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Internacional
Quarta - 02 de Agosto de 2006 às 10:13

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O líder cubano Fidel Castro, 79, surpreendeu a partidários e adversários na noite de segunda-feira (31) ao reconhecer que sua "saúde de ferro", "que já resistiu a todas as provas", foi debilitada, levando-o a se afastar do governo.

Fidel foi submetido a uma cirurgia no intestino e delegou provisoriamente o controle do governo cubano a seu irmão Raúl Castro, 75, informou nesta segunda-feira o governo cubano.

Os problemas intestinais não são novidade na saúde do presidente. Há cerca de dez anos, Fidel se ausentou prolongadamente da cena pública suscitando, como sempre, grandes especulações sobre a sua saúde. Reaparecendo muito mais magro, o presidente foi alvo de especulações sobre diabetes e outras doenças.

Segundo escritora brasileira Claudia Furiati, biógrafa de Fidel, o líder sofreu na ocasião de uma diverticulite, que provocou uma alteração na dieta do presidente.

Desde a vitória da Revolução Cubana em 1959, a saúde de Fidel tem sido tema de especulações e disputas políticas. Com poucas notícias oficiais, seus simpatizantes dizem que a saúde de Fidel Castro é "de ferro", enquanto detratores e inimigos já atribuíram a ele uma grande variedade de males.

O revolucionário também causou preocupação em Cuba quando, durante um discurso em junho de 2001, sofreu um leve desmaio sob o sol intenso.

Em outubro de 2004, quando uma queda acidental em um ato público na localidade cubana de Santa Clara (centro) provocou fraturas consideráveis em seu ombro direito e joelho esquerdo, Fidel pediu para seus médicos utilizarem anestesia local, a fim de manter o pleno controle do poder.

No final do ano passado, a imprensa americana --citando fontes da CIA (agência de inteligência americana)-- publicou uma reportagem afirmando que o presidente cubano estaria sofrendo do Mal de Parkinson e perdendo as habilidades físicas e mentais. Fidel ironizou a notícia.

Possibilidades

A "crise intestinal aguda com sangramentos persistentes" que acometeu o presidente cubano pode, segundo gastroenterologistas europeus e americanos, ser sintoma de um câncer de cólon, de uma hérnia intestinal ou de uma anomalia vascular.

Segundo o médico francês Gilles Lesur, do Hospital Ambroise Paré (Paris), a doença pode se tratar de uma "hemorragia de origem diverticular", uma doença benigna que provoca hemorragias graves com "sangramento no ânus", o que exige uma intervenção cirúrgica.

"A outra hipótese --acrescentou ele-- é um câncer de cólon".

Mas, em caso de "sangramento agudo", é mais provável que seja uma hemorragia ligada a uma diverticulite, ou seja, uma hérnia no interior da parede do cólon. "Há freqüentemente muitos vasos na região no fundo da hérnia, e uma pequena lesão provoca uma hemorragia", explicou Lesur.

Este tipo de hérnia encontra-se principalmente num segmento do tubo digestivo chamado sigmóide. "Forma-se um pequeno saco no exterior da parede e esses pequenos sacos podem infeccionar ou sangrar, o que produz sangramentos diverticulares que podem ser importantes", afirmou o médico Yves Benhamou, do Hospital La Pitié Salpêtrière (Paris).

Benhamou estima que, no caso de Fidel Castro, pode se tratar de um câncer ou "de uma lesão benigna muito vascularizada, como um angioma". As outras hipóteses seriam sobre doenças "bem mais raras".

Um angioma é uma má-formação vascular, que pode ter a aparência de manchas vermelhas na pele, e também aparecer no cólon, mas "raramente é preciso operar" para estancar a hemorragia neste caso, destaca Benhamou.

Em razão da idade do dirigente cubano, a causa mais provável do sangramento agudo é um tumor, que tem mais chances de ser "maligno do que benigno", explicou o médico do Hospital La Pitié Salpêtrière.

Como Lesur, Benhamou ressaltou que, no caso de câncer de cólon, as operações costumam ser programadas e não em caráter de urgência.

"Esta não é a maneira como o câncer se apresenta freqüentemente". Na hipótese de o dirigente cubano "estar sangrando" há dez dias, seria possível que esta operação tenha sido programada após uma constatação de "falta de glóbulos vermelhos", analisou Benhamou. "É raro ter um sangramento agudo por câncer de cólon", acrescentou ele.

Para um quase octogenário, este repouso é normal e necessário depois de uma operação, o que impede que se descubra a causa do problema. Segundo Benhamou, as hipóteses mais fortes são "tumor maligno, lesão benigna muito vascularizada, como angioma, e diverticulite".

Risco de mortalidade

A cirurgia a que o presidente de Cuba foi submetido nesta segunda-feira sugere que seu estado de saúde é "grave", segundo médicos americanos que afirmaram que é alto o nível de mortalidade neste tipo de intervenção em idosos.

"Ninguém sabe na realidade o que está acontecendo', disse Jorge Herrera, gastroenterologista de origem cubana da Universidade do Sul do Alabama. Segundo o especialista, "uma cirurgia em uma pessoa dessa idade é normalmente mais complicada".

"Se os médicos não conseguirem deter a hemorragia sem fazer a cirurgia, e tratando-se de uma pessoa da idade de Castro, o mais provável é que se trate de um divertículo do intestino grosso, pequenas bolsas que se formam na parede do intestino", explicou Herrera.

Ninh Nguyen, chefe da Divisão da Gastroenterologia da Universidade da Califórnia em Irvine, disse que câncer de estômago e câncer de cólon podem causar hemorragias.

"Se a hemorragia não tivesse sido abundante, não seria necessária a intervenção cirúrgica", afirmou Nguyen. "O fato de ter sido necessária a operação sugere que houve uma emergência."

Anthony Kalloo, chefe da Gastroenterologia no Instituto John Hopkins (Baltimore, Maryland), explicou que a hemorragia gastrointestinal pode ocorrer por condições que afetam a parte superior ou a parte inferior do aparelho digestivo.

"Caso se trate de uma afecção na parte superior, que inclui esôfago e estômago, pode ser úlcera ou varicose. As varicoses podem aumentar devido a um quadro de cirrose do fígado, e quando são muito grandes podem sangrar", acrescentou.

"Na parte inferior do trato digestivo, a hemorragia pode ser decorrência de uma diverticulite, muito comum nos pacientes em idade avançada", acrescentou Kalloo.

"Também pode ser uma isquemia mesentérica, que ocorre por uma diminuição da provisão de sangue no intestino grosso. As células do intestino morrem por falta de sangue, e depois ocorrem as hemorragias", acrescentou.

"Castro já tem quase 80 anos, e quando se chega a essa idade e é preciso recorrer à cirurgia para controlar o sangramento, há um estado grave", afirmou.





Fonte: Folha Online

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