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Nacional
Quinta - 13 de Julho de 2006 às 20:00

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O reinício dos ataques do crime organizado no Estado de São Paulo, nesta semana, mostra a resistência das quadrilhas ao contra-ataque policial iniciado há dois meses e indica que pode haver mais violência pela frente.

Mas, segundo especialistas em segurança ouvidos na quinta-feira, o Estado não tem alternativa senão rejeitar as exigências dos criminosos e transferir líderes detidos das penitenciárias superlotadas para prisões de segurança máxima, isolando-os de seus companheiros.

O Primeiro Comando da Capital (PCC), responsabilizado pela pior onda de violência a atingir o Estado, que ocorreu em maio, deflagrou uma nova investida. Foram 106 ataques desde a noite de terça-feira, matando sete pessoas. Dezenas de ônibus foram incendiados, e vários bancos e prédios públicos foram alvejados.

"Não estávamos esperando uma nova onda de ataques, e é assustador, porque os bandidos mostraram que podem continuar", disse Mariana Montoro, diretora do Instituto Sou da Paz, voltado para a segurança pública. Cerca de 200 pessoas morreram desde os incidentes de meados de maio, inclusive dezenas de policiais e mais de cem suspeitos.

"A violência aumentou porque os criminosos querem evitar as transferências. Mas vemos mais benefícios que prejuízo, se a atual estrutura das quadrilhas nas cadeias for desmantelada e os líderes forem transferidos. Esperamos que as autoridades não cedam à pressão cada vez maior", disse ela.

Há duas semanas, o governo federal inaugurou um novo presídio de segurança máxima em Catanduvas, no Paraná, e há especulações nas prisões paulistas sobre quem será transferido para lá. Isso, segundo os especialistas e autoridades de segurança, desencadeou os novos ataques.

O coronel José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública, disse esperar uma outra onda de violência, "possivelmente gigantesca", ainda antes das eleições de 1º de outubro. "O Estado ainda tem de tomar uma medida forte. Transferir, isolar, acompanhar os líderes de alta periculosidade", afirmou.

Isso, segundo os especialistas, tem de ocorrer junto com um trabalho de inteligência policial para evitar a comunicação entre líderes detidos e os criminosos do lado de fora, especialmente por celulares, e para prevenir novos ataques.

Embora reconheçam a força do PCC nos presídios paulistas, os especialistas dizem que a organização é vulnerável a mudanças de comando, pois disputas internas e situações caóticas normalmente acontecem depois que os chefões são mortos ou isolados.

"Sua base não é feita de concreto, mas de palha, e tem madeira seca ao redor. Não é impossível de desmembrar. O problema é que há tão pouco controle que uma faísca pode botar fogo em tudo", disse Montoro.

Segundo ela, o principal problema subjacente é a falta de condições humanas para os detentos comuns nos presídios superlotados, o que leva muitos a buscarem ajuda do PCC para "coisas tão simples como ter uma refeição quente ou uma cama", pois o grupo atua como uma espécie de "sindicato" nas prisões.

Há 140 mil detentos no Estado. Segundo o coronel José Vicente da Silva, uma prisão média, feita para 870 presos, já bem acima da capacidade 300-500 recomendada na maioria dos países, na verdade tem 1.200 detentos.





Fonte: Reuters

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