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Repórter News - reporternews.com.br
Economia
Domingo - 30 de Julho de 2006 às 08:25

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Em 2002, o empresário Blairo Maggi, 50, maior produtor individual de soja do mundo, entrou na disputa majoritária faltando apenas três meses para as eleições. Pregando um novo jeito de fazer política, ousadia, transparência e honestidade, conseguiu desbancar o tucanato. Saiu vitorioso já no 1º turno, com 618.582 votos (50,6% dos válidos).

Agora, quatro anos depois, Maggi busca a reeleição. Avisa que não pretende mudar rumos do seu governo. "Vou disputar uma eleição de continuidade, sem propostas mirabolantes". Enfatiza que ele próprio se encarregará de explicar as razões pelo não cumprimento de 15% das promessas feitas em 2002. "Os nossos tumores, nós mesmo vamos estourá-los". O governador diz que traçará comparativos de sua gestão com a do PSDB, que comandou o Palácio Paiaguás por oito anos.

Maggi conta que não teme desgaste por ter no palanque com 13 partidos alguns políticos sob investigação, principalmente em relação à máfia dos sanguessugas. Observa que todos os grandes partidos têm algum filiado citado. Para ele, caberá ao eleitor fazer julgamento sobre cada candidato. Classifica seu palanque de consistente "porque a aliança vem sendo construída ao logo da administração" e acha até que os opositores PT e PSDB também deveriam apoiá-lo.

Quanto à sucessão presidencial, o governador disse que ficará neutro devido à tendência de enfrentar ataques dos candidatos Serys Marly (PT) e Antero de Barros (PSDB).

Maggi admite se licenciar do cargo na reta final da campanha por um período entre 15 e 30 dias. Aposta na vitória no 1º turno. O governador nega aumento da carga tributária, assegura ter priorizar Cuiabá com investimentos e contesta o adversário Antero, que o acusou de privilegiar a Assembléia com duodécimo elevado.

Depois dos entrevistados da semana Serys e Antero, A Gazeta abre espaço hoje para o governador Blairo Maggi.

A Gazeta - Com a morte de Dante de Oliveira, o PSDB aproveitou a comoção para dizer que o ex-governador foi injustiçado pelo sr. por ter feito acusações contra o antecessor. Nesta campanha, fará comparativos com o governo tucano?

Blairo Borges Maggi - O Dante não está aqui mais para responder os problemas do governo dele. Mas a história do PSDB continua. As coisas não se apagaram porque o Dante faleceu. As coisas boas do Dante estão aí e, a cada dia, mostradas, mas também os problemas do governo dele estão aí, não desapareceram. Dante não foi o único responsável pelo governo. O Antero participou o tempo inteiro do governo, foi até secretário e mais companheiros dele também. Não tem essa de dizer: "não pode falar do governo Dante!". Claro que vai se falar! Vamos respeitar a figura do Dante, a memória dele. Não tem que fazer ataques pessoais até porque ele não está mais aqui para se defender, mas as questões de governo serão levantadas sim e serão mostradas. As diferenças, o que nós avançamos. Certamente, o PSDB com o Antero de candidato vai querer fazer uma referência do governo do PSDB em relação ao governo Blairo Maggi. Vai vir comparação de lá para cá e também daqui para lá. A população precisa saber a forma do PSDB governador e a forma do PPS governar.

A Gazeta - O sr. construiu um palanque com 13 partidos. Neles estão políticos acusados de envolvimento em corrupção. Como vai lidar com esse tipo de situação?

Maggi - Primeiro, o meu palanque é consistente. Também não é um palanque construído da noite para o dia. Preciso chamar à memória. Fui um governador que abri o governo para todos os partidos. Acho que mais estranho ver todos nós juntos e ver o PT e o PSDB fora desse arco de aliança porque durante o meu governo todos participaram efetivamente. Tem pessoas indicadas trabalhando no governo e tiveram oportunidade de participar do palanque, não eleitoral, mas palanque de governo, com ações, inaugurações de rodovias, de casas, de colégios, participaram do Estradeiro, enfim, tiveram oportunidades de se manifestar junto com o governo. Esse palanque não tem nada de estranho porque foi construído há três anos. Agora, fizemos uma coligação de direito e de fato.

A Gazeta - E quanto às pessoas com nomes envolvidas nos escândalos e que estão no palanque do sr?

Maggi - Se formos olhar para os partidos, não poderíamos disputar a eleição. Não sobra ninguém. Olha a relação (de parlamentares acusados de envolvimento na máfia dos sanguessugas)? O próprio PPS, o meu partido, que até há 30 dias batia no peito para dizer que estava livre, tem dois na lista. A questão dos parlamentares cada um vai ter que se defender. Há acusação, mas não há condenação. A população é sábia. Se ela acha que o deputado x tem responsabilidade daquilo que está sendo colocado vai ser punido pelo voto.

A Gazeta - Afinal, o sr. apóia quem para a Presidência, Alckmin ou Lula?

