A segunda chance de Alan García
Tem início amanhã a "segunda era" do líder do histórico Partido Aprista Peruano (PAP).
García modernizou sua imagem com um discurso próximo à social-democracia européia e à esquerda "light" da América Latina, alinhando-se, por exemplo, com o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e a chilena Michelle Bachelet. Mesmo assim, seu novo Governo começa inevitavelmente sob a sombra da desastrosa experiência dos anos 80.
Naquela ocasião, ele assumiu o poder com apenas 36 anos, e acabou soterrado pelos estilhaços do momento mais crítico da sangrenta guerra interna provocada pelo grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, por denúncias de corrupção e por uma inflação na casa dos 7.000% ao ano.
Desde então, o país foi sacudido por uma década de Governos de Alberto Fujimori, marcados pelo liberalismo econômico, uma saraivada de casos de corrupção e uma boa dose de autoritarismo, por uma tortuosa transição e pelo mandato de Alejandro Toledo, que entrega o poder nesta sexta-feira com a macroeconomia de vento em popa, mas sem conquistar apoio popular.
Agora, García retorna à Casa de Pizarro (sede da Presidência) com o desafio de demonstrar que não é simplesmente um "mal menor", como pensou boa parte dos eleitores que, em 4 de julho, votaram nele para evitar uma vitória do ex-comandante nacionalista Ollanta Humala.
Nascido em 23 de maio de 1949 e batizado como Alan Gabriel Ludwing García Pérez, o futuro presidente peruano formou-se em Direito pela Universidade de San Marcos de Lima, doutorou-se na Complutense de Madri e ampliou estudos na Sorbonne, em Paris.
Retornou ao Peru em 1978 e integrou a Assembléia Constituinte que redigiu a Carta Magna de 1979. Depois foi deputado por Lima e, em 1982, tornou-se secretário-geral do PAP, o que catapultou sua candidatura à Presidência em 1985.
Como governante, viveu dois anos de lua-de-mel com o povo, com medidas como a restrição ao pagamento da dívida externa, a rejeição aos organismos multilaterais, a redução de despesas militares e a limitação das importações.
O ponto de inflexão aconteceu em 1987, quando tentou nacionalizar os bancos, o que gerou uma onda de protestos liderados pelo escritor conservador Mario Vargas Llosa.
Um dos momentos mais polêmicos do Governo García foi o massacre de mais de 200 presos em três cadeias de Lima, em 1986, como resposta a um motim de supostos terroristas.
Saiu do Governo pela porta dos fundos da política, com a imagem totalmente desprestigiada.
Após as eleições de 1990, vencidas por Alberto Fujimori, foi nomeado senador vitalício. Pouco depois, entretanto, foi acusado de enriquecimento ilícito e responsabilizado pelo chamado "massacre das prisões".
Em 1992, depois de um "autogolpe" aplicado por Fujimori, passou à clandestinidade e partiu para o exílio, na Colômbia e na França.
A Corte Suprema de Justiça declarou, em 2001, a prescrição dos delitos, o que permitiu que Alan García disputasse as eleições daquele ano, nas que foi derrotado por Toledo.
Retornou ao cenário político nas eleições de 9 de abril, quando passou para o segundo turno junto a Humala. Graças em grande medida ao voto útil provocado pela grande rejeição suscitada pelo líder nacionalista, vencedor do primeiro turno, impôs-se nas urnas em 4 de junho e garantiu sua volta à Casa de Pizarro.
Casado em segundas núpcias com a argentina Pilar Nores e pai de quatro filhas e um filho, Alan García é vice-presidente honorário da Internacional Socialista e autor de vários livros.
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