Cuiabanos fogem da guerra no Líbano e retornam a Mato Grosso
A comitiva de parentes à espera no aeroporto internacional Marechal Rondon era grande. Os descendentes de libaneses que moram em Mato Grosso afirmam que oraram muito pelos que estão voltando e pelos parentes que ainda estão no meio da guerra.
“Nós estamos mais tranqüilos por eles estarem aqui, mas nós ainda temos muitos familiares lá. Meu sogro, minha sogra, tem muita gente lá ainda”, disse a dona de casa Chadia Mahfouz, enquanto aguardava o pouso do avião que traria parentes do Líbano. Enquanto o avião não chega, o empresário Ahmed Jassim fica agitado e apreensivo. “Fico alegre. Eu estava muito preocupado. Agora, graças a Deus, eles vão chegar e tenho mais uma filha que ainda não veio pra cá”, frisou o empresário.
Os quatro passageiros aparecem no local de desembarque e logo são cercados pelos parentes. Fátima Mahfouz, filha de Ahmed, é a mais emocionada. Ela conta como foram os dias que antecederam a partida dela e dos filhos para o Brasil. “Moro em Beirute. Na primeira noite do bombardeio no aeroporto, praticamente perto da nossa casa, a noite inteira havia helicópteros sobrevoando, bombardeando”, diz Fátima. Ela revela os momentos de tensão que passou ao fugir dos bombardeios. “Subimos para as montanhas, quando estou chegando na nossa casa nas montanhas, abro a porta e cai uma bomba perto da casa. Saí correndo com as crianças e fui para a casa da minha cunhada em outra cidade. Ficamos dois dias tranqüilos e no terceiro dia começaram os bombardeios ao redor. Peguei as crianças e fomos embora para a Síria. Ficamos lá três dias até conseguir embarcar para cá”, relata Mahfouz.
Entre os cerca de 300 brasileiros que já deixaram o Líbano, a família Mahfouz faz parte de um grupo atípico. Conseguiu voltar para o país com os próprios meios, sem precisar recorrer à ajuda do governo brasileiro. “Na Síria eu fui à Embaixada, falei com o cônsul, que nos atendeu muito bem. Ele falou que estava esperando o Brasil mandar ajuda, mas que era pra gente também procurar, se tivesse condições, de outra maneira”, concluiu Fátima.
Para os recém-chegados, há a disposição de recomeçar a vida. No entanto, isso não significa que eles vão permanecer no Brasil por muito tempo. Dois dos filhos de Fátima, por exemplo, pretendem voltar para o Líbano para completar os estudos. “Eu ainda quero ir para lá. Vou esperar um pouco e tentar ir para lá quando terminar tudo”, disse Chade Mahfouz. “Se Deus quiser, em dois meses tudo vai ficar melhor para a gente voltar”, completou Samar Mahfouz. Mesmo com o coração apertado, o avô apóia a decisão. “Tomara que tudo volte ao normal, tomara”.
O governo federal informou que até sexta-feira pretende trazer de volta 1.500 brasileiros que vivem na zona de conflito entre Israel e o Líbano.
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