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Emergentes dominam cenários de 2006 a 2015
A produção agrícola mundial deverá apresentar taxas menores de crescimento entre 2006 e 2015 do que na década anterior, mas o aumento esperado será fortemente influenciado pelo comportamento das economias dos países emergentes e pela disseminação de culturas como matérias-primas para a fabricação de biocombustíveis. Para o Brasil, talvez essa seja o principal recado do "Agricultural Outlook 2006-2015", feito pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pela Agência para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) e divulgado ontem.
As projeções de oferta, demanda e preços apontadas no estudo pressupõem a continuidade de um clima macroeconômico em geral favorável, com firmes crescimentos econômicos tanto nos países reunidos na OCDE quanto nos emergentes mais importantes, como China, Índia e Rússia. Nações muito dependentes dos agronegócios, como Brasil e Argentina, também deverão avançar, até como um reflexo do projetado incremento da demanda por grãos e carnes em outros mercados. O trabalho ressalva que as perspectivas favoráveis à economia mundial dependem de fatores como os déficits gêmeos dos EUA e do aperto monetário no Japão e na zona do euro.
Com uma taxa de crescimento populacional global calculada em 1,1% na próxima década, que resultaria em 7,2 bilhões de consumidores em 2015, e menos distorções ao comércio provocadas por subsídios e tarifas protecionistas, a produção e o consumo de proteínas vegetais e animais deverão crescer mais nos países que não fazem parte da OCDE do que nas nações incluídas no grupo - desenvolvidas, em sua maior parte. No caso das oleaginosas, entre as quais a soja é o carro-chefe, a produção fora da OCDE deverá saltar 3,3% ao ano, em média, na próxima década; no universo da organização, a alta prevista é de 0,6% ao ano. Já o consumo deverá subir 3,1% ao ano fora da OCDE e 1,4% dentro dela.
Bom para o Brasil, conforme o "Agricultural Outlook". Hoje, EUA, Brasil e Argentina representam 80% das exportações mundiais de oleaginosas, e os embarques brasileiros são menores apenas que os americanos. Até 2015, a expectativa é que o Brasil passe a liderar esse ranking. Na exportação de óleo de soja, o país deverá seguir atrás da Argentina, e a China continuará como o principal importador de oleaginosas no futuro traçado por OCDE e FAO, responsável pela metade das importações globais no fim do horizonte projetado. Para as cotações médias desses produtos, o cenário aponta altas nominais anuais médias - US$ 271,50 por tonelada em 2015/16, ante US$ 252,80 na média das últimas cinco safras -, mas sinaliza perdas reais.
Em outro ranking, o do açúcar, a liderança brasileira parece inabalável. O país já responde por cerca de 40% das exportações globais do produto, e o domínio tende a crescer, em parte em virtude da queda dos subsídios na União Européia e apesar da febre do álcool. Mas os embarques brasileiros deverão crescer, em média, 4% ao ano até 2015, ante 12% na década passada. A demanda dos emergentes por açúcar tende a aumentar com o desenvolvimento econômico, mas ainda assim está evidente para os autores do trabalho que as cotações da commodity não permanecerão no atual patamar. Nas últimas cinco safras, a tonelada do açúcar demerara saiu, em média, por US$ 192,20, valor que deverá chegar a US$ 385,80 em 2006/07 antes de desabar para US$ 263,50 em 2015/16. Ruim para o Brasil.
O estudo de OCDE e FAO também ressalta a crescente importância brasileira no mercado mundial de carnes, com exportações mais vultosas - o país já encabeça as listas dos maiores exportadores de carne bovina e de frango - e presença em um número cada vez maior de países, em uma diversificação de mercados também destacada em outros segmentos. Nesse campo, contudo, doenças como "vaca louca", febre aftosa e gripe das aves tornam-se desestabilizadores de mercados cada vez mais importantes, pelos reflexos na oferta e na demanda mundiais.
As projeções para o consumo global de carnes conduzem a um avanço puxado pela pujança econômica dos emergentes, e para valorizações nominais (ver gráficos). Também sugerem maior demanda por rações, o que tende a elevar importações de farelo e fechar um círculo favorável ao Brasil. Por essas e outras, OCDE e FAO concluem, categoricamente, que "particularmente Brasil, Índia e China estão se transformando no novo epicentro de forças que delineiam a produção e o comércio agrícola mundial".
Fonte:
Valor Onlaine
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