo a versão da beldade, ele teria planos, na época, de assumir a presidência e nomear Escobar como seu sucessor.

A musa teria acusado o político porque acreditava que ele tinha chances de acabar sendo absolvido. A denúncia fez com que muitos poderosos tremessem: revistas de grande circulação publicaram títulos como "Quem tem medo de Virginia Vallejo?"

Livro causa terror O medo de políticos que se relacionavam com os cartéis de drogas deve ter aumentado ainda mais depois que Virginia anunciou que vai escrever um livro, já disputado por editoras. O programa de TV que foi ao ar na terça-feira da semana passada, exibindo um vídeo com a entrevista de Virginia, teve a maior audiência do mês de julho na Colômbia e está entre os 10 mais assistidos no ano.

As reações entre autoridades colombianas não demoraram a acontecer e podem gerar conseqüências graves à ex-musa. Alguns políticos, como o senador Germán Vargas Lleras, que esteve com o candidato morto no dia de seu assassinato, pediram, inclusive, que ela fosse incriminada como cúmplice da morte de Galán, por não ter contado o que sabia na época. Virginia Vallejo se defendeu dizendo que esperou 12 anos para dar a sua versão dos fatos porque tinha que proteger a própria vida.

Apesar de ter sido excluída da alta sociedade colombiana depois que sua relação com Pablo Escobar veio à tona, chegando a ter que vender cosméticos para sobreviver, Virginia não perde a ternura ao falar do amante: "Me apaixonei por um filantropo, um homem amado por seu povo".

A decadência da estrela As declarações de Virginia ao jornal El Nuevo Herald, de Miami (EUA), e ao Canal RCN-TV, da Colômbia, foram consideradas por muitos colombianos "a história do ano". Parte do clamor popular com as revelações se devem ao status de musa que Virginia tinha nas décadas de 70 e 80.

Símbolo de glamour, a colombiana já foi apresentadora de TV, capa de várias revistas e socialite. A imagem de suas pernas ficaram famosas no país ao anunciar uma marca de meias.

Os anos de relação com narcotraficantes, no entanto, acabaram com sua imagem nas altas rodas da Colômbia. "Antes, se ela oferecia uma recepção ou coquetel, todas as pessoas importantes apareciam", disse um cineasta, amigo da ex-musa, acrescentando que as companhias influentes sumiram ao longo dos anos.

Bandidos com estilos diferentes O megatraficante Pablo Escobar Gaviria já foi considerado o criminoso mais procurado do mundo e chegou a ocupar a sétima posição entre os homens mais ricos do planeta, num ranking de 1989. Amante de Virginia no início dos anos 90, ele foi morto em 1993, durante confronto com a polícia colombiana.

Sua organização, o Cartel de Medellín, que teria matado mais de 4 mil pessoas, chegou a controlar grande parte do comércio de cocaína mundial. Entre seus "feitos" mais famosos está uma série de atentados para pressionar o governo contra sua prisão e extradição para os EUA.

Além de Escobar, Virginia foi amante também de Gilberto Rodríguez Orejuela, outro traficante poderoso, mas de estilo menos brutal. Ele fundou e liderou o Cartel de Cáli, principal rival do Cartel de Medellín, que dominou o mercado após a morte de Pablo Escobar. Gilberto acabou preso e extraditado para os EUA, onde cumpre pena.