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Repórter News - reporternews.com.br
Nacional
Segunda - 24 de Julho de 2006 às 05:15

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Acostumado a distribuir presentes e a ser uma espécie de Papai Noel de delegados da Polícia Federal, oferecendo presentes para receber favores, o advogado Tarcísio Pelúcio já teve seu momento de glória natalina.

Sua luxuosa casa na Tijuca - onde foram encontrados documentos da PF e US$ 30 mil na Operação Cerol, sexta-feira - recebeu o prêmio da Prefeitura do Rio de melhor decoração natalina, em 2003, e virou atração turística, sendo mostrada até em TVs européias. Na época, sua mulher, a agente de viagens Sheila Pelúcio, disse que toda a produção foi artesanal. Como prêmio, o casal Pelúcio assistiu à queima de fogos de Copacabana em área VIP com autoridades.

A boa-vida, porém, começou a ruir no início do ano. A nomeação do novo superintendente da PF no Rio, Delci Carlos Teixeira, em abril, caiu como uma bomba sobre o grupo que dominava a instituição e que teve 17 integrantes presos sexta-feira.

Gravações telefônicas autorizadas pela Justiça mostram que o empresário Paulo Henrique Villela Pedras e Pelúcio não pouparam esforços para evitar a nomeação de Delci e manter no cargo José Milton Rodrigues, acusado de favorecer advogados e empresários nos inquéritos policiais em troca de presentes e regalias.

Ontem, a reportagem mostrou, com exclusividade, trechos da decisão da juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara Criminal Federal, na qual aparecem negociações entre delegados e Pelúcio para favorecer seus clientes. Segundo a investigação, empresários pagaram até prostitutas e bebidas a policiais como retribuição de favores.

Em outra parte do documento, a juíza registra que Paulo Henrique marcaria viagem a Brasília para pedir pessoalmente ao senador Renan Calheiros para que intercedesse a favor de José Milton. "De fato as articulações políticas de Pelúcio e Paulo Henrique para manutenção de José Milton no cargo foram intensas, abrangendo desde pedidos junto ao presidente do Senado Federal e deputados federais até a tentativa de contatos com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF)", relata a magistrada, referindo-se a Ricardo Teixeira.

As conversas foram interceptadas em março, um mês antes da posse de Delci. Nelas, Pelúcio - depois de reunião de duas horas na superintendência com o diretor executivo Roberto Prel e José Milton - avisa ao empresário ter recebido alerta do próprio superintendente de que seu substituto chegaria "para botar fogo no circo". Desesperado, o advogado chegou a vasculhar seus cartões de visita para ver quem poderia ajudá-lo.

Festa no Jockey Pelúcio, que só chamava José Milton de "chefe", disse ao empresário que procuraria, em São Paulo, um amigo do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para impedir a mudança.

Como não foi bem-sucedida nas articulações, a dupla passou a arquitetar como cooptaria o novo superintendente a participar do esquema. "Apesar de ele ser linha-dura, é meio vaidoso", arriscava Pelúcio, que propôs realizar a posse de Delci no Jockey Club, mesmo lugar onde ocorreu a de José Milton, há dois anos. Como vice-presidente do clube e sócio da cervejaria Itaipava, Paulo Henrique trataria dos detalhes da festa. A cerimônia, porém, aconteceu na superintendência, na Praça Mauá.

Reunião dá novo rumo a inquéritos De acordo com a denúncia da juíza, no dia 10 de fevereiro, uma reunião entre os delegados José Milton Rodrigues, Roberto Prel e o então chefe da Delegacia de Combate a Crimes Financeiros (Delefin), Paulo Baltazar, resultou numa repentina mudança na distribuição de 44 inquéritos. Entre os nomes citados naquelas investigações estariam o de algumas pessoas "do âmbito de relacionamento de Tarcísio Pelúcio", como o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, e Antônio Joaquim Peixoto de Castro, do grupo controlador da Refinaria de Manguinhos.

Segundo o documento, a lista "estaria relacionada à rumorosa investigação Banestado/Farol da Colina/conta Beacon Hill", escândalo descoberto em 2003, no qual US$ 30 bilhões foram enviados ilegalmente para o Exterior através do banco paranaense.

Um mês antes, gravação da PF mostra Tarcísio Pelúcio dizendo a Paulo Henrique que perguntaria ao "chefe" José Milton o que havia chegado à Delefin. Em 11 de fevereiro, Baltazar pôs sob sua responsabilidade 44 inquéritos.

Com o delegado Jairo Kullmann, responsável pela seção de precatórios da PF, Pelúcio teria acertado até perguntas e respostas de investigados, como o ex-ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, e membros do grupo Peixoto de Castro. Montenegro não foi encontrado para comentar e Pratini negou conhecer Pelúcio ou ter recebido cartas precatórias.




Fonte: O Dia Online

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