Cubanos vivem primeiro dia sem Fidel no poder em 50 anos
"É uma sensação muito estranha, despertar pela primeira vez em 47 anos pensando que o homem que liderou a revolução entregou o poder", comentava nesta terça-feira um morador do bairro de Miramar, em Havana.
Milhões de cubanos tiveram uma sensação semelhante - mescla de surpresa e incerteza - a partir do momento em que ouviram na noite de segunda, atônitos, a mensagem que anunciava que Castro cedia provisoriamente suas funções ao seu irmão Raúl, apoiado pelos principais quadros do Partido Comunista de Cuba e do Governo.
O silêncio oficial mantido hoje na ilha sobre o estado de saúde de Fidel, e a falta de detalhes sobre o governo provisório encabeçado por Raúl, contribuem para o aumento da especulação que se iniciou na noite de segunda. Em sua versão online, o Granma, jornal do governo cubano, não se pronunciou a respeito. No site não há informações sobre a operação de Fidel e a transição do poder para seu irmão.
"Não é para menos, o assunto é muito grave. Para que um país como esse produza uma cessão temporal de poder pela primeira vez na história, é porque as condições devem ser ruins", disse um diplomata europeu.
O mais significativo, segundo um observador estrangeiro, "é que acabaram as dúvidas sobre quem tem um papel realmente importante no futuro deste país".
Governo provisório Raúl Castro, de 75 anos, é acompanhado em seu novo trabalho pelo vice-presidente Carlos Lage, de 55 anos, o chanceler Felipe Pérez Roque, de 41, e o presidente do Banco (central) de Cuba, Francisco Soberón, de 62.
Junto a eles estão três "pesos pesados" do birô político do Partido Comunista de Cuba: José Ramón Balaguer, de 74 anos, José Ramón Machado Ventura, de 76, e Esteban Lazo, de 62.
Na equipe liderada por Raúl, sucessor natural e legal, convivem representantes da "velha-guarda" e quadros mais jovens, embora com uma ampla experiência no governo e no Partido Comunista.
A grande incógnita, aponta outro diplomata ocidental, está nas características e na duração do período de Raúl Castro como interino.
"Raúl não tem a mesma personalidade que seu irmão, e muitos esperam que ele seja mais pragmático. Mas precisará de tempo", afirmou o diplomata.
A reação dos Estados Unidos, principal inimigo do regime cubano durante mais de quatro décadas, também influenciará a evolução dos fatos em Cuba, apontou outro observador europeu.
A calma que tem reinado em Cuba desde a noite da segunda-feira contrasta com o clima vivido em Miami, onde partidários de grupos anticastristas saíram às ruas com bandeiras e gritaram palavras de ordem contra o regime de Fidel.
"Por que não haveria normalidade aqui, se não aconteceu nada? Os que ficam nervosos são os de Miami. Aqui todos estamos tranqüilos porque está Raúl, que é como se ele (Fidel) estivesse", afirmou nesta terça-feira um morador do bairro de El Vedado.
"É lógico que o inimigo queira se aproveitar do mal do adversário mas eles também não devem ter muitas esperanças, porque a revolução não é de um homem só e este povo está preparado para tudo", disse um motorista na capital cubana.
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