OMC retoma negociações, como queria o Brasil
Vários negociadores, entre eles o chanceler brasileiro, Celso Amorim, seguiram na tarde desta segunda-feira a Genebra, onde devem se sentar novamente à mesa de negociações.
A nova rodada de conversações, recebida com surpresa, foi convocada após o tema ter sido amplamente discutido nos últimos três dias em São Petersburgo, durante a reunião de cúpula do G8.
A retomada das negociações da chamada Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio foi anunciada pelo governo brasileiro como o principal objetivo da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou da reunião como convidado.
O tema do comércio, que não fazia parte da agenda oficial da cúpula, acabou sendo incluído entre os principais temas discutidos durante a reunião.
Impasse
As negociações para a Rodada de Doha encontram-se em um impasse há vários meses, apesar da urgência de terminá-las até o final deste ano, para que o acordo possa ser aprovado durante a vigência do chamado fast track, que permite ao presidente dos Estados Unidos assinar acordos comerciais sem a necessidade de aprovação ponto por ponto pelo Congresso.
No mês passado, uma reunião envolvendo os mesmos negociadores que voltam a se reunir nesta segunda-feira em Genebra não foi suficiente para superar o impasse, apesar de declarações de todos os lados de que o tempo estava se esgotando para um acordo.
Além do chanceler brasileiro, também devem estar em Genebra negociadores de Estados Unidos, União Européia, Japão, Índia e Austrália.
Amorim viajou a Genebra de carona no avião que levava a secretária de comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab. Ambos estavam em São Petersburgo acompanhando os presidentes de seus países durante a cúpula do G8, da qual o Brasil participou como um dos países convidados.
Objetivo principal
Desde a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a São Petersburgo, na noite de sexta-feira, o governo brasileiro vinha insistindo que a retomada das negociações da Rodada de Doha era seu maior objetivo durante a reunião.
Lula aproveitou todas as oportunidades que teve para destacar a importância de um acordo.
Segundo declarou em uma entrevista coletiva na noite de domingo, o presidente considerava que o impasse nas negociações era político, não econômico, e que portanto seria necessária uma decisão política dos principais líderes mundiais para a retomada do diálogo.
Nesta segunda-feira, durante encontro bilateral pela manhã com George W. Bush, Lula cobrou do presidente americano uma posição, dizendo estar convencido de que chegara o momento “de tomarmos uma decisão política, qualquer que ela seja”.
Em seu discurso durante a reunião dos líderes do G8 com os países em desenvolvimento convidados para a cúpula, Lula voltou a tocar no assunto, sugerindo que o mundo precisa de um acordo comercial global para conseguir acabar com a fome e a miséria.
‘Chirac tem que ceder’
Após o encerramento oficial da cúpula, em uma curta conversa com o presidente russo e anfitrião do encontro, Vladimir Putin, Lula disse que a ausência de um acordo na OMC seria “um retrocesso para os países mais pobres do mundo”.
Em tom de brincadeira, Lula disse ainda a Putin que estava otimista de que o presidente francês, Jacques Chirac, cederá um pouco para permitir um acordo.
Por conta dos altos subsídios concedidos aos seus agricultores, a França é considerada um dos maiores entraves a um acordo.
Apesar da aparente vitória da posição brasileira na cúpula, não se sabe se a decisão de convocar uma nova reunião em Genebra foi uma conseqüência direta dos esforços brasileiros.
A saída de Amorim de São Petersburgo não foi divulgada pelo governo brasileiro, e a nova reunião acabou sendo anunciada somente por outros países envolvidos nas negociações.
O presidente Lula não fez declarações após sua reunião com Putin, de onde seguiu diretamente ao aeroporto Pulkovo para embarcar de volta a Brasília.
Comentários