Governos são omissos no atendimento às vítimas
O título - "E na violência contra a mulher, o Estado mete a colher?" - denuncia justamente a omissão dos governos no atendimento às vítimas violentadas.
Ela, que integra o Núcleo Interinstitucional de Estudo da Violência e da Cidadania (Nievci), investigou que até mesmo a Delegacia da Mulher de Cuiabá, criada por lei em 1985 e instalada em 1986, se deu mais por modismo político do que avanço social.
"Eu analisei a mensagem enviada à Assembléia Legislativa e as atas das discussões em dias em que a matéria foi votada. Encontrei absurdos. Um deputado chegou a dizer que a necessidade de uma delegacia especializada tem base no fato de que os homens são mais esquentados mesmo e que, por isso, perdem o controle se forem chateados por elas, que as mulheres provocam a fúria masculina e que muitos agem em legítima defesa. É uma anomalia", irrita-se.
Até mesmo movimentos de mulheres à época, reproduzindo o comportamento machista, requisitavam creches e resistiam à criação da delegacia, diz a professora.
Um delegado chegou a confessar que tinha muitos sequestros para resolver e faltava a ele tempo para resolver briga de marido e mulher.
"A delegacia da mulher começou a funcionar em prédio precário, com mesas velhas e computadores descartados", pontua a pesquisadora.
Se desde então até hoje houve avanços, na avaliação dela, se devem à ação individual de todas as delegadas que por ali passaram.
A cada 15 segundos uma mulher sofre violência no país. Levando em conta a subnotificação, é possível supor o tamanho do problema.
Vincular este drama apenas a mulheres da periferia é um erro, para Vera Betolini, por se tratar de uma das questões mais democráticas pois atinge todas as classe, raças, credos.
O que ocorre, segundo ela, é que as mais pobres denunciam mais, por não ter nada a perder. "A maioria mascara os fatos com desculpas. As ricas vão para o maquiador".
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