Em Catanduva, até conversa de Arcanjo será gravada
Nessa prisão, Arcanjo vai ficar em uma cela individual e lá foram instaladas câmeras de televisão disfarçadas, com espectrômetros e com raio-X. Contato com outros presos é algo impossível, se cumprida as regras da nova penitenciária. E quando ele quiser conversar com um agente penitenciário, por exemplo, o diálogo será gravado.
A penitenciária federal foi criada para abrigar criminosos de alta periculosidade, que comprometam a segurança dos presídios, que possam ser vítimas de atentados ou que estejam em Regime Disciplinar Diferenciado.
O presídio paranaense tem capacidade para 208 presos em celas individuais, divididas em quatro módulos. Advogados, visitantes e funcionários serão submetidos a todos os procedimentos de segurança antes de entrarem na unidade. Além de Arcanjo, devem seguir para essa penitenciária o traficante número 1 do país, o conhecido Fernandinho Beira-Mar.
Duzentos e cinqüenta agentes penitenciários federais se revezarão nas guardas interna e externa. A comunicação deles com os presos só será permitida em caso de extrema necessidade e as conversas serão gravadas por microfones de lapela.
Durante a formatura da primeira turma de agentes penitenciários federais no final de maio, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que o presídio fará uma revolução no sistema penitenciário brasileiro.
Outras quatro penitenciárias serão construídas no Brasil: em Campo Grande, do Mato Grosso do Sul; em Mossoró no Rio Grande do Norte; em Porto Velho, Rondônia e no Espírito Santo. Cada unidade tem um custo médio de 20 milhões de reais.
Como é hoje
João Arcanjo ficou um ano e 11 meses preso em Montevidéu, capital uruguaia. Lá tinha certas regalias, como receber visitas todos os dias e conversava com os advogados quando quisesse.
No Cárcere Central, situada no coração da capital uruguaia, Arcanjo era mantido em cela reservada, mas o contato com outros presos não era proibido. O cárcere uruguaio abriga estrangeiros e ainda os condenados por crimes financeiros no Uruguai. Lá não ficava sentenciado por crimes violentos, por exemplo.
Transferido para Cuiabá em 11 de março desse ano, Arcanjo perdeu as regalias. Ficou isolado e cercado por ao menos 60 policiais militares. Suas visitas foram regradas e nem um televisor pode ser instalado em sua cela.
Há um pedido ainda não definido pela Justiça Federal em que Arcanjo pede a instalação de um televisor, um freegobar e ainda visita íntima. Agora, com sua transferência, a condição do encarcerado deve piorar. No início, ele só vai poder falar com o advogado. Aqui em Cuiabá ele tem recebido visita da filha e do genro.
João Arcanjo foi preso com a mulher, Sílvia Chirata, em abril de 2003. Ficaram em presídios situados em cidades diferentes: ele, em Montevidéu e ela, em Florida, cidade distante 100 quilômetros da Capital. Arcanjo viu a mulher uma vez enquanto preso, durante uma audiência judicial.
Agora, segundo ele, Sílvia casou-se de novo e vive em Montevidéu, com os dois filhos menores. Sílvia foi condenada no Brasil a 25 anos de prisão por conta de ligação com os crimes financeiros praticados pelo marido. Ela foi solta no ano passado e, se ficar o resto da vida no Uruguai, não vai para a prisão. Se vir para Cuiabá, por exemplo, terá de cumprir a sentença. Arcanjo já foi condenado a 49 anos de prisão e ainda responde por 6 processos por ser acusado de mandar matar seis pessoas.
A transferência
Era certa a transferência de João Arcanjo para um presídio de Brasília, marcada para amanhã de manhã. Decisão da Justiça Federal determinava a recondução do bicheiro em 24 horas. De Brasília, Arcanjo seria levado para Catanduva, a penitenciária federal. Ocorre que o advogado dele, Zaid Arbid entrou com recurso pedindo a permanência de Arcanjo em Cuiabá.
A Justiça aceitou, mas a medida é provisória e Arcanjo deve seguir logo para o Paraná. É a Secretaria de Justiça e Segurança Pública que pede a transferência de Arcanjo. O secretário Célio Wilson disse que o governo está gastando muito e disponibilizando uma tropa inteira só para cuidar da segurança do prisioneiro.
Ao menos 60 homens da elite da Polícia Militar mato-grossense atuam hoje como agentes penitenciários e cumprem plantão diário aos arredores da cela de Arcanjo, preso na Pascoal Ramos, unidade prisional de Cuiabá.
Comentários