Seleção teve acesso a dados sigilosos de arbitragem no Mundial
Na véspera de enfrentar a França, ao comentar a escalação do espanhol Luis Medina Cantalejo para apitar o jogo, Carlos Alberto Parreira disse que o juiz era o líder de um ranking técnico elaborado pela Fifa para avaliar árbitros da Copa.
Ao ter dito aquilo, Parreira mostrou que sabia o que nenhum treinador, jogador ou árbitro, em tese, poderia saber.
Coincidência ou não, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, é vice-presidente do Comitê de Arbitragem da Fifa, além de integrar o Comitê Executivo.
"Analisamos cada jogo dos árbitros e lhes damos pontos, mas é impossível que o sr. Parreira saiba da pontuação. É algo interno, a que nem os juízes têm acesso, eles não têm idéia de seu ranking. Como o técnico brasileiro poderia saber? É estranho", disse à Folha Andreas Werz, porta-voz da Fifa.
Alegando sigilo, ele não confirmou se o dado de Parreira era verdadeiro, mas admitiu que Cantalejo (responsável pelo pênalti inexistente em favor da Itália contra a Austrália) era um dos mais bem avaliados --a Fifa julgou que houve pênalti.
A assessoria da CBF disse que a entidade não recebeu os dados e que Parreira poderia ter tido acesso a eles por meio de alguém da Fifa. O ranking citado pelo técnico é importantíssimo, pois a partir dele é definido quem apitará os jogos. Os juízes recebem notas de 1 a 10 em itens como interpretação das regras do jogo, desempenho físico e cartões dados.
É um procedimento obscuro até entre os juízes. Ontem o alemão Markus Merk se irritou ao ser questionado pela Folha sobre o tema. Disse desconhecer a existência da avaliação e, ante a insistência da reportagem, encerrou a entrevista.
O ranking técnico é elaborado pelo Comitê de Arbitragem, mas, segundo a Fifa, Teixeira não dá nota aos árbitros. Conforme a definição dos próprios juízes, há, no órgão, "políticos" e "técnicos". O brasileiro pertence ao primeiro grupo, assim como o presidente do comitê, o espanhol Angel María Villar.
O porta-voz Andreas Werz disse que Teixeira tem um papel ativo no Comitê de Arbitragem. Nesta Copa, contou, visitou o hotel dos árbitros várias vezes, conversou com eles e tem participado das reuniões que definem quem apita qual jogo. Já na concentração brasileira, sua presença foi rara.
Na Copa de 94, nos EUA, o cartola disse que não se ganha uma Copa só dentro de campo. Proferiu a frase após a vitória sobre a Holanda nas quartas-de-final, na qual o Brasil foi beneficiado pela arbitragem.
É uma seara, aliás, da qual a seleção não tem do que se queixar. Neste Mundial, a mãozinha dos juízes ao time se fez presente. A maior foi no jogo contra a Gana, nas oitavas, quando teve um gol de Adriano em impedimento e o árbitro eslovaco Lubos Michael pediu a camisa de Ronaldo, fato que revoltou os rivais, mas que ontem a Fifa reafirmou ter considerado normal. "Não há o menor problema. Existe um ex-árbitro holandês que tem 600 camisas de atletas", disse Werz.
Contra a França, a mãozinha reapareceu. Na primeira etapa, Juan derrubou Vieira, quando o francês partia em direção ao gol. Levou só amarelo. Na cobrança da falta, a bola bateu na mão de Ronaldo, que estava na área. O juiz deu nova falta, e não pênalti. Pouco adiantou.
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