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Cidades/Geral
Quarta - 26 de Julho de 2006 às 20:40

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As queimadas na Amazônia já começam a despontar nas manchetes dos jornais e telejornais do país, prenunciando que este ano a devastação da maior floresta tropical do planeta pode ser uma das mais elevadas, caso os órgãos ambientais não comecem a agir para evitar a ação do fogo.

O Jornal Nacional, da TV Globo, anunciou nesta segunda-feira que o país já registrou 14 mil focos de incêndio, com o Estado do Mato Grosso assumindo a ponta da devastação, com 4,3 mil focos. Em 21 de junho passado, a Kaxiana anunciava que Mato Grosso registrava 129 focos de fogo. Portanto, em apenas 34 dias, este estado, que foi campeão das queimadas no ano passado, passou a queimar 33 vezes mais.

O telejornal também anunciou que São Paulo é o estado que mais tem chamado a atenção dos pesquisadores neste início de estiagem, passando a ficar em segundo lugar no número de focos de incêndio. Em 21 de junho, o estado paulista também se encontra na segunda colocação, apresentando 83 focos de incêndio.

O noticiário alertou também que, no Tocantins, a preocupação em relação à devastação provocada pelo fogo diz respeito aos prejuízos ecológicos do Parque Estadual do Jalapão, uma área de preservação ambiental que há dois anos teve 80% de suas riquezas vegetais consumidos pelas chamas.

A preocupação dos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que mede as queimadas por imagens de satélites, já é grande quanto aos prejuízos irreversíveis que o fogo pode causar às áreas de conservação ambiental.

O pesquisador Alberto Setzer concedeu entrevista dizendo que “se você pegar o dia de hoje, você vai encontrar mais de uma dúzia de unidades de conservação, com parques nacionais, florestas nacionais, estações ecológicas, onde o fogo está ocorrendo, acabando com o patrimônio ambiental e ecológico muito importante para todos nós”.

Além das queimadas, a preocupação dos cientistas e das autoridades marítimas amazônicas se volta agora para a perspectiva de que 2006 seja outro ano de grande seca na Amazônia, onde a população, a fauna e a flora foram muitos castigados durante a seca recorde do ano passado.

No final de junho, por exemplo, o primeiro alerta sobre seca no rio Madeira, um dos principais afluentes do grande rio Amazonas, foi dado pela Delegacia Fluvial de Rondônia, ao informar que o nível das águas do rio já era de 7,44 metros, pouco superior aos 7,28 metros alcançados na mesma data do ano passado.

O nível alcançado pelo rio, segundo o delegado fluvial Carlos Eduardo Guimarães, representava perigo para as grandes embarcações que trafegam nos trechos considerados críticos, que passam pelas localidades de Belmont, Tamanduá, Bom Jardim, Capitari, Curicacas, Pombal, Abelhas e Papagaios, onde existem muitas pedras e paliteiros, como são chamados os troncos de árvores mortas.

Nas regiões dos altos rios amazônicos, a preocupação também é uma constante em relação a uma nova grande seca na região. O pesquisador Evandro Ferreira, da Universidade Federal do Acre, por exemplo, já alertou que a comparação dos dados de precipitação pluviométrica acumulada em 2006 e 2005 indica a possibilidade de ocorrer uma seca severa na região Leste do estado acreano.

“Se as chuvas na região não voltarem aos níveis normais nos próximos meses, a seca deverá ser mais grave do que a verificada em 2005, o ano da grande seca amazônica”, dizia o pesquisador em maio passado.

Em outubro do ano passado, no auge da seca no Amazonas, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) detectaram a mortandade de peixes-bois e botos nas regiões de Coari e Tefé.

Esses animais tornaram-se presas fáceis nas malhadeiras (redes) dos ribeirinhos porque as águas do rio Amazonas estavam muito baixas. As populações de varias regiões do Amazonas tiveram que ser socorridas com água e comida, distribuídas pela Defesa Civil.

Em plena seca do ano passado, ativistas da organização não-governamental Greenpeace visitaram e documentaram algumas das áreas mais afetadas no Amazonas. “A visão é dramática: grandes rios, lagos e várzeas atingiram seu nível mais baixo em muitas décadas e, agora, não passam de pequenos córregos de lama.

Lugares onde comunitários costumavam usar barcos e canoas como único meio de transporte, agora podem simplesmente passar andando ou de bicicleta. Grandes barcos estão presos no barro seco, que costumava ser o leito dos rios.

Milhares de peixes mortos atraem urubus, transformando a paisagem em um grande cemitério a céu aberto. Cidades e comunidades completamente dependentes dos rios estão totalmente isoladas, padecendo com a falta de remédios, combustível, água potável e comida”, relataram os ativistas.

Em depoimento ao Greenpeace, Paulo Artaxo, cientista da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que o desmatamento e as queimadas afetam a formação de nuvens de chuvas, o que diminui a precipitação sobre a Amazônia.

Metereologistas do Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia) argumentaram à organização que as altas temperaturas no Oceano Atlântico, que levaram à formação de fortes furacões como o Katrina e Rita, podem estar mudando a circulação do ar sobre a Amazônia, inibindo a formação de chuvas.

“Estima-se que, em algumas décadas, este efeito perverso do desmatamento pode ser irreversível e a floresta amazônica pode desaparecer. Se a Amazônia perder mais de 40% da sua cobertura florestal, nós atingiremos um ponto onde será impossível reverter o processo de savanização da maior floresta tropical do mundo”, alertou Carlos Nobre, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e presidente do Programa Internacional Geosfera Biosfera (IGBP).





Fonte: kaxiAna

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