Falta semente precoce
De todas as sementes da oleaginosa produzidas no Estado, 20% possuem ciclo curto, o chamado precoce, o que significa aproximadamente 1,4 milhão de sacas, com 40 quilos cada. Em contrapartida, a procura pelas cultivares cuja colheita acontece -- em alguns casos, em dezembro deste ano -- mais cedo indica que Mato Grosso vai precisar de aproximadamente 3,5 milhões de sacas, conforme estimativa do vendedor de sementes de Rondonópolis (210 quilômetros ao Sul de Cuiabá), Nicolau Cardoso Neto.
O presidente da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), Elton Hamer, destaca que a falta de sementes está afetando uniformemente todo o Estado. Segundo ele, nesta safra as cultivares precoces estão sendo mais procuradas por ficarem menos expostas à doença fúngica, ferrugem asiática. Por possuírem um ciclo menor, as variedades demandam ainda menor número de aplicações de fungicidas, o que reduz os custos de produção da lavoura.
Neto explica que a soja precoce é colhida, em média, dentro de 120 dias após o plantio. Já as variedades de ciclo médio ficam prontas após cerca de 130 dias e as de ciclo tardio podem ser colhidas somente após 140 dias.
Segundo ele, a soja que fica pronta mais rápido para a colheita necessita de no máximo duas aplicações de fungicidas. Enquanto isso, as variedades de ciclo médio demandam até três pulverizações e as que têm colheita tardia exigem cerca de quatro aplicações. Isto quer dizer que a escolha de uma variedade precoce ao invés de uma tardia, por exemplo, pode significar uma economia de até 50% nas despesas com controle da ferrugem asiática.
Em média, cada aplicação de fungicida feita na lavoura custa o equivalente a três sacas de soja por hectare. Como a oleaginosa está sendo vendida por cerca de R$ 20 (a saca de 60 quilos), as despesas com o controle da doença por hectare somam cerca de R$ 60. Dessa forma, ao optar pelo plantio de uma semente de soja com ciclo precoce o agricultor precisa ter em mente que vai gastar cerca de R$ 120 por hectare com aplicação de fungicida. A soja de ciclo médio exige gastos de aproximadamente R$ 180 por hectare e a tardia demanda em torno de R$ 240.
Neto destaca que no mercado mato-grossense existe cerca de oito variedades de soja precoce, entre elas a Conquista, Tucunaré, 6601 e a Codetec 219. Todas estão em falta. Cerca de 50% da produção mato-grossense de sementes é constituída de variedades de ciclo médio. Outros 30% possuem ciclo tardio. Em safras normais, os produtores intercalam o plantio de sementes com ciclos diferentes. Com isso a lavoura fica menos vulnerável a variações climáticas, uma vez que se houver algum incidente a perda não é total. Outra vantagem do escalonamento é que a lavoura não fica pronta ao mesmo tempo, garantindo maior tranqüilidade no momento da colheita.
PRODUÇÃO -- De acordo com Hamer, a produção de sementes de soja de um modo geral teve redução de 35%. Na última safra, Mato Grosso produziu cerca de 7 milhões de sacas de sementes, o que significa cerca de 280 mil toneladas do produto. Este ano, a incidência de chuvas durante o plantio e a seca na época da colheita das lavouras fizeram com que o volume caísse para 4,7 milhões de sacas. “A falta de sementes, portanto não se resume apenas às cultivares precoces, mas ao volume necessário como um todo”, frisa.
A falta de sementes, porém, não deverá desencadear redução na área plantada de soja. Isto porque os produtores vão importar de outros estados o volume necessário para viabilizar a temporada 06/07.
O presidente da Aprosmat considera que as aquisições externas poderão resultar em perdas na rentabilidade das lavouras devido ao uso de sementes vindas de outras regiões e não adaptadas às condições climáticas de Mato Grosso.
Comentários