Maggi - Não vou apoiar nenhum. Vou ficar neutro. O do PT tem uma candidata e, do PSDB, também tem um candidato a governador de MT. Eles vão querer explorar muita coisa, inclusive com invenção (contra o atual governo). Como é que pode um governador ir para um debate com esses candidatos, ver no programa de TV deles ataques ao nosso governo e eu defendendo o meu governo e mostrando os defeitos deles em nível estadual e federal e, depois, com que cara em termino o meu programa dizendo: "agora você vota no 45 ou você vota no 13!". Seria um negócio esdrúxulo, muito incoerente. Se o PSDB não tem apoio do governador Blairo Maggi hoje isso se deve ao PSDB estadual. Eu disse claramente ao presidenciável Alckmin que eu o apoiava, mas fiz uma condição: de não ter em MT um candidato que venha confrontar com a gente. O que eu pedi para não fazer, eles fizeram. Então, tô fora e avisei ao Alckmin. No segundo turno é outra história. Minha posição nesse momento é de neutralidade e a minha coligação vai andar do jeito que ela quiser. Se alguns quiserem o Alckmin ou o Lula podem, mas eu estarei neutro. Meu voto é secreto e ninguém vai ver.

A Gazeta - Pensa em se licenciar do cargo para se dedicar integralmente à campanha à reeleição?

Maggi - Não está decidido, mas também não está descartado. Temos que acompanhar os acontecimentos. Depois das 17 horas, já posso publicamente sair pedindo votos. É isso que vou fazer. No interior será nos finais de semana e, durante a semana, a campanha se concentrará dentro de Cuiabá. Se for licenciar, vai ser de 15 a 30 dias para dar uma rodada a mais pelo interior e até para pegar um pouco mais o gosto da campanha.

A Gazeta - Na campanha de 2002, o sr destacou como mote a transparência, ousadia e um novo jeito de fazer política. E agora, qual é o foco na busca de um novo mandato?

Maggi - Continuo com os mesmos princípios que me trouxeram até aqui. Não vejo que vou fazer um governo novo, mudar rumos. Estou num rumo que creio ser bom para o Estado. Vou disputar uma eleição de continuidade. A população vai ter de julgar se Blairo Maggi foi um bom governador e se ele merece uma nova oportunidade para ficar mais quatro anos. Não vou fazer propostas mirabolantes de mudar tudo. A minha política é de manutenção, de avanços e de continuar as reformas que estamos fazendo, crescendo na questão da infra-estrutura, na geração de emprego e renda, na transformação da matriz econômica do Estado. Estamos trabalhando há quatro anos nesse sentido, assim com o governo passado. Ninguém ficou parado. Todos sempre tiveram a intenção de fazer MT verticalizado nas posições que temos. No nosso governo atraímos para cá grandes indústrias que estão sendo instaladas e, com tempo, elas vão substituir praticamente a arrecadação que temos hoje no setor primário direto.

A Gazeta - Trabalha para ganhar no primeiro turno?

Maggi - Com certeza. A expectativa é essa. Ganhamos da outra vez no primeiro turno e, não que eu queira ser presunçoso, mas agora este governo tem serviço prestado à sociedade.

A Gazeta - O sr. tem afirmado que cumpriu 85% das promessas de campanha. É por isso que considera merecedor da reeleição?

Maggi - Quando se faz plano de governo, principalmente para o primeiro mandato, não se conhece exatamente como é a máquina pública. Quem está de fora tem a impressão que o governo pode quase tudo. Acha que toma decisões conforme as necessidades e os compromissos. Na realidade, não é isso que acontece. Para o governador ou presidente ou outros ocupantes de cargos no Executivo também existem regras, padrões e limites. Não se pode fazer o que quer, mas sim o que é permitido. Acho que 85% das promessas da agenda foram cumpridas, acima da média. O que restou, boa parte não poderá ser feita, mesmo num outro governo, porque são coisas difíceis de serem realizadas. Talvez necessidade de uma outra estrutura do Estado, num outro momento. Vamos avaliar o que dos 15% podemos trazer de volta para o plano de governo e o que efetivamente não vamos fazer. Vamos ser muito claro com a sociedade. Os nossos tumores, nós mesmo vamos estourá-los.

A Gazeta - Incluiria nos 15% de promessas não cumpridas a proposta de redução da carga tributária?

Maggi - Esse é o principal ponto que vai ser discutido, a questão da carga tributária na energia e telefonia. Cumprimos parte dela, porque a venda de telefones a cartão, que era de 30% de ICMS, baixamos para 25%. Só não conseguimos reduzir para os telefones fixos. Na parte da energia, cabe uma explicação e farei isso durante a campanha, mostrando que a nossa carga tributária está na faixa de 21% hoje. Em torno de 39% dos consumidores de MT não pagam energia, enquanto os mais ricos, que são 2,9% da população, pagam 30% ou, como a conta é feita por dentro, dá quase 42%.

A Gazeta - Por que não reduziu a alíquota de ICMS sobre energia? Alguém poderia ser penalizado?

