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Internacional
Sexta - 21 de Julho de 2006 às 23:20

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Os Tribunais Islâmicos da Somália convocaram hoje uma guerra santa para lutar contra as tropas etíopes que, segundo testemunhas, invadiram o país e que, aparentemente, estão dirigindo-se para Mogadíscio. "A Etiópia quer colonizar o povo somali e nós não aceitaremos isso", afirmou o líder da União de Tribunais Islâmicos, Sheikh Sharif Sheik.

Um número indeterminado de soldados etíopes a bordo de aproximadamente 100 veículos foram vistos nesta quinta-feira por habitantes da cidade de Baidoa, 245 quilômetros ao noroeste de Mogadíscio, sede do Governo de transição.

Embora tanto o Governo da Etiópia como o da Somália sigam negando esta presença, testemunhas confirmaram hoje que as tropas etíopes se encontram em seis posições diferentes nos arredores de Baidoa.

"Estão em três lugares da periferia sul de Baidoa (...), nas proximidades do aeroporto e na estrada que conduz a Mogadíscio", disse à Efe uma das testemunhas, que preferiu não se identificar.

Abdi Abdule Said, um parlamentar do clã do presidente Abdullahi Yousef Ahmed, foi além e assegurou que as tropas etíopes estão se deslocando para Mogadíscio, que desde o dia 6 de junho está controlada pelos Tribunais Islâmicos.

"Os etíopes estão dirigindo-se em direção a Mogadíscio para ocupar todo o país", afirmou o parlamentar, também conhecido como Jini Boqor.

"A presença de etíopes na Somália não servirá para proteger o Governo e significará o seu fim", insistiu o parlamentar.

O movimento dessas tropas rumo a Mogadíscio foi confirmado à Efe também por moradores do setor de Bur Hakaba, em Baidoa, e por um assistente social que estava chegando à cidade pela estrada que a liga com a capital do país.

A Somália vive em meio ao caos desde a derrubada do ditador Mohammed Siad Barre em 1991, o que abriu uma luta entre os "senhores da guerra", vinculada agora também aos milicianos dos Tribunais Islâmicos.

A Etiópia já advertiu previamente que invadiria a Somália se os milicianos islâmicos chegassem a Baidoa, que fica entre Mogadíscio e a fronteira com a Etiópia. O Governo de Adis-Abeba teme que a expansão do islamismo na Somália chegue a seu território.

Testemunhas insistem que a presença de soldados etíopes em Baidoa deixou de ser secreta, porque soldados uniformizados realizam patrulhas pela cidade, entrando e saindo livremente de Baidoa, que está sob o toque de recolher decretado pelo primeiro-ministro, Ali Mohammed Ghedi.

O jornalista de uma emissora de rádio local, Saynab Abukar Mohammed, disse que as tropas etíopes possuem 160 caminhonetes equipadas com metralhadoras e outros veículos blindados, incluindo tanques.

A presença de soldados etíopes foi o tema que dominou as orações de hoje em Mogadíscio.

"A Somália está ocupada. A Etiópia capturou o país e os líderes maléficos de Baidoa estão ajudando na ocupação da capital", disse Sheikh Omar Salgai, importante líder religioso em Mogadíscio.

Depois das orações de sexta-feira, mais de 500 veículos percorreram as ruas dos arredores de Mogadíscio em uma tentativa dos líderes islâmicos de pedir à população que se una à "jihad" (guerra santa) contra as tropas estrangeiras.

Os habitantes de Mogadíscio começavam a recuperar-se dos combates contra milicianos islâmicos e os "senhores da guerra", que até então dominavam a capital, ocorrido entre fevereiro e junho, que deixou mais de 400 mortos.

Agora, influenciados pelas mensagens dos Tribunais Islâmicos, muitos estão dispostos a incorporar-se a uma luta que até então era evitada.

"Eu não participei da guerra civil, mas agora estou preparado para a ''jihad'', porque a Etiópia não pode nos ajudar", afirma Abdulrashid Omar, de 34 anos.

Por outro lado, muitos estão cansados de viver em conflito. "Desde 1991 tive que deslocar-me a mais de 15 lugares em diferentes regiões e agora não sei aonde ir", disse Muslimo Afrah Nour, mãe de onze filhos.




Fonte: EFE

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