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Nacional
Terça - 25 de Julho de 2006 às 17:17

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O presidente da Bolívia, o socialista Evo Morales, acusou hoje a Igreja Católica de atuar como na época da Inquisição, por rejeitar seu plano de educação laica no país. "Estou muito preocupado com o comportamento de alguns hierarcas da Igreja Católica; atuam como nos tempos da Inquisição", declarou Morales aos jornalistas.

O primeiro presidente indígena do país atiçou desta maneira a polêmica surgida nos últimos meses entre o Executivo de La Paz e a hierarquia eclesiástica.

O centro da discórdia é o plano governamental de oferecer aos estudantes a possibilidade de escolher a religião ou culto que queiram aprender nos colégios, rompendo a supremacia do catolicismo.

A posição das autoridades ficou visível em um projeto de lei resultante de um controvertido congresso educativo realizado há duas semanas na cidade de Sucre, capital oficial da Bolívia, e que foi abandonado pelos delegados da Igreja.

Segundo o último censo da população, feito no ano 2001, 56% dos bolivianos professam habitualmente a fé católica, 36% a religião evangélica e 6,83% outros tipos de cultos de origem cristã.

No entanto, o estudo mostra também que 77% dos cidadãos consideram a religião católica "pertinente", enquanto 90% disseram que a professavam quando criança.

"Somos católicos, vamos respeitar o catolicismo, vamos respeitar a religião como uma matéria (disciplina escolar). Temos que evitar a ostentação de poder", afirmou Morales.

Nesta segunda-feira, o ministro da Educação da Bolívia, Félix Patzi, tachou de mentirosa a hierarquia eclesiástica que, na sua opinião, propaga a versão de que a educação laica destruirá a instituição religiosa.

"Estão dizendo que nós vamos destruir a Igreja, suas crenças. Que falso! Senhores, não mintam ao povo, digam toda a verdade", disse Patzi.

O ministro, de origem aimara como Morales, acusou os hierarcas católicos de estarem ao lado dos ricos "há 514 anos", em alusão ao tempo transcorrido desde a conquista da América.

Em entrevista publicada na última edição da revista "Pulso", de La Paz, Patzi afirmou que não tem medo da Igreja Católica em sua cruzada para reformar a educação boliviana.

"É ao povo a quem se deve temer", declarou.

O senador do Movimento Ao Socialismo (MAS) Antonio Peredo pôs hoje em dúvida a existência de algumas festividades católicas, como o Corpus Christi e Todos os Santos.

"A Semana Santa me parece ser uma data que deveria ser mantida", da mesma forma que o Natal, afirmou Peredo.

O ministro do Trabalho, Alex Galvez, sustentou que a eventual supressão destas festas é algo que deverá ser analisado pelos integrantes da Assembléia Constituinte, que deve ser instalada em 6 de agosto, em Sucre.

Na assembléia, o MAS possui 139 dos 255 integrantes, necessitando do apoio de outros 31 constituintes para conseguir os dois terços de votos necessários para aprovar uma nova Carta Magna.

O confronto entre o Executivo e a Igreja teve um novo capítulo na sexta-feira, quando a ministra de Governo (Interior), Alicia Muñoz, acusou uma paróquia católica de proteger dois paraguaios acusados de participarem do seqüestro e homicídio da filha do ex-presidente Raúl Cubas, e atualmente procurados pela Polícia boliviana.

No domingo passado, o cardeal boliviano, Julio Terrazas, pediu aos fiéis católicos que defendam sua religião e os criticou por terem uma atitude passiva frente ao projeto governamental.

Nenhum membro da cúpula eclesiástica, no entanto, se pronunciou sobre as últimas declarações de Morales.

As associações de pais de família da cidade de Santa Cruz realizarão, nas próximas horas, uma passeata para defender a postura da Igreja.





Fonte: EFE

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