Maggi - Exatamente. Se fosse fazer justiça tributária, teríamos que elevar o custo de energia para os mais pobres e reduzir para os mais ricos. Só que estaríamos fazendo justiça tributária e não justiça social. Tem diferença grande de 2002, quando o custo da energia era bastante alto, para hoje, com custo menor. Para se ter idéia, quando houve privatização da Cemat, a energia do Estado de MT era a segunda mais cara do Brasil e hoje é a 45ª mais barata entre as 60 distribuidoras de energia.

A Gazeta - Então, o governo recorrerá aos números para contrapor a oposição, que cobrará promessas não cumpridas?

Maggi - Sim, os números são bastante claros e vamos colocá-los à disposição. Cito como exemplo o caso do consumidor que paga 10% de ICMS sobre energia. Ele paga menos ICMS ao governo do Estado do que se paga de taxa de iluminação pública em Cuiabá para se ter luz no poste.

A Gazeta - A oposição insiste na tese de que o governo do sr não tem priorizado Cuiabá?

Maggi - É exatamente o contrário. Durante os quase quatro anos de governo, fizemos muitos convênios com a Prefeitura de Cuiabá, quer seja com o ex-prefeito Roberto França quer seja com o prefeito Wilson Santos. Tivemos um cuidado especial na questão do patrimônio público, que foram revitalizados e recuperados. Fizemos investimentos na área de saúde, de asfaltamento das vias de ônibus. Essa tentativa de querer dizer que o governador não é cuiabano, que não gosta de Cuiabá, é uma questão política e vai ser tratado como questão política. Eu já vi adesivos na rua escritos "cuiabano vota em Blairo Maggi" e é cuiabano de tchapa e cruz. A população já entendeu qual é a forma que eu trabalho, da dedicação. Boa parte dos investimentos do governo do Estado é aplicada dentro de Cuiabá.

A Gazeta - Os candidatos de oposição Antero de Barros e Serys Marly têm dito que o governo do Estado constrói rodovias mais por interesses pessoais, para beneficiar o Grupo André Maggi, do qual o sr é diretor-presidente?

Maggi - Isso não tem sentido, é mais uma provocação. Rodovias que o Estado tomou posição sozinho de construir são Brasnorte-Juína. É uma rodovia extremamente importante para toda a região Noroeste. A pavimentação do trecho Cuiabá-Acorizal-Jangada, que fica pronta daqui até outubro, será a rodovia da vida. Estamos fazendo o asfaltamento de Santo Antonio de Leverger a Barão de Melgaço. Estamos fazendo Chapada dos Guimarães ao Gardeis. Ligamos Itiquira à BR-163, uma rodovia que estava parada há 18 anos. Fizemos Canarana à BR-158 com recursos próprios. Reformamos praticamente todas as rodovias estaduais também com recursos próprios. Eu não tenho nenhuma fazenda nessas áreas. No caso dos consórcios rodoviários, quem decide são os produtores, que pagam a conta, através do Fethab e da participação de até 50% na parceria. A força econômica da região escolhe e define o trecho que será asfaltado. Aí o governo coloca metade dos investimentos.

A Gazeta - Empresas do Grupo Amaggi estão nessas regiões?

Maggi - A empresa Amaggi (do Grupo André Maggi) tem armazéns nessas rodovias que foram asfaltadas porque elas sempre foram rodovias de escoamento da produção dessas regiões e não só a Amaggi, como a Cargill, Bunge, ADM, Encomind e traders (comerciantes de grãos) de todo mundo que compra soja no Estado de MT, tem os armazéns nas linhas de saída. Isso é estratégico. Você não vai colocar um armazém receptor do lado de trás de onde está a produção. O único consórcio rodoviário que o Grupo André Maggi participou é o que liga Sapezal a Campo Novo do Parecis, exatamente o contrário dos interesses do Grupo, que tem interesse na saída para Porto Velho (RO). Então, é pura provocação e quem insistir com esse tipo de coisa vai perder votos.

A Gazeta - O candidato Antero diz que o sr privilegia a Assembléia com aumento do repasse do duodécimo e que até já se transformou em escravo do legislativo?

Maggi - Em 2002, quando o PSDB governava, foram repassados à Assembléia mais de R$ 150 milhões. Se fôssemos corrigir pelo IGP-DI, referência para o nosso orçamento, a Assembléia deveria estar recebendo hoje entre R$ 250 milhões a R$ 300 milhões. O orçamento da AL para este ano é de R$ 135 milhões e para o próximo ano estão previstos R$ 112 milhões. Então, a gente vem reduzindo o duodécimo gradualmente. Esse é um compromisso da própria AL de se ajustar ao longo do tempo. Assim como o senador Antero quer passar menos dinheiro para a AL eu também quero. Hoje, o repasse é de 1,99% da receita corrente líquida, enquanto em 2002 correspondia a 6,67%. Diferente do que disse Antero, quem reduziu os repasses para a AL foi o governo Maggi.





Fonte: Gazeta Digital

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